18.04.2013 Views

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Em se falando de angústia, Schopenhauer, em suas Dores do mundo, fala de <strong>que</strong> só a<br />

dor é positiva, e de <strong>que</strong> “a vi<strong>da</strong> é uma guerra sem tréguas, e morre­se com as armas na mão”<br />

(Edições de Ouro, p.18­19). Nessa visão dolorosa <strong>da</strong> existência, Schopenhauer, diz <strong>que</strong> a<br />

primeira metade <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> se caracteriza por uma “infatigável aspiração de felici<strong>da</strong>de”,<br />

enquanto na segun<strong>da</strong>, somos dominados por um “sentimento doloroso de receio, por<strong>que</strong> se<br />

acaba por perceber mais ou me<strong>no</strong>s claramente <strong>que</strong> to<strong>da</strong> a felici<strong>da</strong>de não passa de quimera, <strong>que</strong><br />

só o sofrimento é real” (Edições de Ouro, p 29). A sua idéia de <strong>que</strong> a vi<strong>da</strong> é uma “mentira<br />

contínua” explode quando fala também do aspecto fugidio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>:<br />

Não há na<strong>da</strong> fixo na vi<strong>da</strong> fugitiva: nem dor infinita, nem alegria eterna, nem<br />

impressão permanente, nem entusiasmo duradouro, nem resolução eleva<strong>da</strong> <strong>que</strong><br />

possa durar to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong>! Tudo se dissolve na torrente dos a<strong>no</strong>s. Os minutos, os<br />

inumeráveis átomos de pe<strong>que</strong>nas coisas, fragmentos de ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s <strong>no</strong>ssas ações,<br />

são os vermes roedores <strong>que</strong> devastam tudo quanto é grande e ousado...Na<strong>da</strong> se toma<br />

a sério na vi<strong>da</strong> humana; o pó não vale esse trabalho (Edições de Ouro, p. 320).<br />

Outro Filósofo, Soren Kierkegaard, <strong>no</strong> seu livro O conceito de Angústia, atribui esse<br />

sentimento a um estado de i<strong>no</strong>cência <strong>que</strong> leva o homem a um estado ain<strong>da</strong> não determinado<br />

como espírito. E esse estado <strong>que</strong> não é de calma nem de descanso, perturbação nem de luta,<br />

só resta o na<strong>da</strong>, <strong>que</strong> gera o nascimento <strong>da</strong> angústia: “Aí está o mistério profundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>: é, ao<br />

mesmo tempo, angústia. Sonhador, o espírito projeta a sua própria reali<strong>da</strong>de, <strong>que</strong> é um átimo,<br />

e a i<strong>no</strong>cência vê sempre e sempre, diante de si, este na<strong>da</strong>” (1968, p.45).<br />

Jeana Laura <strong>da</strong> Cunha Santos (2000, p.19), <strong>no</strong> seu livro A estética <strong>da</strong> melancolia em<br />

Clarice Lispector fala <strong>da</strong> Melancolia enquanto um entre­lugar, espremi<strong>da</strong> entre duas linhas<br />

paradoxais:<br />

Por<strong>que</strong> a melancolia não é a linha do êxtase e nem a linha <strong>da</strong> dor... Ela é a entrelinha<br />

<strong>que</strong> tangencia estes opostos.... a melancolia se insere <strong>no</strong> hiato deixado por este abalo<br />

e vem contribuir para a possibili<strong>da</strong>de do ´<strong>no</strong>vo´ <strong>que</strong> espreita na esquina ain<strong>da</strong> incerta<br />

[...].<br />

Esse sentimento de incompletude é uma constante na vi<strong>da</strong> dos seres huma<strong>no</strong>s de uma<br />

forma geral. A consciência <strong>da</strong> finitude <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e a (in)apreensão do caráter fugidio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,<br />

<strong>no</strong>s tornam seres com sentimentos de impotência profun<strong>da</strong> diante do tempo <strong>que</strong> passa.<br />

Virginia Woolf era uma escritora sempre atenta à esse fracasso do apreender o passado; um<br />

passado, eternamente perseguido, e indizível, onde sempre faltava uma palavra. Doris<br />

Lessing, <strong>no</strong> livro A casa de Carlyle, ressaltou <strong>que</strong>: “A medi<strong>da</strong> <strong>que</strong> foi amadurecendo como<br />

escritora, Woolf passou a apreciar a fugidia imponderabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> – é um encantamento

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!