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que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

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To<strong>da</strong>s essas imagens cotidianas vivas, <strong>que</strong> o rosto inerte e morto de Virginia absorve,<br />

só vem referen<strong>da</strong>r o desti<strong>no</strong> de Virginia nas palavras de Bachelard: “ Desaparecer na água<br />

profun<strong>da</strong> ou desaparecer num horizonte longínquo, associar­se à profundi<strong>da</strong>de ou à<br />

infini<strong>da</strong>de, tal é o desti<strong>no</strong> huma<strong>no</strong> <strong>que</strong> extrai sua imagem do desti<strong>no</strong> <strong>da</strong>s águas. (2002, p. 14).<br />

A cena do prólogo e do final do filme, com o <strong>mergulho</strong> de Mrs. Woolf e o seu<br />

suicídio, <strong>que</strong> tanto <strong>no</strong> livro como <strong>no</strong> filme, também <strong>no</strong>s remete à morte de dois autores: Mrs.<br />

Woolf (numa referência à própria Virginia), e a morte de Richard, o autor ficcional, <strong>que</strong> em<br />

As Horas seria a duplicação do personagem de Mrs. Dalloway, Septimus: “[...] a vi<strong>da</strong> nunca<br />

faz mais do <strong>que</strong> imitar o livro, e esse livro não é ele próprio senão um tecido de sig<strong>no</strong>s,<br />

imitação perdi<strong>da</strong>, infinitamente recua<strong>da</strong>.” (BARTHES, 1984, p.52)<br />

A discussão do <strong>que</strong> seja um ponto de parti<strong>da</strong> para a criação <strong>da</strong> obra de arte, foi<br />

também uma <strong>da</strong>s preocupações estéticas de Virginia Woolf. Virginia quando <strong>da</strong> sua procura<br />

de uma <strong>no</strong>va forma de escrever <strong>que</strong> melhor compreendesse as mu<strong>da</strong>nças <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>no</strong> começo<br />

do século XX, também teorizava <strong>que</strong> o lugar do autor fosse dessacralizado, permitindo assim<br />

uma aproximação autor/leitor.<br />

No seu texto/livro O <strong>que</strong> é um autor, Michel Foucault discute a <strong>que</strong>stão do autor como<br />

um indivíduo sócio­histórico; autentici<strong>da</strong>de e atribuição; sistemas de valorização e a relação<br />

entre o homem e seu trabalho, e associa a ação <strong>da</strong> escrita como uma estratégia para vencer a<br />

morte. A exemplo <strong>da</strong> forma de contar estórias de Xerazade, e <strong>que</strong> esse tipo de narrativas vêm<br />

se transformado através <strong>da</strong>s culturas. O ato de escrever se constitui como um sacrifício <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> propriamente dita e <strong>da</strong> existência diária do escritor. Para Foucault, o <strong>no</strong>me do autor, não<br />

era simplesmente um elemento do discurso (como um sujeito, um complemento, ou um<br />

elemento <strong>que</strong> podia ser substituído por um pro<strong>no</strong>me ou outras partes do discurso). Sua<br />

presença funcionava mais como um meio de classificação; e <strong>que</strong> o <strong>no</strong>me do autor permanecia<br />

<strong>no</strong> contor<strong>no</strong> do texto, separando um dos outros, definindo suas formas, e caracterizando suas<br />

maneiras de existência:<br />

O <strong>no</strong>me de autor não está situado <strong>no</strong> estado civil dos homens nem na ficção <strong>da</strong> obra,<br />

mas sim na ruptura <strong>que</strong> instaura um certo grupo de discursos e o seu modo de ser<br />

singular. Poderíamos dizer, por conseguinte, <strong>que</strong>, numa civilização como a <strong>no</strong>ssa,<br />

uma certa quanti<strong>da</strong>de de discursos são providos <strong>da</strong> função “autor”, ao passo <strong>que</strong><br />

outros são dela desprovidos.....A função autor é, assim, característica do modo de<br />

existência, de circulção e de funcionamento de alguns discursos <strong>no</strong> interior de uma<br />

socie<strong>da</strong>de (FOUCAULT, 2002, p. 46).<br />

Foucault fala também <strong>que</strong> existem autores <strong>que</strong> excedem os limites do seu trabalho;<br />

seriam a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> adquirem alguma importância <strong>no</strong> mundo literário, cujas influências têm

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