18.04.2013 Views

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

No caso do personagem de Mrs. Dalloway <strong>no</strong> filme As Horas, Clarissa Vaughn, talvez<br />

representante <strong>da</strong> mulher ocidental emancipa<strong>da</strong>, vive na mu<strong>da</strong>nça do século, na maior<br />

metrópole do mundo, e numa situação afetiva/sexual fora do centro, ou seja, uma relação<br />

homossexual. Paradoxalmente, Clarissa tem como virtude suprema a aptidão de servir aos<br />

outros. Basta registrar suas visitas cotidianas a Richard para colocar flores <strong>no</strong> jarro, <strong>da</strong>r­lhe os<br />

remédios, ou seja, tornar o comum em extraordinário e perfeito. Clarissa <strong>que</strong>r oferecer uma<br />

festa para Richard, e para isso exerce o modelo mais perfeito de dona de casa: compra as<br />

flores certas (antes mesmo <strong>que</strong> Sally); cozinha o prato preferido de Richard; <strong>que</strong>bra ovos ao<br />

fazer o jantar com a maestria de um modelo perfeito de feminili<strong>da</strong>de e recebe o convi<strong>da</strong>do<br />

antes <strong>da</strong> hora (Louis). Se vivesse <strong>no</strong> século XIX, Mrs. Dalloway “[...] estaria morando <strong>no</strong><br />

interior, esposa gentil, insignificante, insatisfeita, para<strong>da</strong> <strong>no</strong> jardim” (CUNNINGHAM, p.<br />

1998, 28). Mas como Clarissa vive num período entre séculos – XX/XXI −, é descrita como<br />

sujeita à romances, infantil, sem agudeza, pudica, tão avó, feliz com seus sapatos, e<br />

possuidora do prazer de olhar sem motivo (1998, p.17).<br />

No entanto, nesta Seqüência <strong>da</strong> cozinha, a maestria de feminili<strong>da</strong>de de Mrs. Dalloway<br />

se <strong>que</strong>bra de forma drástica, talvez com as asas desse anjo de feminili<strong>da</strong>de vitoria<strong>no</strong> <strong>que</strong> com<br />

as sombras do bater de suas saias, ain<strong>da</strong> pulveriza o seu comportamento e atitudes: “É toma<strong>da</strong><br />

de chofre, por uma sensação de deslocamento. Essa não é sua cozinha. Essa é a cozinha de<br />

alguém conhecido...Ela vive em outro lugar...distancia­se dela...Sente a presença de seu<br />

próprio fantasma” (CUNNINGHAM, 1998, p. 77­ 78). Clarissa além do espectro do “Anjo <strong>da</strong><br />

Casa”, também traz consigo a tradição <strong>da</strong> Mrs. Dalloway de Virginia Woolf, e junto com ela,<br />

a mulher do livro, “o fantasma de seu eu anterior, cem a<strong>no</strong>s atrás...” (1998, p. 28).<br />

Apesar de mais de um século de resistência, “A Fa<strong>da</strong> do Lar”, embora se faça<br />

presente, ao me<strong>no</strong>s na literatura, suas saias entanto já não são tão visíveis; seus tecidos <strong>que</strong>m<br />

sabe mais suaves, assim transparentes como um sussurro. No caso do livro/ filme As Horas,<br />

esse sussurro não aparece apenas como uma continuação de uma linhagem secular de<br />

mulheres, mas sim como <strong>que</strong>stio<strong>no</strong>u Silvia Alonso, <strong>no</strong> seu texto “O tempo <strong>que</strong> passa e o<br />

tempo <strong>que</strong> não passa: “um arquétipo femini<strong>no</strong> e suas varia<strong>da</strong>s posições diante do seu tempo.<br />

Com um único <strong>que</strong>stionamento: qual o papel do femini<strong>no</strong> <strong>no</strong> decorrer <strong>da</strong> História, <strong>que</strong> é<br />

predominantemente patriarcal? ”(2006, p. 54)<br />

A diferença <strong>que</strong> se apresenta na vi<strong>da</strong> de Mrs. Brown em relação ao seu papel de<br />

mulher e sua experiência de vi<strong>da</strong> e a própria percepção de Clarissa nesse “entrelugar” de<br />

integrante e marginal, só reafirma a desconstrução dessa “natureza essencialmente <strong>feminina</strong>”<br />

em relação aos seus lugares na socie<strong>da</strong>de, já <strong>que</strong> essa “natureza” oscila de tempos em tempos,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!