que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...
que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...
que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Em se falando de angústia, Schopenhauer, em suas Dores do mundo, fala de <strong>que</strong> só a<br />
dor é positiva, e de <strong>que</strong> “a vi<strong>da</strong> é uma guerra sem tréguas, e morrese com as armas na mão”<br />
(Edições de Ouro, p.1819). Nessa visão dolorosa <strong>da</strong> existência, Schopenhauer, diz <strong>que</strong> a<br />
primeira metade <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> se caracteriza por uma “infatigável aspiração de felici<strong>da</strong>de”,<br />
enquanto na segun<strong>da</strong>, somos dominados por um “sentimento doloroso de receio, por<strong>que</strong> se<br />
acaba por perceber mais ou me<strong>no</strong>s claramente <strong>que</strong> to<strong>da</strong> a felici<strong>da</strong>de não passa de quimera, <strong>que</strong><br />
só o sofrimento é real” (Edições de Ouro, p 29). A sua idéia de <strong>que</strong> a vi<strong>da</strong> é uma “mentira<br />
contínua” explode quando fala também do aspecto fugidio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>:<br />
Não há na<strong>da</strong> fixo na vi<strong>da</strong> fugitiva: nem dor infinita, nem alegria eterna, nem<br />
impressão permanente, nem entusiasmo duradouro, nem resolução eleva<strong>da</strong> <strong>que</strong><br />
possa durar to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong>! Tudo se dissolve na torrente dos a<strong>no</strong>s. Os minutos, os<br />
inumeráveis átomos de pe<strong>que</strong>nas coisas, fragmentos de ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s <strong>no</strong>ssas ações,<br />
são os vermes roedores <strong>que</strong> devastam tudo quanto é grande e ousado...Na<strong>da</strong> se toma<br />
a sério na vi<strong>da</strong> humana; o pó não vale esse trabalho (Edições de Ouro, p. 320).<br />
Outro Filósofo, Soren Kierkegaard, <strong>no</strong> seu livro O conceito de Angústia, atribui esse<br />
sentimento a um estado de i<strong>no</strong>cência <strong>que</strong> leva o homem a um estado ain<strong>da</strong> não determinado<br />
como espírito. E esse estado <strong>que</strong> não é de calma nem de descanso, perturbação nem de luta,<br />
só resta o na<strong>da</strong>, <strong>que</strong> gera o nascimento <strong>da</strong> angústia: “Aí está o mistério profundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>: é, ao<br />
mesmo tempo, angústia. Sonhador, o espírito projeta a sua própria reali<strong>da</strong>de, <strong>que</strong> é um átimo,<br />
e a i<strong>no</strong>cência vê sempre e sempre, diante de si, este na<strong>da</strong>” (1968, p.45).<br />
Jeana Laura <strong>da</strong> Cunha Santos (2000, p.19), <strong>no</strong> seu livro A estética <strong>da</strong> melancolia em<br />
Clarice Lispector fala <strong>da</strong> Melancolia enquanto um entrelugar, espremi<strong>da</strong> entre duas linhas<br />
paradoxais:<br />
Por<strong>que</strong> a melancolia não é a linha do êxtase e nem a linha <strong>da</strong> dor... Ela é a entrelinha<br />
<strong>que</strong> tangencia estes opostos.... a melancolia se insere <strong>no</strong> hiato deixado por este abalo<br />
e vem contribuir para a possibili<strong>da</strong>de do ´<strong>no</strong>vo´ <strong>que</strong> espreita na esquina ain<strong>da</strong> incerta<br />
[...].<br />
Esse sentimento de incompletude é uma constante na vi<strong>da</strong> dos seres huma<strong>no</strong>s de uma<br />
forma geral. A consciência <strong>da</strong> finitude <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e a (in)apreensão do caráter fugidio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,<br />
<strong>no</strong>s tornam seres com sentimentos de impotência profun<strong>da</strong> diante do tempo <strong>que</strong> passa.<br />
Virginia Woolf era uma escritora sempre atenta à esse fracasso do apreender o passado; um<br />
passado, eternamente perseguido, e indizível, onde sempre faltava uma palavra. Doris<br />
Lessing, <strong>no</strong> livro A casa de Carlyle, ressaltou <strong>que</strong>: “A medi<strong>da</strong> <strong>que</strong> foi amadurecendo como<br />
escritora, Woolf passou a apreciar a fugidia imponderabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> – é um encantamento