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que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

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ter muitas referências culturais, e na sua maioria, referências à vi<strong>da</strong> nas ci<strong>da</strong>des. Cunningham<br />

menciona <strong>no</strong>mes de artistas de cinema: Meryl Streep e Vanessa Redgrave (protagonistas de<br />

As Horas e Mrs. Dalloway respectivamente); referência à arte moderna através <strong>da</strong> pessoa do<br />

fotógrafo Robert Mapplethorpe e dos poemas de Louise Blück; temos o mundo dos objetos e<br />

do consumo e o binômio beleza x dinheiro; as doenças modernas – Aids e Câncer de Mama;<br />

a contraposição <strong>da</strong> cultura erudita e popular; a House Music, as sandálias étnicas, os gays<br />

eternamente jovens...,a lembrança, a memória <strong>da</strong>s coisas banais, mas <strong>que</strong> perfazem o mundo<br />

rápido e imagético contemporâneo.<br />

Assim como a Mrs. Dalloway de Woolf, a Mrs. Dalloway de Cunningham também<br />

perambula pela ci<strong>da</strong>de, “[...] Clarissa, simplesmente tem prazer em olhar, sem nenhum<br />

motivo, as casas, a igreja, o homem e o cachorro” (CUNNINGHAM, 1998, p. 17). Sua<br />

inserção nessas an<strong>da</strong>nças não mais se constitui como um momento de libertação como a<br />

ci<strong>da</strong>de significava para Mrs. Woolf. Ela tão pouco procura um quarto de hotel, para se decidir<br />

entre a vi<strong>da</strong> e a morte. Mrs. Dalloway não pode evitar pensar <strong>no</strong> passado, mas ela pisa <strong>no</strong><br />

presente. Essa ci<strong>da</strong>de, <strong>que</strong> lhe oferece os bens de consumo: cafeteira italiana, panelas de<br />

cobre, abajures, roupão de flanela, lojinha <strong>que</strong> vendia se<strong>da</strong> para enrolar baseado, delicatessen,<br />

bazares árabes, incensos, poeira fecun<strong>da</strong>, enfim coisas <strong>que</strong> personificam os pe<strong>da</strong>ços <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

pós­moderna, perfazendo um bairro de simulacros e cópias, “O bairro, hoje em dia, é uma<br />

imitação de si mesmo, um carnaval aguado para turistas...”, turistas alemães e japoneses<br />

típicos <strong>da</strong> invasão multi­racial dos dias de hoje, e <strong>que</strong> as lojas continuam vendendo as mesmas<br />

coisas: “camisetas de suvenir, berlo<strong>que</strong>s de prata, ja<strong>que</strong>tas de couro baratas”, mas <strong>que</strong> as<br />

pessoas continuam vivendo suas vi<strong>da</strong>s. Há em to<strong>da</strong>s essas referências uma indicação à<br />

valoração dos objetos, já <strong>que</strong> Clarissa menciona <strong>da</strong> sua maneira de surpreender­se frente à<br />

obra de arte, <strong>que</strong> “continua através dos tempos, de forma absoluta e total, e ser o <strong>que</strong> sempre<br />

foi”. Chega ela mesma a citar a palavra “aura”, quando se refere à “aura <strong>da</strong> fama” quando<br />

comenta a imortali<strong>da</strong>de de uma estrela de cinema. 22<br />

Clarissa percebe, <strong>no</strong> entanto <strong>que</strong>, esse mundo de auras agora se opõe, através <strong>da</strong><br />

descrição do prédio onde Richard mora, e <strong>que</strong> ela visita­o diariamente, com flores e carinho.<br />

Cenário esse <strong>que</strong> agora, assim como Richard, vítima <strong>da</strong> Aids, se vê “esquálido”, esfumaçado,<br />

e de paredes desbota<strong>da</strong>s de um bege amarelado, e um mundo <strong>que</strong> fora de algum prestígio, se<br />

22 O filósofo alemão Walter Benjamim, <strong>no</strong> seu famoso texto “A obra de arte na era de sua reprodutibili<strong>da</strong>de<br />

técnica”, reflete sobre a Aura: “A autentici<strong>da</strong>de de uma coisa é a quintessência de tudo o <strong>que</strong> foi transmitido pela<br />

tradição, a partir de sua origem, desde sua duração material até o seu testemunho histórico.... O <strong>que</strong> é a aura? É<br />

uma figura singular, composta de elementos espaciais e temporais: a aparição única de uma coisa distante, por<br />

mais perto <strong>que</strong> ela esteja. (BENJAMIM, 1994, p. 168­170)

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