xviii - Repositório Aberto da Universidade do Porto
xviii - Repositório Aberto da Universidade do Porto
xviii - Repositório Aberto da Universidade do Porto
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O <strong>Porto</strong> de Vila <strong>do</strong> Conde no Século XVI<br />
Depoimentos históricos e<br />
perspectivas cartográficas<br />
Amélia Polónia<br />
Ao pretender desenvolver estu<strong>do</strong>s em torno <strong>da</strong> história portuária o historia<strong>do</strong>r não<br />
pode deixar de partir <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> espaço, em particular de abor<strong>da</strong>gens centra<strong>da</strong>s no <strong>do</strong>mínio<br />
<strong>da</strong> geomorfologia. A falta de uma colaboração inter-disciplinar, nomea<strong>da</strong>mente <strong>da</strong> Geografia,<br />
induz, porém, as abor<strong>da</strong>gens efectua<strong>da</strong>s em limitações que importa evidenciar. Essas limitações<br />
são, antes de mais, de ordem científica: o historia<strong>do</strong>r não dispõe de formação conceptual e<br />
meto<strong>do</strong>lógica suficiente, nem está, por norma, familiariza<strong>do</strong> com enfoques epistemológicos<br />
que lhe permitam potenciar as observações realiza<strong>da</strong>s no meio físico, ou avaliar cabalmente as<br />
informações veicula<strong>da</strong>s, nesse <strong>do</strong>mínio, pela <strong>do</strong>cumentação de que dispõe.<br />
Percursos alternativos, como o recurso àprodução de saber disponível sobre os espaços<br />
portuários, revelam também alguns escolhos: ou se remete aos contributos <strong>do</strong>s grandes mestres<br />
<strong>da</strong> geografia histórica portuguesa, em que sobressaem Jaime Corlesão e Orlan<strong>do</strong> Ribeiro, ou<br />
se busca uma actualização <strong>do</strong> conhecimento entre aqueles que, mais recentemente, e incluí<strong>do</strong>s<br />
em diversas escolas e projectos de investigação, estu<strong>da</strong>m aspectos relaciona<strong>do</strong>s com o litoral,<br />
direcciona<strong>do</strong>s em múltiplas perspectivas. Entre estes poderíamos citar os trabalhos de Assunção<br />
Araújo (EL.U.P.), Francisco Veloso Gomes e Francisco Taveira Pinto (F.E.U.P.), Soares de<br />
Carvalho e Helena Granja (U. Minho), Filomena Martins (U. Aveiro), ou António Alberto<br />
Gomes, Fernan<strong>do</strong> <strong>da</strong> Silva Rebelo, ou Proença e Cunha (U. Coimbra). Estes, porém, ain<strong>da</strong><br />
que fornecen<strong>do</strong> importantes contributos meto<strong>do</strong>lógicos, desenvolvem leituras centra<strong>da</strong>s, ora<br />
em perío<strong>do</strong>s muito recua<strong>do</strong>s (<strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r <strong>da</strong> época moderna, é claro), ora<br />
na contemporanei<strong>da</strong>de, produzin<strong>do</strong> um saber não aplicável, de forma directa, à reali<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s<br />
complexos geográficos que se pretendem estu<strong>da</strong>r: os de há cerca de quatro ou cinco séculos<br />
atrás.<br />
O recurso à produção exclusivamente historiográfica não se revela mais profícuo: para<br />
além de diminuta, esta limita-se, na maior parte <strong>do</strong>s casos, a veicular informações <strong>do</strong>cumentais<br />
que apontam para a existência de fenómenos de assoreamento de bacias hidrográficas, em<br />
particular <strong>da</strong>s barras <strong>do</strong>s principais rios portugueses, evidencian<strong>do</strong> as suas consequências,<br />
sem, to<strong>da</strong>via, filtrar os testemunhos coligi<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s intencionali<strong>da</strong>des que Ihes subjazem, o que<br />
os leva a exacerbar os efeitos e, por consequência, a real dimensão <strong>do</strong> problema. Outro <strong>do</strong>s<br />
caminhos a seguir poderá passar pela análise <strong>da</strong> produção cartográfica coeva, nomea<strong>da</strong>mente<br />
aquela mais vocaciona<strong>da</strong> à representação <strong>da</strong>costa, ou à orientação de percursos marítimos. Os<br />
chama<strong>do</strong>s portulanos e os roteiros de navegação integram-se neste grupo. Sem desprezarmos<br />
esta via de trabalho, estão já evidencia<strong>da</strong>s limitações que nos levam a questionar a fidedigni<strong>da</strong>de<br />
<strong>do</strong>s perfis representa<strong>do</strong>s nos tempos em estu<strong>do</strong>. A falta de rigor técnico que informa os