xviii - Repositório Aberto da Universidade do Porto
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MARGARIDA SOBRAL NETO<br />
que contra a floresta e os matagais, e que constitui a ver<strong>da</strong>deira originali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> sua história<br />
rural. Tal como a Europa <strong>do</strong> Norte se constituiu, ou, pelo menos, expandiu à custa <strong>da</strong>s florestas,<br />
o Mediterrâneo encontrou nas planícies as suas zonas de expansão, as suas Américas<br />
interiore~"'~.<br />
O Baixo Mondego funcionou de facto como uma "América interior", constituin<strong>do</strong>-se<br />
como um pólo de atracção de gentes provenientes de diversos espaços"'. No entanto, nem<br />
to<strong>do</strong>s aqui encontraram condições de sobrevivência. Alguns deslocavam-se temporariamente<br />
para terras situa<strong>da</strong>s mais a Sul, nomea<strong>da</strong>mente para os campos de Setúhal à procura de um<br />
complemento de subsistência, outros fixaram-se mesmo por essas paragens. Amalha demasia<strong>do</strong><br />
aperta<strong>da</strong> <strong>do</strong> regime senhorial funcionou como um factor repulsivo <strong>da</strong> população com menores<br />
recursos, mas também <strong>da</strong>queles que dispunham de capitais para investir na terra.<br />
Ain<strong>da</strong> sobre o problema <strong>da</strong> beneficiação <strong>da</strong>s planícies escreve Fernand Braudel: "é<br />
indubitável que o financiamento <strong>da</strong>s regiões baixas se faz com os rendimentos <strong>do</strong> grande<br />
comércio, <strong>do</strong> comércio intercontinental. Só que este comércio pressupóe uma grande ci<strong>da</strong>de<br />
mercantil, aberta ao exterior, dispon<strong>do</strong> de grandes capitais, e capaz de assumir as<br />
responsabili<strong>da</strong>des e os riscos de empreendimento desta envergadura"". Ora Coimbra estava<br />
longe de ser uma ci<strong>da</strong>de mercantil. Com efeito, <strong>do</strong>minavam a urbe universitária vários mosteiros<br />
de ordens regulares, o Cabi<strong>do</strong>, a Universi<strong>da</strong>de e a Vereação, que a partir de 1730 se elitizou,<br />
nela ten<strong>do</strong> lugar apenas os estratos mais eleva<strong>do</strong>s <strong>da</strong> aristocracia coimbrã".<br />
Os poderosos <strong>da</strong> região de Coimbra, alicerça<strong>do</strong>s num regime de proprie<strong>da</strong>de que se<br />
estruturara na I<strong>da</strong>de Médiae consoli<strong>da</strong>ra com a reforma manuelina <strong>do</strong>s forais manten<strong>do</strong>-se até<br />
às reformas <strong>do</strong> liberalismo, transformai-am os campos de Mondego va sua pequena "América<br />
interior", impedin<strong>do</strong> o seu desenvolviiiiento económico.<br />
Ressalte-se, no entanto que, a mu<strong>da</strong>nça de regime de proprie<strong>da</strong>de opera<strong>da</strong> após 1834<br />
não veio trazer a solução para o problema <strong>da</strong>s cheias <strong>do</strong> Mondego, como o demonstram as<br />
inun<strong>da</strong>ções ocorri<strong>da</strong>s no início <strong>do</strong> comente ano. Com efeito, o problema persistiu com outros<br />
regimes de proprie<strong>da</strong>de e outros proprielários bem como com outras políticas.<br />
"O esforço <strong>do</strong> Homem naBacia<strong>do</strong> Mondego" ain<strong>da</strong> não encontrou o campo de aplicação<br />
certo para convergir harmoniosamente com a impetuosi<strong>da</strong>de de um rio agreste que teima em<br />
não se submeter aos coletes de força <strong>da</strong> civilização.<br />
" Cf Cravid50, Fernan<strong>da</strong> Delga<strong>do</strong> -A Popirlapio e o Povoci»ie,~ro<br />
" 01 cir., p. 99.<br />
" Soares, Sérgio Cunha - O i>?rrtzicipio<br />
"I Braudel, Fernnnd - O Medirri?F,ico e o Miriirlo Mc