18.04.2013 Views

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

personagem de Richard já adulto, e <strong>que</strong> só relacionamos com a<strong>que</strong>la criança atormenta<strong>da</strong> de<br />

pijamas de bichinhos, quando temos um close <strong>da</strong> foto de Mrs. Brown vesti<strong>da</strong> de <strong>no</strong>iva, num<br />

porta retrato <strong>da</strong><strong>que</strong>le loft escuro e sorumbático – a room with a view, mas <strong>que</strong> ao contrário do<br />

romance de Henry James, veremos <strong>que</strong> a paisagem não era na ver<strong>da</strong>de um <strong>espaço</strong> para a<br />

contemplação, mas para o <strong>mergulho</strong>.<br />

Daldry, um especialista na emoção conti<strong>da</strong>, falou <strong>que</strong> <strong>no</strong> filme, <strong>no</strong>ssas mulheres lutam<br />

ao longo do dia <strong>que</strong> lhes é <strong>da</strong>do, dia <strong>que</strong> definiram para si mesmas e <strong>que</strong> outros definiram para<br />

elas. Um dia <strong>que</strong> falasse <strong>da</strong>s suas trajetórias, <strong>da</strong>s lutas, do estoicismo e dificul<strong>da</strong>des<br />

emocionais <strong>que</strong> enfrentam, talvez <strong>no</strong> jardim, <strong>no</strong> quarto ou quando fazem um bolo, perfazendo<br />

um heroísmo <strong>que</strong> pode compreender escalar montanhas ou ganhar a guerra; mas um heroísmo<br />

constantemente subestimado frente ao heroísmo dos homens. 64 Esse mesmo dia, tão<br />

aparentemente banal, mas <strong>que</strong> depois vimos <strong>que</strong>, ca<strong>da</strong> mulher estava enfrentando um desafio<br />

<strong>que</strong> transformaria profun<strong>da</strong>mente suas vi<strong>da</strong>s, enfim, um dia decisivo para a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s três<br />

personagens: Mrs. Woolf suicidou­se; Mrs. Brown partiria em busca de uma vi<strong>da</strong> to<strong>da</strong> sua, e<br />

Mrs. Dalloway teria <strong>que</strong> re­ver o seu <strong>no</strong>me, o seu passado e o seu presente.<br />

O filme, assim como o romance, também incorpora inspiração de textos anteriores (a<br />

cena do salto de Richard pela janela, repete o suicídio do personagem de Septimus <strong>no</strong> filme<br />

Mrs. Dalloway, revelando assim <strong>que</strong>, uma a<strong>da</strong>ptação não se constitui de um processo isolado,<br />

mas também intertextual.<br />

É esse bou<strong>que</strong>t <strong>que</strong> viaja através do tempo, desde o romance Woolfia<strong>no</strong> Mrs.<br />

Dalloway, se sobrepondo em cama<strong>da</strong>s temporais para marcar um dia na vi<strong>da</strong> de uma mulher,<br />

dia <strong>que</strong> é suficiente para um romance, uma vez <strong>que</strong> nenhuma vi<strong>da</strong> é simples e muito me<strong>no</strong>s<br />

ordinária, para responder a pergunta <strong>que</strong> o escritor Michael Cunningham faz <strong>no</strong> seu livro do<br />

mesmo <strong>no</strong>me: “Mas será <strong>que</strong> um único dia ou na vi<strong>da</strong> de uma mulher comum pode conter o<br />

suficiente para um romance?” (CUNNINGHAM, 1998, p. 61)<br />

No filme As Horas, três déca<strong>da</strong>s, três estórias, três mulheres, e um ponto de costura: o<br />

romance Mrs. Dalloway. Uma escreve, Mrs. Woolf; outra Lê, Mrs. Brown; e uma terceira é a<br />

personagem/editora, Mrs. Dalloway. Afora o romance Mrs. Dalloway, essas três mulheres<br />

têm algo a mais em comum: suas escolhas. Tema recorrente na vi<strong>da</strong> e na literatura <strong>da</strong>s<br />

mulheres, mas também dos homens. Escolhas amorosas, profissionais, existenciais,<br />

intelectuais e artísticas. Como conciliar a veia artística, o criar, o exercer/exercitar o subjetivo<br />

e conciliar com as exigências dos papéis domésticos a serem cumpridos? Essas Escolhas são<br />

64 DALDRY, making off do filme

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!