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xviii - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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DLURINDA ABREU<br />

Vêm estas considerações apropósito <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de um centro urbano marítimo-Setúbal<br />

na I<strong>da</strong>de Moderna - que teve a particulari<strong>da</strong>de de revelar um conjunto de circunstâncias<br />

cronologicamente coincidentes e factualmente interdependentes, que pareciam responsáveis<br />

pela configuração de urna reali<strong>da</strong>de espacialmente diferencia<strong>da</strong>. O aprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s<br />

investigações e a sua abertura a outros quadrantes geográficos mostrariam quão limita<strong>da</strong> era a<br />

especifici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vila sadina.<br />

Sucintamente, a situação encontra<strong>da</strong> em Setúbal nos alvores <strong>da</strong> i?ioderni<strong>da</strong>de mostrava<br />

uma comuni<strong>da</strong>de em pleno processo de expansão comercial assente na exportação <strong>do</strong> peixe e<br />

socialmente <strong>do</strong>mina<strong>da</strong> pelos homens <strong>do</strong> mar. Em 1525, quan<strong>do</strong> o Mestre <strong>da</strong> Ordem de San-<br />

tiago desencadeia a exploração sistemática <strong>do</strong> salga<strong>do</strong> <strong>do</strong> estuário <strong>do</strong> Sa<strong>do</strong>, o cenário alterava-<br />

se e a vila entrava num novo ciclo económico, afirman<strong>do</strong>-se como maior exporta<strong>do</strong>r nacional<br />

de sal'. Os números apresenta<strong>do</strong>s por Virgínia Rau relativos aos barcos carrega<strong>do</strong>s de sal em<br />

Setúbal, e regista<strong>do</strong>s na passagem pelo Sund, desenhavam desde logo uma situação que fugia<br />

is tradicionais representações <strong>do</strong> século XVII: 7 barcos em 1558,538 entre 1560 e 1569,868<br />

no perío<strong>do</strong> de 1574 a 1580; 100 nos anos críticos de 1586-87; 265 entre 1588-1590; 1.092 na<br />

déca<strong>da</strong> seguinte, 827 nos primeiros dez anos <strong>do</strong> século XVII; 1.322 entre 1611 c 1620. Na<br />

sequência <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> Luso-Holandês de 1669, e recupera<strong>da</strong> <strong>da</strong> crise que se seguiu ao fim <strong>da</strong><br />

Trégua <strong>do</strong>s Doze Anos, a vila reencontraria o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> desenvolvimento - comprova<strong>do</strong><br />

pelos 1500 barcos carrega<strong>do</strong>s de sal na barra <strong>do</strong> Sa<strong>do</strong> entre 1680 e 1690 -e fechava o século<br />

num ambiente globalmente positivo2.<br />

Um <strong>do</strong>s primeiros indica<strong>do</strong>res de que o movimento conjuntura1 <strong>da</strong>s tendências<br />

económicas exercera profun<strong>da</strong>s influências na comuni<strong>da</strong>de seria <strong>da</strong><strong>do</strong> pela população. Aanálise<br />

às fontes literárias, sustenta<strong>da</strong> no levantamento <strong>do</strong>s Registos Paroquiais, acabaria por revelar<br />

comportamentos pouco concor<strong>da</strong>ntes com as tendências gerais <strong>do</strong> país. Expostos graficamente,<br />

os números mostravam uma íntima ligaçãoldependência com as pulsões <strong>do</strong> negócio <strong>do</strong> sal:<br />

crescimento durante as primeiras déca<strong>da</strong>s <strong>da</strong> ocupação filipina - continuan<strong>do</strong>, o impulso<br />

expansionista desencadea<strong>do</strong> em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVI -, acentua<strong>da</strong> diminuição nas últimas,<br />

numa que<strong>da</strong> que se prolonga até 1660, segui<strong>da</strong> de um novo arranque de senti<strong>do</strong> positivo a<br />

partir <strong>da</strong> retoma <strong>do</strong>s contactos comerciais com a Holan<strong>da</strong>. Por volta de 1680, a "crise"<br />

demográfica estava venci<strong>da</strong>, apresentan<strong>do</strong> uma tendência de crescimento que se prolongaria,<br />

ain<strong>da</strong> que não isenta de oscilações, até aos primeiros anos <strong>do</strong> século XIX.<br />

Mas não era apenas a demografia que reflectia os efeitos <strong>do</strong> comércio salineiro. O<br />

súbito enriquecimento <strong>do</strong>s produtores <strong>do</strong> sal conduziria não só complexização e sequente<br />

reorganização <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> social como provocaria a deslocação <strong>do</strong> centro <strong>do</strong> poder municipal<br />

<strong>da</strong>s mãos <strong>do</strong>s marítimos para a tutela <strong>da</strong>s novas elites. Um processo de transferência de poderes<br />

justifica<strong>do</strong> pela necessi<strong>da</strong>de de controlo <strong>do</strong>s preços e comercialização <strong>do</strong> sal, que o Cardeal D.<br />

' Ocorrência particularmente feliz para a promoção <strong>da</strong> sal de Setúbal foi, nas palavras de Jorge Borges de Mace<strong>do</strong>, o<br />

facto de os primeiros resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> sua exploraçZa coincidirem com agrandcza comercial de Lisboa, então praça de<br />

um vasto império, &i<strong>da</strong> de merca<strong>do</strong>rias que alargassem o leque <strong>da</strong>s exportaqães possíveis». (Cf. Seriíbnl na Hisrórlo,<br />

Senibal, Lasa, 1990, p. 184). As informa$ões que apresentamos relativas a Setúbal foram resumi<strong>da</strong>s <strong>da</strong> nossa obra,<br />

Memórias <strong>da</strong> Abnn e <strong>do</strong> Corpo. A Misrircórdia de Senibnl >,a Modenii<strong>da</strong>dc, Viseu, Palimagc, 1999.<br />

'Valores encontra<strong>do</strong>s a paitir <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s apresenla<strong>do</strong>s ao longo <strong>da</strong> obra de Virgínia Rau, Esfi

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