xviii - Repositório Aberto da Universidade do Porto
xviii - Repositório Aberto da Universidade do Porto
xviii - Repositório Aberto da Universidade do Porto
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
portulanos, tributária, de resto, <strong>da</strong>s deficiências <strong>do</strong>s processos cartográficos <strong>da</strong> época* e o<br />
facto de serem simples cartas ruma<strong>da</strong>s e náo gradua<strong>da</strong>s e trabalharem apenas com distâncias<br />
estima<strong>da</strong>s são motivos suficientes para relativizar as conclusões apura<strong>da</strong>s apartir <strong>da</strong> sua leitura'.<br />
Como alternativa fiável só se nos apresenta um caminho: o <strong>da</strong> interdisciplinari<strong>da</strong>de,<br />
que congregue, em equipas conjuntas, historia<strong>do</strong>res, geógrafos, engenheiros hidráulicos e<br />
mesmo arquitectos urbanistas, de mo<strong>do</strong> a que possam ser discuti<strong>da</strong>s, em simultâneo, as<br />
limitações ou potenciali<strong>da</strong>des físicas de um espaço, mas também a capaci<strong>da</strong>de humana, e<br />
técnica, de intervir nesse espaço, alteran<strong>do</strong> quadros naturais e ultrapassan<strong>do</strong> condicionalisinos<br />
físicos.<br />
O que aqui nos propomos é apresentar uma descrição <strong>do</strong> porto de Vila <strong>do</strong> Conde, luz<br />
de testemunhos históricos, escritos e cartográficos, de mo<strong>do</strong> a que as limitações <strong>da</strong>s fontes,<br />
por um la<strong>do</strong>, e as <strong>do</strong> olhar <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r, por outro la<strong>do</strong>, possam ser confronta<strong>do</strong>s e aferi<strong>do</strong>s<br />
por especialistas, nomea<strong>da</strong>mente <strong>da</strong> área <strong>da</strong> geomorfologia e <strong>da</strong> cartogiafia histórica.<br />
2. Perfil <strong>do</strong> porto e barra de Vila <strong>do</strong> Conde. A questão <strong>da</strong> acessibili<strong>da</strong>de<br />
O primeiro desses testemunhos é constituí<strong>do</strong> por uns autos de inquirição feitos nos<br />
anos 1540-1542, inicia<strong>do</strong>s pelo correge<strong>do</strong>r <strong>da</strong> Comarca de Guimarães e prossegui<strong>do</strong>s pelo <strong>da</strong><br />
comarca <strong>do</strong> <strong>Porto</strong>?. O processo em causa é despoleta<strong>do</strong> pela pretensão <strong>do</strong>s oficiais <strong>do</strong> concelho<br />
de derrubarem açudes construí<strong>do</strong>s no rio Ave ein torno de três azenhas, situa<strong>da</strong>s,<br />
respectivamente, nas margens sul e norte <strong>do</strong> rio Ave, junto a Azurara e Vila <strong>do</strong> Conde, e na<br />
Retorta. Nele se incluem observações ir1 loco e depoimentos de testemunhas: quer as arrola<strong>da</strong>s<br />
pelas duas partes que se encontravam em conten<strong>da</strong>, os oficiais <strong>da</strong> câmara, por um la<strong>do</strong>, e os<br />
proprietários e arren<strong>da</strong>tários <strong>da</strong>s azenhas <strong>do</strong> rio Ave, por outro, quer as intima<strong>da</strong>s pelos próprios<br />
coi~ege<strong>do</strong>res. A estas juntam-se pareceres de especialistas (pilotos e homens <strong>do</strong> mar) <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />
<strong>do</strong> <strong>Porto</strong>, mencionan<strong>do</strong>-se ain<strong>da</strong> um levantamento topográfico efectua<strong>do</strong> por um pintor trazi<strong>do</strong><br />
pelo correge<strong>do</strong>r dessa ci<strong>da</strong>de em 1542, o qual não se encontra, porém, anexo aos autos de<br />
diligência3. No seu conjunto o processo apresenta um quadro de configuração problemática,<br />
se atendermos às intenções subjacentes aos depoimentos de ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s partes envolvi<strong>da</strong>s, e<br />
aos interesses em jogo.<br />
A pretensão concelhia de derrubar os açudes feitos em torno <strong>do</strong>s três referi<strong>do</strong>s grupos<br />
de azenhas, os quais eram ti<strong>do</strong>s como responsáveis pelo assoreamento <strong>do</strong> rio e barra, baseia-se<br />
no pressuposto de que, interferin<strong>do</strong> com o natural curso <strong>da</strong>s águas e marés <strong>do</strong> rio Ave, as<br />
1 Vd., sobre esta matéria, DAVEAU, Suzanne -As FonitosLiromis in "Geografia de Portugal. 1.A posi$Zo geografica<br />
e a território", Lisboa, Ed. S:i <strong>da</strong> Costa. 1987, p. 98-107 e MARTINS, A. Fernandes -A corflgfigirrrrç~o