que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...
que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...
que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
cinzenta, na surdina, <strong>da</strong> cor de aço, e de uma vi<strong>da</strong> brancoacinzenta<strong>da</strong>” (CUNNINGHAM,<br />
1998, p. 31).<br />
Os valores <strong>da</strong> intimi<strong>da</strong>de Bachelardia<strong>no</strong> ain<strong>da</strong> fala de uma “casa <strong>da</strong> lembrança” e dos<br />
“abrigos <strong>da</strong> solidão” (2000, p. 33), <strong>que</strong> vão associarse a um quarto; e <strong>que</strong> esses valores de<br />
intimi<strong>da</strong>de “ são tão absorventes <strong>que</strong> o leitor já não lê o seu quarto: revê o dele”(2000, p. 33).<br />
Laura Brown, seguindo a filosofia de Bachelard, ao ler Mrs. Dalloway, também escreve e lê<br />
um quarto, ou lê uma casa, mas com certeza uma casa natal, para além de suas lembranças;<br />
uma casa física e psicologicamente diferencia<strong>da</strong> dos “hábitos orgânicos” <strong>que</strong> supostamente<br />
estariam inseridos na sua identi<strong>da</strong>de, e <strong>da</strong> sua “casa habita<strong>da</strong>”. Para Bachelard “habitar<br />
oniricamente a casa natal é mais <strong>que</strong> habitála pela lembrança; é viver na casa desapareci<strong>da</strong> tal<br />
como ali sonhamos um dia.” (2000, p. 35).<br />
Laura Brown vai se caracterizar enquanto personagem como uma “antiheroina<br />
comum”, para usar <strong>no</strong> femini<strong>no</strong> um termo de Tânia Pellegrini, como ela define:<br />
[...] passivo e indefeso, mergulhado num universo fragmentado e sem sentido, para<br />
<strong>que</strong>m o importante é, na ver<strong>da</strong>de, o <strong>que</strong> percebe desse universo; a narrativa passa a<br />
ser então o lugar onde se inscreve essa percepção: ´os atos, os projetos, o passado<br />
dos personagens contam me<strong>no</strong>s do <strong>que</strong> as pulsões, as imagens, as impressões de <strong>que</strong><br />
é constituído ca<strong>da</strong> instante de sua vi<strong>da</strong>.”(2002, p.3031).<br />
Mrs. Brown, ao viver eternamente <strong>no</strong> limiar <strong>da</strong> loucura/sani<strong>da</strong>de e vi<strong>da</strong>/morte, tenta se<br />
refugiar <strong>no</strong> quarto de número 19 de um hotel <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de: “Vejamos. Quarto 19.... Ao deixar a<br />
recepção, mal pode acreditar <strong>que</strong> conseguiu. Ela tem a chave, passou pelos portais.”<br />
(CUNNINGHAM, 1998, p. 119). Esse quartorefúgio poderia remeter a um divã, onde Laura<br />
ensaia e aborta um suicídio sonhado, mas esse divã, assim como Laura, é um “divã...como um<br />
barco perdido nas on<strong>da</strong>s” (BACHELARD, 2000, p. 46).<br />
Não há como não associar também o quarto de Hotel 19, enquanto <strong>espaço</strong><br />
físico/intelectual com o “quarto” <strong>da</strong> própria Virginia em A room of onw´s own.<br />
A metáfora do quarto, também foi o foco <strong>da</strong> escritora americana, Charlotte Perking<br />
Gilman “The yellow wallpaper” (GILMAN, 1995), sobre o <strong>mergulho</strong> de uma mulher na<br />
solidão <strong>da</strong> escrita, sob o olhar opressor <strong>da</strong> figura masculina do marido e do poder médico;<br />
sobre a escrita como perigo à sani<strong>da</strong>de <strong>feminina</strong>, já <strong>que</strong> a escrita se constituía como lugar do<br />
masculi<strong>no</strong>.