19.04.2013 Views

xviii - Repositório Aberto da Universidade do Porto

xviii - Repositório Aberto da Universidade do Porto

xviii - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

GERALDO J. A. COELHO DIAS<br />

folclóricos, os zés pereiras e tambores, os foguetes, as <strong>da</strong>nças e descantes, a feira e os<br />

merendeiros, e, à beira mar, as sardinha<strong>da</strong>s e festas <strong>do</strong> marisco. Não foi seni emoção e admiração<br />

que Pièrre Sanchis, observan<strong>do</strong> e analisan<strong>do</strong> as festas <strong>do</strong> Minho, escreveu o seu curioso e<br />

premonitor estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> religiosi<strong>da</strong>de minhota 4.<br />

Dentro desta religião popular, os santos e suas imagens funcionam como "isótopos <strong>do</strong><br />

divino", símbolos ectrópicos <strong>do</strong> sagra<strong>do</strong>. É que os santos são to<strong>do</strong>s áulicos de Deus e não seus<br />

rivais, como poderia parecer a quem, falho de simpatia, vê tu<strong>do</strong> pelo la<strong>do</strong> de fora; afinal, para<br />

o crente popular, tu<strong>do</strong> o que diz respeito aos santos toca a Deus e ao homem. Venerar um santo<br />

é também venerar a Deus. Por conseguinte, a estrutura tipológica de qualquer festa ou romaria<br />

engloba sempre como elementos constitutivos:<br />

1) - a iereia ou capela - onde se venera a imagem milagrosa <strong>do</strong> santo que é preciso tocar<br />

ou beijar;<br />

2) - a romacem - que é preciso fazer para participar <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> ou consolação hierofânica<br />

que se deseja;<br />

3) - o romeiro - religiosamente vesti<strong>do</strong> de festa ou com a mortalha, que vem agradecer<br />

ou suplicar e recolhe o respectivo que guar<strong>da</strong> como título de garantia;<br />

4) - a oromessa - que se tem de cumprir ou "pagar" escrupulosamente ofertan<strong>do</strong> ex-<br />

votos, cera ou dinheiro;<br />

5) - a - que é necessário fazer e gozar.<br />

I1 -Mas, como era, então, a religião popular e a devoção <strong>da</strong>s gentes <strong>do</strong> mar?<br />

Antes de mais, seria interessante estu<strong>da</strong>r os topónimos <strong>da</strong>s freguesias marítimas e<br />

verificar como a onomástica não nos orienta para o mar, mas sim para o sistema medieval <strong>do</strong>s<br />

terratenentes e <strong>da</strong> rurali<strong>da</strong>de.<br />

Então que há de religiosamente típico <strong>do</strong> mar nas nossas feguesias atlânticas? Antes de<br />

mais, não se pode ignorar a importância<strong>do</strong> próprio mar nas capelas que entretanto se fun<strong>da</strong>ram,<br />

nos santos que aí são invoca<strong>do</strong>s, nas confrarias a que se recorreu para criar o espírito de aju<strong>da</strong><br />

mútua. Vejam o caso de Esposende, na foz <strong>do</strong> Cáva<strong>do</strong>. O porto está hoje quase assorea<strong>do</strong> e<br />

aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> na era <strong>da</strong>s descobertas, cerca de 1527, Esposende foi eleva<strong>da</strong> a Vila. Ali,<br />

mesmo junto ao mar, havia uma vi<strong>da</strong> frenética, os estaleiros animavam a foz <strong>do</strong> rio e <strong>da</strong>vam<br />

saí<strong>da</strong> a gente ousa<strong>da</strong> para as arma<strong>da</strong>s ultramarinas, sobretu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Brasil. Daí derivará a-<br />

<strong>do</strong> Senhor <strong>do</strong>s Naveeantes, na Igreja <strong>da</strong> Misericórdia, com rica talha <strong>do</strong>ura<strong>da</strong> e curiosa<br />

simbologia decorativa e só depois se construirá a Igreja Matriz.<br />

Com as Memórias Paroquiais de 1758, confronta<strong>da</strong>s com as Inquirições e o<br />

Numeramento <strong>do</strong>s fogos de 1527, seria curioso fazer a inventariação <strong>da</strong>s paróquias, a erecção<br />

de igrejas e capelas, o aparecimento de confrarias liga<strong>da</strong>s às gentes <strong>do</strong> mar e sublinhar as suas<br />

devoções específicas! Para isso, seria preciso percorrer os arquivos <strong>da</strong>s paróquias marítimas<br />

para sabermos <strong>da</strong> sua criação mais tardia e sentir o palpitar <strong>da</strong>s suas gentes.<br />

Quanto às devoções, a gente <strong>do</strong> mar que vê os seus homens partir à aventura, recorre<br />

particularmente a Jesus como Salva<strong>do</strong>r e a Maria, mãe de Jesus e Senhora Nossa.<br />

Olhan<strong>do</strong> para Cristo, vêm-no como Senhor Bom Jesus, Senhor <strong>do</strong>s Aflitos a acolher a<br />

SANCHIS, Pierre - Arroiol. Fcsrn ditirr povo As roni

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!