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xviii - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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As comuni<strong>da</strong>des litorâneas de Setúbal e Lisboa em<br />

tempos de Contra-Reforma<br />

Laurin<strong>da</strong> Abreu *<br />

1. A emergência <strong>da</strong> crença no Purgatório como estádio intermédio e purifica<strong>do</strong>r <strong>da</strong>s<br />

almas peca<strong>do</strong>ras é um feuómeno poderosíssimo que desde há algumas déca<strong>da</strong>s tem prendi<strong>do</strong><br />

a atenção <strong>do</strong>s investiga<strong>do</strong>res que se ocupam <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s comportamentos religiosos e <strong>da</strong><br />

história <strong>da</strong>s mentali<strong>da</strong>des. To<strong>da</strong>via, o Purgatório não se reduz a uma questão de fé ou de<br />

atitudes. Numa perspectiva histórica, e enquanto fenómeno social, ele é também um "objecto<br />

económico". Equacionan<strong>do</strong> o problema de uma outra forma, poder-se-á dizer que o Purgatório<br />

é uma manifestação religiosa que teve complexas repercussões económicas. E isto por duas<br />

razões principais: porque foi responsável pelo aumento <strong>do</strong> património <strong>da</strong> Igreja e porque<br />

potenciou o movimento de vinculação <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de. Os efeitos <strong>da</strong>qui decorrentes foram<br />

imediatos: crescimento exponencial <strong>da</strong> amortização eclesiástica e aprisionamento <strong>da</strong> terra e<br />

<strong>do</strong>s seus rendimentos nas malhas <strong>do</strong> instituto vincular, retiran<strong>do</strong>-os <strong>do</strong>s circuitos comerciais.<br />

Estes <strong>do</strong>is factores são, no entanto, frequentemente negligencia<strong>do</strong>s quer por quem cen-<br />

tra as suas análises no campo <strong>da</strong> espirituali<strong>da</strong>de quer por aqueles que elegem a história<br />

económica como área privilegia<strong>da</strong> de trabalho. Sem sobrestimar o papel <strong>do</strong> Purgatório nos<br />

mecanismos que orientaram/condicionaram a economia nacional, a ligação <strong>do</strong> religioso ao<br />

económico - através de estu<strong>do</strong>s sistemáticos e geograficamente alarga<strong>do</strong>s que multipliquem<br />

os ângulos de abor<strong>da</strong>gem e cmzem os elementos ditos "materiais" com outros que, embora de<br />

diferente essência, os influenciaram -, é absolutamente obrigatória sob pena de se continuar a<br />

ter uma visão parcial <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> país. Uma constatação que é tão mais pertinente se se<br />

tiver presente que o perío<strong>do</strong> determinante desta relação ocorreu, sob os auspícios <strong>do</strong> Concílio<br />

de Trento, entre as últimas déca<strong>da</strong>s <strong>do</strong> século XVI e os anos finais <strong>do</strong> século seguinte: um<br />

tempo que, para além de to<strong>da</strong>s as problemáticas interpretativas que o rodeiam, foi, nos países<br />

protestantes, o <strong>da</strong> desamortização compulsiva e eliminação de vários tipos de proprie<strong>da</strong>de,<br />

toman<strong>do</strong> as terras alienáveis e libertan<strong>do</strong>-as para a voragem <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s. No que conceme à<br />

reali<strong>da</strong>de portuguesa, ain<strong>da</strong> que seja consensual o facto de o património eclesiástico e de os<br />

morga<strong>do</strong>s e capelas terem funciona<strong>do</strong> como travão ao desenvolvimento económico <strong>do</strong> país,<br />

raramente a avaliação é feita em articulação com a explosão <strong>da</strong>s fun<strong>da</strong>ções de missas perpétuas<br />

que vincularam to<strong>do</strong> o tipo de bens à eterni<strong>da</strong>de e entregaram importantes parcelas <strong>do</strong> território<br />

nacional aos diferentes institutos religiosos.<br />

'Departamento de História <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Évora. CIDEHUS.

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