xviii - Repositório Aberto da Universidade do Porto
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MARIA ROSÁKIO BASTOS/J. M. ALVEIRINHO DIAS<br />
moderno e contemporâneo está aparentemente bem estabeleci<strong>da</strong>. Sabemos hoje que no último<br />
quartel <strong>do</strong> séc. XV a lagoa de Mira era já pronuncia<strong>da</strong> nos <strong>do</strong>cumentos '2, o que indicia que<br />
estavam já defini<strong>da</strong>s as balizas espaciais <strong>da</strong> "ria". Este facto deve ter contribuí<strong>do</strong> para um<br />
sucessivo estrangulamento <strong>da</strong> baila, que foi divagan<strong>do</strong> para sul até, no séc. XVIII, ter atingi<strong>do</strong><br />
os areais de Mira, onde ficou muito assorea<strong>da</strong>, impossibilitan<strong>do</strong> a entra<strong>da</strong> de navios e<br />
provocan<strong>do</strong> um esta<strong>do</strong> de calami<strong>da</strong>de ao nível <strong>da</strong> agricultura, salicultura, pescas, transacções<br />
comerciais e saúde pública. Da<strong>da</strong> a premência de uma resolução foram tenta<strong>da</strong>s várias solu-<br />
ções para, finalmente, na primeira déca<strong>da</strong> <strong>do</strong> século XIX, se conseguir abrir uma barra artifi-<br />
cial que ain<strong>da</strong> hoje perdura com várias intervenções até à actuali<strong>da</strong>de.<br />
111- Conclusão<br />
Ao longo <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> histórico, a faixa litoral compreendi<strong>da</strong> entre Espinho e Mira foi<br />
sofren<strong>do</strong> modificações várias. Nos alvores <strong>da</strong> nacionali<strong>da</strong>de a lagoa de Ovil estava constituí<strong>da</strong>,<br />
abarca<strong>do</strong> as locali<strong>da</strong>des de Cortegaça, Esinoriz, Paramos e Silvalde. No séc. X entrarajá numa<br />
fase de assoreamento progressivo que a terá leva<strong>do</strong>, em virtude <strong>da</strong> acção carrea<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s rios<br />
nortenhos e, especialmente <strong>do</strong> Douro, a perder a sua faixa setentrional para, actualmente, se<br />
circunscrever a Paramos e Esmoriz. Em Ovar, no séc. X, deparamos com um porto marítimo,<br />
posteriormente desapareci<strong>do</strong> em virtude <strong>da</strong> formação <strong>da</strong> restinga arenosa que, no séc. XII<br />
atingia já a zona imediatamente a noite <strong>da</strong>Torreira. Estava inicia<strong>do</strong> o processo de formação <strong>da</strong><br />
laguna de Aveiro; mas estava-se longe <strong>da</strong> sua constituição definitiva até porque, ain<strong>da</strong> no séc.<br />
XII, o Vouga e o seu afluente Antuãdesmbocavam directamente no mar. Mais a sul, Ílhavo era<br />
bordeja<strong>do</strong> pelo mar. Ao longo de to<strong>da</strong> esta costa pululavam as marinhas de sal, o chama<strong>do</strong><br />
"ouro branco <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média", na feliz expressão de Michel Mollat, sal esse que catapultou a<br />
região para uma posição de destaque ao nível nacional. Mais tarde, já nos finais <strong>da</strong> Centlirin<br />
de Dirzentos, o sal tende a perder a begemonia como elemento fulcral <strong>da</strong> economia desta<br />
região, levan<strong>do</strong> a que a activi<strong>da</strong>de piscatória ganhe uma maior expressão. Aalteração <strong>da</strong> linha<br />
de costa, designa<strong>da</strong>mente com a regressão marinha e com a formação <strong>da</strong> laguna, levaram a um<br />
aproveitamento intensivo <strong>do</strong>s recursos naturais <strong>da</strong>í decoi~entes. Tal fez-se através <strong>da</strong> instalação<br />
de um eleva<strong>do</strong> número de masinhas, as quais, a curto prazo, acabaram por ser elas próprias um<br />
factor de alteração <strong>do</strong> meio recém-cria<strong>do</strong>, constituin<strong>do</strong>-se, possivelinente, como elemento<br />
potencia<strong>do</strong>r <strong>do</strong> assoreamento lagunar.<br />
Temos, no presente caso, um exemplo evidente <strong>da</strong> forma como o meio condicionou as<br />
activi<strong>da</strong>des humanas e, por outro la<strong>do</strong>, como estas intervieram na transformação desse mesmo<br />
meio, nomea<strong>da</strong>mente através <strong>do</strong> aumento ou diminuição <strong>do</strong> abastecimento sedimentar resultante<br />
<strong>da</strong> variação <strong>da</strong> pressão demográfica (e consequerite intensificação ou aban<strong>do</strong>no de cultivos)<br />
e decorrente toma<strong>da</strong> de opções de exploração económica. A somar a tu<strong>do</strong> isto, o deslocamento<br />
progressivo <strong>da</strong> barra para sul condicionou inexoravelmente o desenvolvimento de to<strong>do</strong><br />
o Baixo Vouga, que só adquire alguma estabili<strong>da</strong>de com a abertura <strong>da</strong> barra artificial, em<br />
ISOS.