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xviii - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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ELVIRA AZEVEDO MEA<br />

<strong>Porto</strong>, o que só se veio a verificar depois <strong>do</strong> Perdão Geral de 1605.<br />

É que, entretanto, houve tempo para preparar vános géneros de imuni<strong>da</strong>de: a emigração<br />

mais ou menos clandestina, preferencialmente para o Brasil, onde portuenses, vianenses e<br />

vilacondenses apostavam fortemente no açúcar, começan<strong>do</strong> a estabelecer laços dinâmicos<br />

seguros com Amesterdão e Antuérpia, destino preferencial já em inícios <strong>do</strong> século XVII. Por<br />

seu turno o êxito nos negócios e a tal minimização de "preconceitos religiosos" por parte <strong>da</strong><br />

maioria possibilitou um novo "status social", como aconteceu no <strong>Porto</strong> com "alguns verea<strong>do</strong>res<br />

que haviamcasa<strong>do</strong> com filhas de merca<strong>do</strong>res ricos com benefícios imediatos para estes, como<br />

por exemplo, serem isentos de fazer a representação <strong>da</strong> Santa Catarina e Santa Ma<strong>da</strong>lena na<br />

procissão <strong>do</strong> Coipo de Deus. Outros, viviam honra<strong>da</strong>mente, segun<strong>do</strong> a lei <strong>da</strong> nobreza, vestíbulo<br />

de ascensão social efecti~a.~A terceira via imunizante foi destinar prole para a vi<strong>da</strong> religiosa,<br />

um óptimo meio de influência e um garante <strong>da</strong> de devoção familiar.<br />

Mesmo assim são praticamente duas centenas de cristãos-novos <strong>do</strong> litoral nortenhog<br />

que são apanha<strong>do</strong>s na teia inquisitorial durante a segun<strong>da</strong> metade <strong>do</strong> século até ao Perdão<br />

Geral.<br />

Em comum demonstram uma crença irredutível e uma capaci<strong>da</strong>de de resistência<br />

granítica, constantes em qualquer situação e estratégia utiliza<strong>da</strong>.<br />

Com efeito desde o mutismo absoluto, à confissão mínima, premedita<strong>da</strong>, de mo<strong>do</strong> a<br />

não inovar (não sain<strong>do</strong> portanto, <strong>do</strong> círculo já conheci<strong>do</strong> <strong>do</strong> tribunal ), o que acarretava por<br />

vezes o tormento, que era sofri<strong>do</strong> de boca fecha<strong>da</strong> a fim <strong>da</strong> obtenção duma pena mais leve,<br />

tu<strong>do</strong> era concerta<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> a sair com o menor prejuízo possível.<br />

Assim, aguentar a tortura era considera<strong>do</strong> um mal menor quan<strong>do</strong> estava em risco o<br />

confisco de bens, que em caso de tormento sem confissão, "purgava", isto é, como a sentença<br />

de tormento só era acciona<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> havia dúvi<strong>da</strong>s, suportá-lo em silêncio equivalia ganharo<br />

benefício <strong>da</strong> dúvi<strong>da</strong> e, portanto, uma pena suave, como "levi" ou "vehemente suspeito na Fé",<br />

incluin<strong>do</strong>, naturalmente, a isenção de confisco de bens. To<strong>da</strong>via nem sempre a resistência é<br />

leva<strong>da</strong> a bom termo, nem sempre os prognósticos estão certos, pelo que há quem, sem contar,<br />

receba a pena máxima, o relaxe ajustiça secular. Há também quem dê tu<strong>do</strong> por tu<strong>do</strong> e usufrua<br />

duma situação privilegia<strong>da</strong> , mercê <strong>da</strong> compção de alguns funcionários, o que acaba mal<br />

quan<strong>do</strong> a trama é descobertalo .<br />

Curiosamente, os poucos exemplos de corrupção e algumas tentativas de falcatruas,<br />

visan<strong>do</strong> apanhar dinheiro aos cristãos-novos mediante informações falsas <strong>do</strong> Santo Ofício,<br />

são relativos a nortenhos <strong>do</strong> litoral"<br />

'E pergunta Francisco Ribeiro <strong>da</strong> Si1vu:"Quuntos destes através <strong>do</strong> casamento e <strong>da</strong> aquisiçZo de cargos importantes<br />

se terá0 integra<strong>do</strong> totalmente na socie<strong>da</strong>de portuense?" "O <strong>Porto</strong> e seuTcma (1580-1640). Os Hoiiicns, as Instituições<br />

e o Poder", <strong>Porto</strong>, 1988, p. 346.<br />

Com grande prevalênciu de gente <strong>do</strong> <strong>Porto</strong>, cerca de 160.<br />

'qer o nossa estu<strong>do</strong> "Os Portuenses perante o Santo Ofício - século XVi", apresenta<strong>do</strong> no I Congresso sobre a<br />

Diacese <strong>do</strong> <strong>Porto</strong>, <strong>Porto</strong>, 1998, no prelo.<br />

"Aconteceu com a merca<strong>do</strong>r, Baltazar de Lima, de Ponte de Lima, que ten<strong>do</strong> um filho circunci<strong>da</strong><strong>do</strong>, foi abor<strong>da</strong><strong>do</strong><br />

por um padre que se fez passar por funcionário <strong>do</strong> Santo Ofício, que facilmente subornou, o que o levou a precaver-<br />

se <strong>da</strong> eventuali<strong>da</strong>de de ser envolvi<strong>do</strong> pelo tribunal, pagan<strong>do</strong> principescamente a um conheci<strong>do</strong> tabelijo de Barcelos<br />

pura jurar que a criança nascera assim. Também em Aveiro, em 1604, surge um juiz de fora, Dioga Nabo Pcssanha,<br />

que usa a cargo para engendrar uma série de situações susceptíveis de angariar bons proventos , ao <strong>da</strong>r avisos a<br />

cristáos-novos sobre a iminência de prisão, inventar man<strong>da</strong>tos de captura etc., pelo que recebe muito dinheiro,<br />

atiran<strong>do</strong> escusa<strong>da</strong>mente para a diáspora aveirenses que se vão fixar em Bordéus e S Jean de Luz. Foram outros

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