que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...
que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...
que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A<strong>no</strong>s depois, enquanto pesquisava sobre o silêncio femini<strong>no</strong> por ocasião de um<br />
Mestrado na Inglaterra (1986/1987), trabalhei subvertendo a ordem <strong>da</strong> leitura com o artigo<br />
“Reading as a Woman” de Jonathan Culler em On Deconstruction: Theory and Criticism<br />
after Structuralism, e tantos outros textos e cursos de Crítica Feminista. Era uma época do<br />
boom <strong>da</strong>s publicações <strong>da</strong>s mulheres escritoras e críticas (Jane Austen, Alice Walker, Toni<br />
Morrison, Maggie Humm, Elaine Showalter, Susan Gubar, Sandra Gilbert, Adrienne Rich, e a<br />
própria Virginia), como também <strong>da</strong> busca por uma epistemologia crítica e teórica para<br />
subsidiar a produção ficcional <strong>da</strong>s mulheres. A room of one´s own estava entre os títulos mais<br />
estu<strong>da</strong>dos de Virginia Woolf, assim como os seus diários, suas cartas, e seus romances.<br />
Em segui<strong>da</strong>, através <strong>da</strong>s aulas <strong>da</strong> professora Genil<strong>da</strong> Azeredo, fui me chegando a mais<br />
alguns contos e livros de crítica. Já professora de Literatura Inglesa, inseri esta autora <strong>no</strong>s<br />
meus programas de cursos, e, junto com meus alu<strong>no</strong>s, fui ensinando e pesquisando e<br />
mergulhando nas idéias de Virginia Woolf.<br />
Acredito <strong>que</strong> um tema <strong>no</strong>s escolhe. Quando li Virginia Woolf pela primeira vez, mas<br />
especificamente os contos “The Legacy” e “Lappin & Lapi<strong>no</strong>va” e logo em segui<strong>da</strong> Um teto<br />
todo seu, fi<strong>que</strong>i impacta<strong>da</strong> tanto pela criação i<strong>no</strong>vadora do romance moder<strong>no</strong> desse ícone<br />
feminista do início do século XX, como também e <strong>no</strong> <strong>que</strong> dizia respeito, às suas angústias<br />
existenciais sobre os assuntos <strong>da</strong> mente, <strong>da</strong> crítica ao casamento, do lugar <strong>da</strong>s mulheres <strong>no</strong><br />
<strong>espaço</strong> público e principalmente <strong>no</strong> privado, e à <strong>que</strong>stão <strong>da</strong> criação artística <strong>feminina</strong>.<br />
Encantavame também a sua forma de escrita – uma prosa poética (como <strong>no</strong>s seus<br />
contos em geral e em “Kew Gardens” em particular), ao mesmo tempo sofistica<strong>da</strong> mas<br />
acessível, e <strong>que</strong> mergulhava fundo em assuntos literários (como <strong>no</strong>s ensaios teóricos, entre<br />
outros “Modern Fiction”), feministas (como <strong>no</strong> conto Lappin and Lapi<strong>no</strong>va onde trabalha a<br />
opressão do casamento na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> mulher), ou ain<strong>da</strong> o ensaio clássico Um teto todo seu e seu<br />
percurso sobre a escrita <strong>feminina</strong> ou a ausência dela na História <strong>da</strong> Literatura Inglesa) ou<br />
ain<strong>da</strong> os filosóficos, como a <strong>que</strong>stão <strong>da</strong> apreensão do instante, do inefável e do momento do<br />
ser; do Mon<strong>da</strong>y or Tues<strong>da</strong>y 1 1 ou do Blue and Green 2 .<br />
Virginia, com sua figura lângui<strong>da</strong>, o seu ar melancólico, sua escrita com to<strong>que</strong>s de<br />
sofisticação, de lumi<strong>no</strong>si<strong>da</strong>de, e de atenção ao instante <strong>que</strong> já foi, <strong>da</strong> apreensão <strong>da</strong> intuição<br />
dos afetos, e principalmente sobre suas idéias pioneiras sobre mulher, mulheres, casamento,<br />
materni<strong>da</strong>de e a insustentável, mas nem tão leve assim, do ser e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, me fizeram <strong>que</strong>rer<br />
1<br />
Mon<strong>da</strong>y or Tues<strong>da</strong>y foi o título de um conto <strong>que</strong> deu <strong>no</strong>me à uma coleção de escritos experimentais <strong>que</strong><br />
Virginia Woolf publicou em 1921.<br />
2<br />
Blue and Green é o <strong>no</strong>me de um conto experimental de Virginia Woolf.