que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...
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O momento <strong>que</strong> Virginia entra <strong>no</strong> rio e só a sua cabeça ain<strong>da</strong> se encontra fora do<br />
<strong>mergulho</strong>, é simultâneamente o momento em <strong>que</strong> ela fala de como foi feliz ao lado de<br />
Leonard; <strong>da</strong> sua paciência e bon<strong>da</strong>de para com ela, e de como duas pessoas não poderiam ter<br />
sido mais felizes. A voz em off fala <strong>da</strong> “great happiness”, “incredible good”, mas também do<br />
“sei <strong>que</strong> atrapalho sua vi<strong>da</strong>”; sentimentos paradoxais de felici<strong>da</strong>de e sentimento de culpa.<br />
Simultaneamente ela fala <strong>que</strong> parte para não estragar a sua vi<strong>da</strong>, e nesse momento põe as<br />
mãos <strong>no</strong>s bolsos. A frase “devo à você to<strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong>” é de uma ironia ímpar, pois é essa<br />
vi<strong>da</strong> <strong>que</strong> Leonard toma nas mãos, <strong>que</strong> numa <strong>da</strong>s cenas mais fortes do filme, na estação de<br />
trem, Virginia acusa Leonard de usurpar a sua vi<strong>da</strong> à sua revelia, e explode: “ Minha vi<strong>da</strong> foi<br />
rouba<strong>da</strong> de mim; vivo uma vi<strong>da</strong> <strong>que</strong> não <strong>que</strong>ro viver!”.<br />
A seguir, uma mão lin<strong>da</strong>, delica<strong>da</strong>, com uma pena assertiva assina um V. . Só uma<br />
inicial ; não se pode es<strong>que</strong>cer <strong>que</strong> essa letra V, é a mesma de palavras como: Vitória, Vi<strong>da</strong>,<br />
Visto, Vivido, e também Vazio. Era como se talvez na<strong>que</strong>le momento Virginia não se sentisse<br />
inteira, ou talvez nem ela mesma, ou ain<strong>da</strong> tão ela como nunca, a ponto de tomar em suas<br />
mãos o seu desti<strong>no</strong>. O momento <strong>da</strong> assinatura, e <strong>da</strong> afirmação de sua identi<strong>da</strong>de é o momento<br />
em <strong>que</strong> Virginia mergulha, não sem antes afirmar <strong>que</strong> esta é a melhor coisa a ser feita. A<br />
música (não diegética) de Phillip Glass surge baixinho, mas já com acordes <strong>que</strong> claramente<br />
têm como finali<strong>da</strong>de comentar uma tristeza profun<strong>da</strong>, talvez a tristeza <strong>da</strong> irreversibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />
morte.<br />
Simultâneo ao <strong>mergulho</strong>, Leonard corre, o seu corpo bóia; um close na sua aliança de<br />
casa<strong>da</strong>, outro <strong>no</strong> sapato <strong>que</strong> se desprende e “Tudo se alonga ao fluir <strong>da</strong> corrente, o vestido e a<br />
cabeleira; parece <strong>que</strong> a corrente alisa e penteia os cabelos. E mesmo sobre as pedras do vau o<br />
rio movese como uma cabeleira viva.” (BACHELARD, 2002, p. 86). Só então os créditos do<br />
filme aparecem – The hours – As horas.<br />
A apresentação do filme e seus créditos seguem a mesma linha de colagem e<br />
justaposição. Os créditos vão aparecendo lentamente, com pausas, e o <strong>no</strong>me dos atores vão<br />
surgindo proposita<strong>da</strong>mente desconexos com as imagens <strong>que</strong> se seguem. Por exemplo: o<br />
núcleo de atores <strong>da</strong> estória de Laura Brown, e Clarissa Dalloway surgem quando na tela está<br />
escrito Richmond, England 1923, (O <strong>que</strong> seria o cenário do núcleo de Mrs. Woolf) e assim<br />
sucessivamente. O mesmo vai acontecendo com os créditos dos atores coadjuvantes, numa<br />
fusão de <strong>espaço</strong>/ tempo/ personagem <strong>que</strong> desde o Prólogo vão se constituir a marca<br />
preponderante do roteiro.<br />
Esse tempo fundido com <strong>espaço</strong> exemplifica esse <strong>no</strong>vo conceito de tempo<br />
anteriormente criado por Henri Bergson como explica, Tânia Pellegrini: