18.04.2013 Views

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

personagem, foi calçar os sapatos “escolhidos” para a sua Virginia, como relata Kidman em<br />

resenha de Abou­Jaoude sobre As Horas:<br />

Tenho essa mania de ´encontrar´ minhas personagens em pe<strong>que</strong><strong>no</strong>s detalhes. Num<br />

primeiro estágio ´encontrei´ Virginia num par de sapatos ...Mais tarde, veio a idéia do<br />

diretor de alterar minha fisio<strong>no</strong>mia com uma prótese <strong>no</strong> meu nariz,...Com os vestidos,<br />

o cabelo, o nariz, a voz diferente, a caligrafia e o pigarro de tanto fumar, Virginia<br />

ocupou minha epiderme.” (2003, p.E 1)<br />

Segundo Iser: “Para alcançar a determinação de uma figura irreal, o ator tem de se<br />

irrealizar. Por este motivo a reali<strong>da</strong>de de seu corpo de despotencializa em um análogo, para<br />

<strong>que</strong>, por este, uma configuração irreal ganhe a possibili<strong>da</strong>de de sua aparência real” (2002, p.<br />

979).<br />

No seu texto “A personagem cinematográfica”, Paulo Emílio Sales Gomes comenta<br />

<strong>que</strong> enquanto a personagem <strong>no</strong> romance é constituí<strong>da</strong> de palavras, <strong>no</strong> cinema a personagem é<br />

antes de qual<strong>que</strong>r coisa uma escolha de um diretor, para <strong>que</strong> este encarne, com to<strong>da</strong> sua<br />

totali<strong>da</strong>de e mobili<strong>da</strong>de, e <strong>que</strong> lhe dê uma existência, pois o roteiro não tem status: “A<br />

personagem de ficção cinematográfica, por mais fortes <strong>que</strong> sejam suas raízes na reali<strong>da</strong>de ou<br />

em ficções pré­existentes, só começa a viver quando encarna<strong>da</strong> numa pessoa, num ator”<br />

(CANDIDO, 2002, p.114). Paulo Emílio salienta <strong>que</strong> esse ponto revela­se num profun<strong>da</strong><br />

ambigüi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> personagem cinematográfica. Se o ator for um desconhecido torna essa<br />

ambigüi<strong>da</strong>de me<strong>no</strong>r, mas se o ator é famoso, eles já se constituem em personagens <strong>da</strong><br />

imaginação coletiva (2002, p.114). Talvez essa <strong>que</strong>stão expli<strong>que</strong> um pouco a crítica <strong>que</strong> o<br />

personagem de Mrs. Woolf recebeu. A atriz Nicole Kidman já é uma atriz famosa, fazendo<br />

parte desse contexto quase mitológico de <strong>que</strong> fala Paulo Emílio, e a armadilha <strong>da</strong> prótese do<br />

“nariz de cera” pode ter se revelado como um resultado inverso do previsto, ou seja, ao invés<br />

de uma Virginia Woolf encarna<strong>da</strong>, o público viu a sua personagem particular e já construí<strong>da</strong><br />

(des)familiariza<strong>da</strong>.<br />

Assim como <strong>no</strong> livro, o filme As Horas se inicia com um “Prólogo” <strong>que</strong> narra o<br />

suicídio de Woolf. Dados biográficos revelam <strong>que</strong> Virgínia tentou suicídio por mais de uma<br />

vez, e <strong>que</strong> na vi<strong>da</strong> real foi assim <strong>que</strong> morreu. Sua morte “de ver<strong>da</strong>de” <strong>no</strong> filme é uma <strong>da</strong>s<br />

cenas mais tocantes, não só pela interpretação magnífica de Nicole Kidman, mas pela<br />

seqüência de imagens entre as águas cau<strong>da</strong>losas do rio Ouse, e a trilha minimalista e repetitiva<br />

de Phillip Glass.<br />

A Seqüência do Prólogo se apresenta com a indicação do lugar e <strong>da</strong>ta “Sussex­<br />

England 1941, onde na ver<strong>da</strong>de a escritora Virginia viveu e morreu. Logo em segui<strong>da</strong> temos

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!