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que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

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<strong>espaço</strong> de mim” (2007, p. 240­241). Swain se refere ao espelho como projeção desse<br />

conceito:<br />

Eu, nômade, sou outra, além <strong>da</strong>quilo <strong>que</strong> pareço ou do <strong>que</strong> falo. Eu sou um <strong>espaço</strong><br />

de mim, migratório, de transição, nesta cartografia <strong>que</strong> me revela e me nega. Eu sou<br />

o espelho de mim, um lugar sem lugar....Sou, porém, nômade, e nesta concretude é<br />

apenas o reflexo <strong>no</strong> espelho, pois este ´eu´ <strong>que</strong> vejo refletido não sou ´eu´. Este ´eu´<br />

forjado em valores e <strong>no</strong>rmas históricas, por teorias e discursos de saber, por limites e<br />

entraves erigidos em sexo e sexuali<strong>da</strong>de não sou eu: é apenas uma passagem, um<br />

momento de mim.<br />

Na imagem inverti<strong>da</strong> <strong>no</strong> espelho vejo apenas a imitação de mim em um eu<br />

unificado, categorizado, tão ilusório quanto as dimensões <strong>que</strong> se abrem na superfície<br />

poli<strong>da</strong>.” (2007, p.241­ 242).<br />

Mrs. Dalloway, vive esse “feixe de experiências”; uma mulher <strong>no</strong> presente, mas <strong>que</strong><br />

desde o seu <strong>no</strong>me/apelido tem uma herança forte em um passado social e literário, cujo<br />

reflexo ain<strong>da</strong> é muito límpido na sua vi<strong>da</strong>. Mrs. Dalloway vive sim nesse <strong>espaço</strong> migratório<br />

<strong>que</strong> a leva a um “lugar sem lugar”, e gera dúvi<strong>da</strong>s ao seu eu, refletido ou não.<br />

A companheira de afeto de Mrs. Dalloway também é Sally, <strong>que</strong> <strong>no</strong> romance seminal<br />

vai ser a melhor amiga de Clarissa Dalloway. Sally vê­se como mais um objeto na casa,<br />

“reproduzi<strong>da</strong>, junto com as flores, <strong>no</strong>s ladrilhos espelhados do fundo...” (CUNNINGHAM,<br />

1998, p.148). Ao duplicar os <strong>no</strong>mes, é como se Cunningham tentasse expressar a alma dessas<br />

mulheres através dos tempos, ou de um único dia. Idéia <strong>que</strong> só corrobora a de identi<strong>da</strong>des<br />

múltiplas à <strong>que</strong> as <strong>no</strong>vas leituras sobre mulheres <strong>no</strong> plural são constituí<strong>da</strong>s.<br />

Richard tinha o costume de perguntar por Sally como se ela fosse uma espécie de<br />

“porto seguro totalmente banal;...(Sally, a estóica, a tortura<strong>da</strong>, a sutilmente sábia) fosse<br />

i<strong>no</strong>fensiva e insípi<strong>da</strong>, tanto quanto uma casa numa rua tranqüila ou um bom carro, sólido e<br />

confiável.” Com esses sentimentos, Richard não admite a aversão <strong>que</strong> sente por Sally, e ao<br />

mesmo tempo reitera sua convicção de <strong>que</strong> Clarissa tor<strong>no</strong>u­se uma “esposa­anfitriã”, anfitriã<br />

essa também duplica<strong>da</strong> <strong>da</strong> Mrs. Dalloway de Virginia Woolf. (CUNNINGHAM, 1998, p.23)<br />

A relação de Clarissa e Sally é uma relação morna; não brigam nunca, parece<br />

acomo<strong>da</strong><strong>da</strong> mesmo: “Esse amor <strong>que</strong> existe entre elas, com sua domestici<strong>da</strong>de tranqüilizadora,<br />

seus silêncios fáceis, sua permanência , sujeitou Sally diretamente à engrenagem <strong>da</strong><br />

mortali<strong>da</strong>de...” (CUNNINGHAM, 1998, p. 147)<br />

Assim como Laura Brown, Clarissa é descrita como “uma moça esquisita e<br />

desconfia<strong>da</strong>”; uma pessoa comum, mas também se pergunta o <strong>que</strong> há de errado com ela.<br />

Sujeita a romances; tem um prazer em olhar sem motivo (contemplação); é infantil, falta­lhe<br />

agudeza; tão pudica! “Desmaio com as belezas do mundo mas reluto em beijar um amigo na

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