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que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

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mergulhar. Mergulhar <strong>no</strong> devaneio, <strong>no</strong> sonho e na ambivalência e também na angústia <strong>da</strong><br />

busca por um tema <strong>que</strong>, de certa forma me trouxesse Virginia Woolf para a<br />

contemporanei<strong>da</strong>de (como se ela já não o fosse contemporâneo!). Eis <strong>que</strong> me surgiu a grande<br />

oportuni<strong>da</strong>de: o filme As Horas, e posteriormente o livro, num caminho inverso ao mais<br />

comum, ou seja, o livro primeiro e depois a a<strong>da</strong>ptação. Saí do cinema “mole como um gato<br />

adormecido,” para me expressar com as palavras de Roland Barthes (1984, p. 291).<br />

Tomei conhecimento do filme, muito antes <strong>da</strong> sua estréia <strong>no</strong>s cinemas, pois<br />

acompanhei pelos jornais o lançamento do livro em 1998, como a <strong>no</strong>va Mrs. Dalloway dos<br />

a<strong>no</strong>s 90. E já me antecipava, levando todo o material atualizado de jornais para os meus<br />

alu<strong>no</strong>s, de uma certa forma dividindo com eles a Mrs. Dalloway contemporânea. Então<br />

pensei: pronto! Está aí o <strong>que</strong> eu precisava: um link, um <strong>no</strong>vo olhar, um fragmento, uma<br />

paródia, uma colcha de retalhos! Quando assisti ao filme, não tive mais dúvi<strong>da</strong>s. Este é o<br />

assunto <strong>que</strong> <strong>que</strong>ro estu<strong>da</strong>r: As Mulheres!<br />

Foi também por esse “buraco <strong>da</strong> fechadura” e do “estar alhures” e através do “espelho<br />

do écran” <strong>que</strong> as imagens, os diálogos, “o grão do som” de Phillip Glass, e os silêncios<br />

inquisidores de As Horas, me arremataram com um só golpe como na discrição de Barthes em<br />

relação à imagem cinematográfica e a relação com o real e o simbólico: “captiva­me, captura­<br />

me: colo à representação [...]”. O fascínio desse filme <strong>que</strong> me invadiu a alma deu­se ain<strong>da</strong><br />

como, nas palavras de Barthes:<br />

Nesse cubo opaco, uma luz: o filme, o écran? Claro <strong>que</strong> sim. Mas também (mas<br />

sobretudo?), visível e despercebido, esse cone <strong>da</strong>nçante <strong>que</strong> fura o escuro, à maneira<br />

de um raio laser. Esse raio cunha­se de acordo com a rotação <strong>da</strong>s suas partículas, em<br />

figuras cambiantes. Viramos o rosto para a moe<strong>da</strong> de uma vibração brilhante, cujo<br />

jacto imperioso <strong>no</strong>s rasa o crânio, aflora, por trás, de viés, uma cabeleira, um rosto.<br />

Como nas velhas experiências de hip<strong>no</strong>tismo, somos fascinados, sem o vermos de<br />

frente, por esse lugar brilhante, imóvel e <strong>da</strong>nçante (BARTHES, 1984, p. 292).<br />

Foi a partir desse lugar de hip<strong>no</strong>se e com o rosto em rotação de partículas, <strong>que</strong> o cone<br />

<strong>da</strong>nçante <strong>da</strong>s horas, fez­me encontrar num “festival de afectos a <strong>que</strong> se chama um filme”.Os<br />

temas a serem trabalhados emergiam brutalmente: As mulheres. Suas trajetórias, seus<br />

<strong>espaço</strong>s, suas escolhas, suas inadequações, suas angústias existenciais, suas ausências, seus<br />

cotidia<strong>no</strong>s, sua subjetivi<strong>da</strong>de, e Virginia Woolf, pois assim como ela: “[...] gosto de mulheres.<br />

Gosto <strong>da</strong> sua informali<strong>da</strong>de. Gosto <strong>da</strong> sua totali<strong>da</strong>de. Gosto do seu a<strong>no</strong>nimato” (CURTIS,<br />

2005, p.14).

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