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xviii - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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ELVIRA AZEVEDO MEA<br />

obtinha resulta<strong>do</strong>s mais palpáveis e rápi<strong>do</strong>s, situação que podia vir a definir-se muito depressa<br />

com a detenção imediata <strong>do</strong> argui<strong>do</strong>, sempre que o visita<strong>do</strong>r julgasse suficiente a acusação e<br />

pudesse existir o perigo <strong>do</strong> incrimina<strong>do</strong> escapar ...<br />

A gente "de nação'' encontrou-se despreveni<strong>da</strong> perante estas e outras novi<strong>da</strong>des de<br />

actuação que não deixavam grandes possibili<strong>da</strong>des de manobra, visto que pressupostos<br />

denunciantes podiam ser chama<strong>do</strong>s, a triagem <strong>da</strong>s acusações era imediata e como podia ser<br />

logo segui<strong>da</strong> de detenção, nem sequer <strong>da</strong>va tempo para a contra-informação que poderia<br />

preceder a fuga ou, no mínimo gizar uma estratégia de defesa ...<br />

Coino este ver<strong>da</strong>deiro cerco se fez a nível nacional também não houve oportuni<strong>da</strong>de<br />

para os novos méto<strong>do</strong>s se tornarem suficientemente conheci<strong>do</strong>s e estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s de molde a<br />

aproveitar de possíveis lacunas legislativas.<br />

Só assim foi possível desagregare destruir vánas <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des nortenhas, escu<strong>da</strong><strong>da</strong>s,<br />

como vimos, na sua inserção na vi<strong>da</strong> activa <strong>da</strong> região, nos seus contactos e influências, até<br />

mesmo na sua imersão no seio <strong>do</strong> clero e no "sangue limpo" de velhas linhagens ...<br />

O choque foi tão grande que se nos deparam situações inusita<strong>da</strong>s, como o pânico de<br />

alguns cristãos-novos, a obstrução de cristãos-velhos à anómala forma de actuar <strong>do</strong> tribunal e<br />

o escân<strong>da</strong>lo geral causa<strong>do</strong> pelos ju<strong>da</strong>izantes eclesiásticos e conventuais:<br />

Em Aveiro, terra virgem em visitações, a situação é facilmente <strong>do</strong>mina<strong>da</strong> pelo jovem<br />

inquisi<strong>do</strong>r D. Sebastião de Matos de Noronha, ansioso por "mostrar serviço" e avançar na<br />

carreira.<br />

No <strong>Porto</strong> tu<strong>do</strong> se complica porque se gera um grave conflito entre poderes:<br />

O poder inquisitorial encarna<strong>do</strong> no arrogante D. Sebastião de Matos de Noronha versus<br />

o judicial, nomea<strong>da</strong>mente o novíssimo tribunal <strong>da</strong> Relação, cujo presidente, Diogo Lopes de<br />

Sousa, se recusou a receber no seu cárcere presos <strong>da</strong> visitação inquisitorial, sem um pedi<strong>do</strong><br />

por escrito, o que demorou algum tempo. Nesse entretanto, o inquisi<strong>do</strong>r viu gorar-se parte <strong>da</strong><br />

estratégiaque tinha giza<strong>do</strong> para mais eficazmente prender figuras gra<strong>da</strong>s <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, pretenden<strong>do</strong><br />

utilizar para isso, em simultâneo, o aljube eclesiástico e as celas <strong>do</strong> tribunal <strong>da</strong> Relação. Só<br />

assim conseguiria meter em separa<strong>do</strong> conjugues, que ficavam na ignorância de que tinham<br />

prendi<strong>do</strong> o outro.<br />

D. Sebastião de Matos de Noronha utilizou como intermediário o juiz <strong>do</strong>s ÓKaos, que<br />

perante a recusa <strong>do</strong> presidente <strong>do</strong> tribunal <strong>da</strong> Relação, se viu obriga<strong>do</strong> a an<strong>da</strong>r com um preso<br />

notável pela ci<strong>da</strong>de, entre outras peripécias mais ou menos rocambolescas, que causaram<br />

escân<strong>da</strong>lo e <strong>da</strong>nos, já que os mais visíveis na conten<strong>da</strong>, mas sem quaisquer poderes de decisão,<br />

como o juiz <strong>do</strong>s órfãos e o carcereiro tiveram problemas com a Inquisição.<br />

Asituação foi de tal mo<strong>do</strong> grave que o inquisi<strong>do</strong>r, quan<strong>do</strong> se encontrava em Guimarães,<br />

viu-se obriga<strong>do</strong> a interromper a visitação por ter si<strong>do</strong> chama<strong>do</strong> a Madrid.<br />

Apesar de to<strong>do</strong>s estes percalços esta visitação foi uma <strong>da</strong>s mais profícuas deste perío<strong>do</strong>,<br />

quer pela quanti<strong>da</strong>de mas sobretu<strong>do</strong> pela quali<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s deti<strong>do</strong>s, gente escolhi<strong>da</strong>, cuja<br />

importância no burgo foi bem visível através <strong>da</strong> que<strong>da</strong> <strong>da</strong>s receitas fiscais <strong>da</strong> Câmara portuense.<br />

Com efeito prendeu-se, de supetão, mais de cento e cinquenta pessoas, a maioria <strong>da</strong> nata <strong>da</strong><br />

gente "<strong>da</strong> nação".<br />

Esta "entra<strong>da</strong>" veio abrir a brecha que faltava para o Santo Ofício iniciar to<strong>do</strong> o<br />

procedimento <strong>da</strong>s chama<strong>da</strong>s "grandes prisões" de Coimbra, pois encontraram-se elos de ligação

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