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que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

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Talvez ao escolher morrer <strong>no</strong> rio, Virginia estivesse à procura dessa simbiose entre a<br />

palavra <strong>da</strong> água com a sua própria palavra. Nas palavras de Bachelard “Dos quatro elementos,<br />

somente a água pode embalar. É ela o elemento embalado... Ele embala como uma mãe.... A<br />

água leva­<strong>no</strong>s. A água embala­<strong>no</strong>s. A água adormece­<strong>no</strong>s. A água devolve­<strong>no</strong>s à <strong>no</strong>ssa mãe.”<br />

(2002, p.135).<br />

Virginia Woolf perdeu a mãe aos 13 a<strong>no</strong>s e nunca se recuperou totalmente dessa<br />

ausência materna, “[...] ela me obcecou até os meus 44 a<strong>no</strong>s.” Depois ela também explica, <strong>que</strong><br />

só com a escrita obceca<strong>da</strong> e rápi<strong>da</strong> do romance To the lighthouse, é <strong>que</strong> perdeu a obsessão<br />

pela mãe (WOOLF, 1985, 94­95). E talvez já consciente dessa per<strong>da</strong> e <strong>da</strong> beleza <strong>que</strong> Virginia<br />

tem do seu período <strong>da</strong> infância, é <strong>que</strong> ela vai descrever esse lugar, como um <strong>espaço</strong> de uma<br />

“catedral”. É nesse santuário, materializado através do colo <strong>da</strong> sua mãe, <strong>que</strong> aparece sua<br />

primeira recor<strong>da</strong>ção. Um colo <strong>que</strong> Virginia re­lembra como uma cena: o arranhar <strong>da</strong>s pérolas,<br />

do vestido, sua risa<strong>da</strong>, o anel de opala, <strong>da</strong> sua figura pela casa, com uma vela sombrea<strong>da</strong>, <strong>da</strong>s<br />

coisas boas “arco­íris e si<strong>no</strong>s” (1985, p.95).<br />

O vestido <strong>da</strong> mãe de Woolf é sempre uma referência nas suas memórias, como uma<br />

primeira recor<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> mãe, “[...] É de flores vermelhas e roxas num fundo preto – o vestido<br />

de minha mãe”. Essas flores vermelhas e roxas, aparecerão <strong>no</strong>vamente quando ela fala de<br />

lugares, dos Gardens, “[...] as bolas brilhavam em meus olhos, vermelhas e roxas, como as<br />

flores do vestido de minha mãe [...] (1985, p.75­88). E nesse fio de memória, esse vestido se<br />

transporta <strong>da</strong>s primeiras lembranças para a associação com algo de relação social, quando por<br />

exemplo Virginia percebe <strong>que</strong> um certo vestido seu fazia o seu irmão George enxergar para<br />

além do vestido, como algo <strong>que</strong> transcendia os costumes <strong>da</strong> época: “[...] meu vestido verde<br />

acio<strong>no</strong>u dentro dele mil campainhas de alarme. Era um vestido descomedido; era artístico;<br />

não era o <strong>que</strong> as pessoas corretas achavam correto” (1985, p.176).<br />

Constança Ritter Pondé, na sua dissertação de mestrado também sobre As Horas<br />

comenta também o vestido <strong>da</strong> Mrs. Dalloway primeira: “O vestido <strong>que</strong> cui<strong>da</strong>dosamente repara<br />

à tarde e veste à <strong>no</strong>ite é o refúgio <strong>que</strong> Clarissa encontra dentro <strong>da</strong> ordem masculina, é sua<br />

proteção, garantia de <strong>que</strong> não sucumbirá como tantos homens e mulheres <strong>que</strong> vê ao seu redor”<br />

(2002, p. 32).<br />

Acho <strong>que</strong> <strong>no</strong> filme, Daldry tenha talvez ido buscar nesses vestidos de Woolf, uma <strong>da</strong>s<br />

matizes para o figuri<strong>no</strong> de Mrs. Woolf, sempre com vestidos de florzinha, chapéus, e colares,<br />

se não de pérolas, mas colares <strong>que</strong> emolduraram o personagem. De vestidos e <strong>da</strong> memória <strong>da</strong><br />

mãe, Virginia talvez buscasse realmente nas águas doces, esse embalo mater<strong>no</strong> tirado tão cedo<br />

de sua vi<strong>da</strong> de menina. Ao escolher um rio perto <strong>da</strong> sua casa, portanto familiar, é como se

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