que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...
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A história do instante, <strong>da</strong> brevi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, desde tempos remotos <strong>que</strong> angustia o<br />
homem. O filósofo Sêneca <strong>no</strong> seu livro Sobre a brevi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> dividiu a vi<strong>da</strong> em três<br />
períodos: “aquilo <strong>que</strong> foi, o <strong>que</strong> é e o <strong>que</strong> será. O <strong>que</strong> fazemos é breve, o <strong>que</strong> faremos, dúbio,<br />
o <strong>que</strong> fizemos, certo.” Com essas palavras ele afirma <strong>que</strong> o tempo presente é brevíssimo, <strong>que</strong><br />
flui, está sempre em curso, se precipita, sem <strong>que</strong> se possa deter, assim como o mundo e as<br />
estrelas, sempre em movimento (2008, p. 4951). A seqüência de Mrs. Dalloway na cozinha, e<br />
o seu desmancharse perante o fogão é sim uma toma<strong>da</strong> de chofre por parte <strong>da</strong> protagonista,<br />
desse “o <strong>que</strong> fizemos, certo” de <strong>que</strong> fala Sêneca; a famosa frase popular de <strong>que</strong> “os tempos<br />
não voltam mais”, <strong>que</strong> Proust <strong>mergulho</strong>u <strong>no</strong> seu clássico Em busca do tempo perdido.<br />
Virginia Woolf, nas suas memórias também fala desse momento de um tempo mais<br />
ligado à memória, ao falar dos seus tempos em St. Ives:<br />
Consigo alcançar um estado em <strong>que</strong> pareço estar vendo as coisas acontecerem como<br />
se eu estivesse lá. Isto é, creio, minha memória trazendo de volta o <strong>que</strong> eu tinha<br />
es<strong>que</strong>cido, e parece <strong>que</strong> tudo acontece por conta própria, embora seja eu <strong>que</strong>m está<br />
realmente fazendo tudo acontecer....as coisas <strong>que</strong> sentimos um dia com muita<br />
intensi<strong>da</strong>de tenham uma existência independente de <strong>no</strong>ssas mentes; ain<strong>da</strong> existiam<br />
de fato?...Não é possível então <strong>que</strong>, com o tempo, seja inventado algum meio com o<br />
qual possamos controlálas? Eu o vejo – o passado – como uma aveni<strong>da</strong> <strong>que</strong> ficou<br />
para trás; uma longa faixa de cenas e emoções (WOOLF, 1986, p.79).<br />
Interessante <strong>que</strong> nessa descrição do passado, V. Woolf coloca as emoções em forma<br />
de uma cena, e é exatamente nessa Cena <strong>da</strong> Cozinha, <strong>que</strong> Clarissa vê o seu passado também<br />
como uma Aveni<strong>da</strong>, mas <strong>que</strong> ao contrário de Virginia <strong>que</strong> se sente como um recipiente <strong>da</strong><br />
sensação de êxtase e deleite, Clarissa se conecta com o oposto, ou seja, a tristeza e a<br />
melancolia.<br />
Kierkegaard, <strong>no</strong> seu livro O conceito de angústia também fala do <strong>que</strong> seja o instante,<br />
como sendo o momento em <strong>que</strong> se abstrai do eter<strong>no</strong>: “O instante significa o presente como<br />
coisa sem passado nem futuro e aí está onde realmente está a imperfeição <strong>da</strong> existência<br />
sensual. O eter<strong>no</strong> possui igualmente o significado de presente sem passado nem futuro, porém<br />
isto mesmo é <strong>que</strong> indica a sua perfeição.” Ain<strong>da</strong> acrescenta <strong>que</strong> o instante é uma pura<br />
abolição abstrata do passado e do futuro, significando o presente, e <strong>que</strong> tempo e eterni<strong>da</strong>de<br />
precisam tocarse , apenas <strong>no</strong> tempo, e <strong>que</strong> somente <strong>no</strong> tempo isso é possível, surgindo então<br />
o instante. Kierkegaard explica também a raiz etimológica <strong>da</strong> palavra (movere), <strong>que</strong> em latim<br />
dizse “momentum”, e <strong>que</strong> expressa somente o desaparecer (1968, p. 9293).<br />
Gaston Bachelard, em seu A intuição do instante, discute as idéias de Roupnel e de<br />
Bergson. Para Roupnel “O tempo só tem uma reali<strong>da</strong>de, a do Instante.”; e Bachelard