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que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

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passivi<strong>da</strong>de atribuí<strong>da</strong> à mulher não parece ser um traço <strong>da</strong> proclama<strong>da</strong> ´natureza <strong>feminina</strong>´<br />

mas, ao contrário, resultado de um longo processo histórico­social”(1994, p. 27­46).<br />

As personagens de As Horas sentem­se outsiders e prisioneiras dessa passivi<strong>da</strong>de de<br />

<strong>que</strong> fala Lúcia. São mulheres às voltas com o <strong>espaço</strong> e o tempo e <strong>que</strong> já não se conformam<br />

com o confinamento <strong>que</strong> o doméstico exige. Confinamento esse <strong>que</strong> as isolam do mundo <strong>da</strong><br />

realização pessoal, passando sempre a ser e a viver para os outros reforçando uma afirmação<br />

pessoal de “negar­se como pessoa” (1994, p.33).<br />

Perrot fala <strong>que</strong> a sedentarie<strong>da</strong>de é uma virtude <strong>feminina</strong>, um dever <strong>da</strong>s mulheres<br />

liga<strong>da</strong>s à família e ao lar, assegurando à to<strong>da</strong> uma disciplina e exorcizando quais<strong>que</strong>r desejo<br />

de fuga, “Pois a mulher é uma rebelde em potencial , uma chama <strong>da</strong>nçante, <strong>que</strong> é preciso<br />

capturar, impedir de escapar” (2006, p. 135). Tal captura deve acontecer para aprisioná­la <strong>no</strong>s<br />

mais diversos locais de enclausuramento/confinamento: o gineceu, o harém, o quarto feu<strong>da</strong>l, o<br />

convento, o bordel e a casa. Tal “proteção” se deve para encobrir sua sedução, e Perrot cita<br />

Pitágoras: “Uma mulher em público está sempre fora do lugar” (2006, p.136) mostrando<br />

assim a ameaça e todo perigo do <strong>que</strong> é uma mulher em movimento, uma vez <strong>que</strong> pesa sobre às<br />

mulheres uma suspeita sobre seus deslocamentos.<br />

As mulheres de As Horas, ao contrário do <strong>que</strong> disse Pitágoras, estão fora do lugar sim,<br />

mas não <strong>no</strong> público, mas <strong>no</strong> privado. E não importa a captura ou o confinamento, <strong>que</strong><br />

impedisse Laura Brown de partir, se contrapondo ao comportamento do século XIX, quando<br />

os homens partem sós ou antes, e as mulheres quase nunca vão. A mulher do século XX não<br />

<strong>que</strong>ria mais tão somente trabalho e dinheiro, mas também liber<strong>da</strong>de, e para isso dizem não ao<br />

sedentarismo, e se põem em movimento a exemplo de George Sand, <strong>que</strong> via na viagem um<br />

meio de libertação, como falou Perrot (2005, p.139). Acho <strong>que</strong> Laura Brown, viajou em busca<br />

dessa libertação. Livrar­se de uma prisão subjetiva aos papéis às quais não se enquadrava, e<br />

<strong>que</strong> só a atormentava a um extremo quase à morte, mas <strong>que</strong> num <strong>mergulho</strong> também ao livro<br />

Mrs. Dalloway, optou pela vi<strong>da</strong>.<br />

Mrs. Woolf por sua vez, <strong>que</strong>ria a ci<strong>da</strong>de, Londres mais especificamente, pois sabia ela<br />

<strong>que</strong> a ci<strong>da</strong>de era o risco, a aventura, e a ampliação do seu desti<strong>no</strong>, a salvação, como disse<br />

Perrot (2006, p.136). Seu confinamento se deu em uma outra época, <strong>no</strong> início do século XX,<br />

quando as mulheres eram vistas com mais suspeitas ain<strong>da</strong>. Suspeitas de um sexo ao mesmo<br />

tempo frágil e perigoso, ain<strong>da</strong> com to<strong>da</strong>s as vestes do pensamento vitoria<strong>no</strong>.<br />

Mrs. Woolf desejava a Londres como metáfora <strong>da</strong>s coisas do mundo; dos casacos<br />

Harrods, <strong>da</strong>s crianças bravas e decepciona<strong>da</strong>s, <strong>da</strong> mão de Vanessa, do tordo lá fora... Aliás,<br />

desde o primeiro capítulo do livro, <strong>que</strong> depois do Prólogo, abre com Mrs. Dalloway, vamos

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