xviii - Repositório Aberto da Universidade do Porto
xviii - Repositório Aberto da Universidade do Porto
xviii - Repositório Aberto da Universidade do Porto
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
AS COMUNIDADES LITORÂNEAS DE SETL~BAL E LISBOA<br />
lhe o processo de centralização <strong>do</strong> poder que estavaem curso". Ein contraparti<strong>da</strong>, as fun<strong>da</strong>ções<br />
<strong>do</strong> Purgatório asseguravam, quase sempre com o beneplácito régio, a sobrevivência económica<br />
de muitos institutos religiosos".<br />
Por outro la<strong>do</strong>, também não se pode ignorar que a vinculação realiza<strong>da</strong> no contexto <strong>do</strong><br />
Purgatório desempenhou uina importante função socioeconómica, servin<strong>do</strong> os interesses de<br />
um grupo social muito alarga<strong>do</strong> e até <strong>do</strong> próprio Esta<strong>do</strong> que, se não permitiu explicitamente o<br />
fenómeno, pelo menos acabou por o tolerar. E isto por <strong>do</strong>is motivos: porque a criação de<br />
capelas evitava a fragmentação <strong>da</strong> pequena proprie<strong>da</strong>de -já que foi sobre ela se ergueu a<br />
esmaga<strong>do</strong>ra maioria <strong>da</strong>s capelas -, e porque tinlia o mérito de, em simultâneo, des<strong>do</strong>brar o<br />
direito de proprie<strong>da</strong>de, multiplican<strong>do</strong> o número de proprietários num país onde eles não<br />
abun<strong>da</strong>vam.<br />
3. Retoman<strong>do</strong> aqueslio inicialmente formula<strong>da</strong>: afinal qual foi o impacto <strong>do</strong> Purgatório<br />
na economia nacional? Seguramente grande, embora as probabili<strong>da</strong>des <strong>do</strong> seu peso vir a ser<br />
quantifica<strong>do</strong> sejam quase nulas. De qualquer mo<strong>do</strong>, o pmbleina é importante e ultrapassa os<br />
tópicos aqui levanta<strong>do</strong>s. Apesar disso, talvez se justifiqiie insistir nalgumas questões que, em<br />
meu entender, merecem um api-ofun<strong>da</strong>iiiento ernpírico.<br />
Ein primeiro lugar, é absolutaineiite prioritária a clarificação de conceitos, definin<strong>do</strong>,<br />
de uina vez por to<strong>da</strong>s, o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> termo vínc~llo, e distinguin<strong>do</strong>, de segui<strong>da</strong>, vínculo de<br />
morga<strong>do</strong> de vínculo de capela, já que esse é o critério operacional que abre o caminho para o<br />
entendimento de to<strong>do</strong> o problema. Nesse senti<strong>do</strong>, Iiá que reabilitar o quase ignora<strong>do</strong> regimento<br />
inanuelino, Dos Resirlu.~, e eiil que ~iinizeirn o Co~ttarlorproverrí sobre elles, e sobre os OtfZos<br />
e Cqelas, o primeiro <strong>do</strong>cumento conheci<strong>do</strong> a registar as preocupações de quem vê misturar<br />
bens <strong>da</strong>s famílias com os bens <strong>da</strong>s almas, e a clarificar as fi-onteiras que os separavam".<br />
A coinpreensão <strong>do</strong> processo histórico passa então por uma sumária coiitabilização que<br />
identifique quantos morga<strong>do</strong>s com capelas foram instituí<strong>do</strong>s até à promulgação <strong>do</strong> dito<br />
regimento e qiiantas capelas tinham si<strong>do</strong> fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s "à maneira de morga<strong>do</strong>". Um patamar<br />
prévio que aju<strong>da</strong>rá a deslin<strong>da</strong>r os principais inovimentos <strong>da</strong> etapa seguinte: aquela em que a<br />
socie<strong>da</strong>de civil toinou conta <strong>do</strong> fenóineno <strong>do</strong> Purgatório - na perspectiva de instituição de<br />
iiiissas para a eterni<strong>da</strong>de - para, sobre ele, e à conta <strong>da</strong>s respectivas "terças", desencadear um<br />
extraordinário inovimento de vinculação <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de - desde os imóveis até aos foros,<br />
censos e ren<strong>da</strong>s-crian<strong>do</strong> lit~lzage~zs e patrimonializan<strong>do</strong>-as com bens que, como mais tarde se<br />
lerá nos diploinas pombalinos, «nem podem principiar familias no terceiro esta<strong>do</strong>; nem<br />
conservar o decóro <strong>da</strong>s que já se achão eleva<strong>da</strong>s aos gráos <strong>da</strong> Nobreza»'5.<br />
Para apreender a real dimensão deste fenómeno há que o limitar temporalmente ao<br />
perío<strong>do</strong> ein que ele se definiu em to<strong>da</strong> a sua plenitude -o século XVII - e chamar à colação<br />
to<strong>da</strong>s as variáveis que intervieram no processo, quer sejam de ín<strong>do</strong>le religiosa, quer política<br />
ou social. A comparação com países como a Inglaterra e a Holan<strong>da</strong> que, na mesma altura,<br />
"E tarnbéiii a assistêiicia unia vez oue desde a entreoa <strong>da</strong>s hosoitais Bs Misericórdias. realiza<strong>da</strong> nas últiinas déca<strong>da</strong>s<br />
cortsi