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que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

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The history of England is the history of the male line, <strong>no</strong>t of the female. Of our fathers<br />

we k<strong>no</strong>w always some fact, some distinction. They were soldiers or they were sailors;<br />

they filled that office or they made that law. But of our mothers, our grandmothers,<br />

our greatgrandmothers, what remains? Nothing but a tradition. One was beautiful; one<br />

was red­haired; one was kissed by a Queen. We k<strong>no</strong>w <strong>no</strong>thing of them except their<br />

names and the <strong>da</strong>tes of their marriages and the number of children they bore<br />

(WOOLF, 1979, p.44). 19<br />

Com essas palavras Woolf já definia a experiência <strong>feminina</strong> como uma experiência<br />

subjetiva<strong>da</strong>, difícil de medir ou testar, como tão bem definiu ain<strong>da</strong> <strong>no</strong> mesmo texto: “...but<br />

their lives are far less tested and examined by the ordinary processes of life. Often <strong>no</strong>thing<br />

tangible remais of a woman´s <strong>da</strong>y. The food that has been cooked is eaten; the children that<br />

have been nursed have gone out into the world” (WOOLF, 1979, p. 49­50) 20 . E essa<br />

experiência invisível <strong>da</strong>s mulheres é o <strong>que</strong> se concretiza na tradição proclama<strong>da</strong> por Woolf,<br />

quando afirma <strong>que</strong> “pensamos retrospectivamente através de <strong>no</strong>ssas mães quando somos<br />

mulheres...” (WOOLF, 2004, p.85)<br />

No caso de As Horas, essa retrospecção acontece na linhagem <strong>feminina</strong> através dos<br />

séculos. Com uma diferença <strong>que</strong> na representação <strong>da</strong> mulher moderna, personifica<strong>da</strong> na figura<br />

de Clarissa Vaughn, teremos um <strong>mergulho</strong>, uma epifania, um salto. Salto esse talvez já<br />

previsto por Woolf quando falou <strong>da</strong> atribuição à mulher do poder de exercer sua liber<strong>da</strong>de de<br />

escolha: “Vou <strong>da</strong>r­lhe to<strong>da</strong> a liber<strong>da</strong>de....de escolher qual será essa situação; ela poderá<br />

construí­la com latas de conservas e chaleiras velhas, se quiser, mas terá de convencer­me <strong>que</strong><br />

acredita tratar­se de uma situação; e então quando a tiver criado, terá de enfrenta­la. Terá de<br />

saltar” (WOOLF, 2004, p. 90).<br />

Talvez, a Clarissa de Michael Cunningham seja a mulher desconheci<strong>da</strong>, a descendente<br />

<strong>da</strong> Clarissa Dalloway de Woolf, cuja tradição herdou suas características e tradições, mas <strong>que</strong><br />

tor<strong>no</strong>u real o <strong>mergulho</strong> na vi<strong>da</strong> ao invés <strong>da</strong> morte como <strong>no</strong> caso <strong>da</strong> personagem Mrs. Woolf,<br />

ou <strong>da</strong> própria Virginia; ou ain<strong>da</strong> de um outro <strong>mergulho</strong> não me<strong>no</strong>s doloroso, o <strong>da</strong> fuga sem<br />

rastros de Mrs. Brown. E dessas tradições e descendências, a poeta/cronista gaúcha Martha<br />

Medeiros já na contemporanei<strong>da</strong>de, teceu poesia sobre essa herança <strong>que</strong> teve <strong>que</strong> ser<br />

transforma<strong>da</strong>:<br />

19 A história <strong>da</strong> Inglaterra é uma história de uma linhagem masculina, e não <strong>feminina</strong>. Dos <strong>no</strong>ssos pais sempre<br />

sabemos algum fato, alguma distinção. Eles foram sol<strong>da</strong>dos ou navegadores; trabalharam em escritórios ou<br />

fizeram as leis. Mas <strong>da</strong>s <strong>no</strong>ssas mães, <strong>da</strong>s <strong>no</strong>ssas avós, <strong>da</strong>s <strong>no</strong>ssas bisavós, e tataravôs, o <strong>que</strong> ficou? Na<strong>da</strong>,<br />

somente uma tradição. Uma era lin<strong>da</strong>; outra tinha o cabelo vermelho; uma outra foi beija<strong>da</strong> pela Rainha. Não<br />

sabemos na<strong>da</strong> delas a não ser os seus <strong>no</strong>mes e as <strong>da</strong>tas dos seus casamentos e número de quantos filhos tiveram.<br />

20 ...”Mas as suas vi<strong>da</strong>s eram muito me<strong>no</strong>s testa<strong>da</strong>s e examina<strong>da</strong>s pelo processo <strong>no</strong>rmal <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Fre<strong>que</strong>ntemente,<br />

na<strong>da</strong> de tangível permanece em um dia de uma mulher. A comi<strong>da</strong> <strong>que</strong> foi feita, já foi comi<strong>da</strong>; as crianças as<br />

quais foram cui<strong>da</strong><strong>da</strong>s já partiram para o mundo”.

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