18.04.2013 Views

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Essa técnica ­ fluxo de consciência ­ tão utilizado por Woolf e também por James<br />

Joyce, foi um celeiro fértil para a utilização desse diálogo inter<strong>no</strong> de um único falante.<br />

Através <strong>da</strong> personagem de Mrs. Dalloway, Woolf vai trabalhar todo o tempo com essa voz<br />

dupla, principalmente <strong>no</strong>s passeios de Mrs. Dalloway, ou <strong>no</strong>s momentos em <strong>que</strong> esta faz uso<br />

dos monólogos interiores. O mesmo acontece com as três personagens de As Horas, Mrs.<br />

Woolf, Mrs. Brown e Mrs. Dalloway. Para Bakhtin, todo esse foco na alteri<strong>da</strong>de, e na<br />

polifonia, e <strong>no</strong> discurso de voz dupla, parte do princípio de <strong>que</strong> não existe uma Língua to<strong>da</strong><br />

sua, e <strong>que</strong> nenhuma interpretação é completa, uma vez <strong>que</strong> to<strong>da</strong> e qual<strong>que</strong>r palavra acontece<br />

enquanto uma resposta à outras palavras, como também abre caminhos para futuras<br />

interpelações. Graham Allen cita Bakhtin para tentar definir esse “entre lugar” fronteiriço <strong>da</strong><br />

Língua: “language for the individual consciousness, lies on the borderline between oneself<br />

and the other. The word in language is half someone else´s” (2000, p.28). 28<br />

Virginia Woolf, de uma certa forma também se antecipou às teorias <strong>da</strong><br />

intertextuali<strong>da</strong>de, quando define as estratégias narrativas “[...] like a vast nest of Chinese<br />

Boxes all of wroght steel turning ceaselessly one within a<strong>no</strong>ther” (YOUNG, 2003, p. 35).<br />

Essa idéia de atrelar a ficção às caixinhas chinesas 29 , aonde uma vai saindo de dentro <strong>da</strong> outra,<br />

corrobora sua frase de <strong>que</strong> “[...] os livros continuam uns aos outros”, se antecipando assim<br />

como uma matriz teórica para o romance As Horas, de Michael Cunningham; uma caixa<br />

chinesa <strong>que</strong> faz parte de uma só cadeia e rede de textos (textos, autores, personagens,<br />

conflitos). Com esse movimento de elo e conexão, Woolf já teorizava sobre a inseparabili<strong>da</strong>de<br />

de vi<strong>da</strong> e ficção e o papel do inconsciente em ambas, como define numa citação clássica do<br />

seu texto teórico sobre a ficção moderna, “Modern Fiction”: “ Life is <strong>no</strong>t a series of gig­lamps<br />

symmetrically arranged; life is a lumi<strong>no</strong>us halo, a semi­transparent envelope surrounding us<br />

from the beginning of consciousness to the end” (Norton anthology, 1986, p. 1996). 30<br />

No <strong>que</strong> diz respeito às <strong>que</strong>stões do sujeito, Virginia Woolf também <strong>que</strong>stio<strong>no</strong>u o<br />

universalismo do sujeito iluminista quando dizia: [...] if two sexes are quite inadequate,<br />

considering the vastness and variety of the world, how should we manage with one only?[…]<br />

(MINOW­ PINKNEY, 1987, p. 9). 31<br />

28<br />

[...] língua para a consciência individual, se encontra na fronteira entre um e outro. A palavra na lingua é<br />

metade de outro.<br />

29<br />

Como um ninho vasto de caixinhas de ferro chinesas se mexendo incansavelmente uma dentro <strong>da</strong> outra<br />

30<br />

A vi<strong>da</strong> não é uma série de lampejos simetricamente arranjados; a vi<strong>da</strong> é como um halo lumi<strong>no</strong>so, um envelope<br />

semi­transparente <strong>que</strong> <strong>no</strong>s cerca do início ao fim <strong>da</strong> <strong>no</strong>ssa consciência.<br />

31<br />

Se dois sexos já são bastante inadequados quando se considera a imensidão e diversi<strong>da</strong>de do mundo, como<br />

poderíamos li<strong>da</strong>r só com um?

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!