que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...
que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...
que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
indivíduo criador dá lugar ao confisco, à citação, à seleção, à acumulação e à repetição<br />
manifestos de imagens já existentes. As <strong>no</strong>ções de originali<strong>da</strong>de, autentici<strong>da</strong>de e presença [...]<br />
são enfra<strong>que</strong>ci<strong>da</strong>s” (HUTCHEON, 1991, p. 29). As cópias, os intertextos, e as paródias,<br />
constituem alguns dos conceitos <strong>que</strong> desconstruiram as <strong>no</strong>ções humanistas de originali<strong>da</strong>de e<br />
universali<strong>da</strong>de e segundo Hutcheon, a atual teoria <strong>que</strong>r revelar <strong>que</strong>: “[...] a idéia de <strong>que</strong> a<br />
linguagem tem o poder de constituir (e não só de descrever) aquilo <strong>que</strong> é por ela<br />
representado” (1991, p. 243).<br />
Hutcheon também cita Roland Barthes definindo o intertexto como a impossibili<strong>da</strong>de<br />
de viver fora do texto infinito e <strong>que</strong> “contesta essa <strong>no</strong>ção de autor original e originante, a<br />
fonte do sentido fixo do passado e a substitui pela idéia de um escrevente textual, ou <strong>da</strong>quilo<br />
<strong>que</strong> prefiro chamar de ´produtor´, <strong>que</strong> só existe <strong>no</strong> tempo do texto e sua leitura: ´o único<br />
tempo existente é o <strong>da</strong> enunciação, e todo texto é eternamente escrito aqui e agora” (1991,<br />
p.167). O teórico palesti<strong>no</strong> Edward Said, também citado por Hutcheon vai afirmar <strong>que</strong> “o<br />
escritor pensa me<strong>no</strong>s em escrever com originali<strong>da</strong>de, e mais em reescrever. A imagem para a<br />
escrita se modifica, deixando de ser a do registro original e passando a ser a <strong>da</strong> escritura<br />
paralela” (1991, p.112).<br />
O diluir <strong>da</strong>s fronteiras entre os gêneros (biografia e ficção), também vai referen<strong>da</strong>r a<br />
escrita pósmoderna na obra de Cunningham, já <strong>que</strong> aspectos biográficos sobre Woolf vão<br />
permear to<strong>da</strong> a trama, principalmente <strong>no</strong>s capítulos referentes à Mrs. Woolf, onde vamos ter<br />
cenas <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> pessoal <strong>no</strong> <strong>que</strong> diz respeito à sua fragili<strong>da</strong>de emocional, o seu<br />
relacionamento com o marido Leonard, com a irmã Vanessa, com os sobrinhos, as<br />
emprega<strong>da</strong>s, concomitante aos seus conflitos <strong>no</strong> construir do romance sobre Clarissa<br />
Dalloway, personagem principal do romance em <strong>que</strong>stão.<br />
No caso específico de As Horas, Cunningham se apropria de um texto seminal Mrs.<br />
Dalloway, de Virginia Woolf, mais preocupado nesse empréstimo fecundo e num<br />
acasalamento fértil <strong>da</strong>s obras em <strong>que</strong>stão. Cunningham tem o foco mais <strong>no</strong> cruzamento <strong>da</strong><br />
“escritura paralela” de <strong>que</strong> fala Said, do <strong>que</strong> buscar uma originali<strong>da</strong>de ilusória.<br />
Ao se apropriar <strong>da</strong> figura de uma escritora canônica, Cunningham já se inclui <strong>no</strong>s<br />
conceitos de escrita pósmoderna, pois privilegia uma reflexão sobre as artimanhas <strong>da</strong> ficção e<br />
seus mundos paralelos, <strong>no</strong> caso o mundo de Woolf, <strong>que</strong> mesclado com fontes originais, vão<br />
sendo construídos juntamente com a escrita de Mrs. Dalloway. Enquanto acontece o dissecar<br />
do fazer ficção, recortes <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> pessoal vão se somando ao seu fazer literário, fazendo<br />
desaparecer um limiar tênue entre fato e ficção, ou entre o <strong>que</strong> é real e o <strong>que</strong> seria construído.