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xviii - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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EM TORNO DOS INQUERITOS PAROQUIAIS<br />

deixa de ir fornecen<strong>do</strong> os elementos que lhe parecia explicavam um passa<strong>do</strong> diferente <strong>do</strong><br />

presente: por as areias "terem alaga<strong>do</strong> munta parte <strong>da</strong> lagoa e terem cresci<strong>do</strong> as agoas" há<br />

topónimos, como "ilha" que perderam o significa<strong>do</strong>. O grau de empobrecimento <strong>da</strong> freguesia<br />

tem a sua explicação nos processos de erosão: "Pella parte <strong>do</strong> poente e norte hé to<strong>da</strong> cerca<strong>da</strong><br />

de areas que, com acontinuação <strong>do</strong>s ventos e cheas, a vam alagan<strong>do</strong> por lhe faltar os resgoar<strong>do</strong>s<br />

que, antigamente, tinha de matos e arvores de que estava povoa<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> o que hoje são areas"<br />

(Marques, 1993, p. 172). Esta preocupação em justificar o grau de desenvolvimento económico<br />

<strong>da</strong>s terras nas condições orográficas e hidrográficas7, patente ein grande parte <strong>da</strong>s Memórias,<br />

encontra nestes aspectos <strong>da</strong> erosão provoca<strong>da</strong> por águas e ventos uin novo cambiante. Em<br />

Fão, o vigário Miguel Rodrigires Álvares, louva a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> produção agrícola em virtude<br />

<strong>da</strong> fertili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> terra, mas sublinha a sua diminuta quanti<strong>da</strong>de. E explica-a pelo facto de parte<br />

<strong>da</strong> população ser uma população de pesca<strong>do</strong>res e porque a maior parte <strong>do</strong> chão <strong>da</strong> fi-eguesia<br />

"se acha area<strong>do</strong>, por estar vizinlio ao mar, que as lança fora em abun<strong>da</strong>ncia tanta, que tem<br />

quasi sumergi<strong>do</strong> a freguesia" (Losa, 1984, p. 68) Areceita para impedir as transforinações ao<br />

longo <strong>da</strong>s estações e <strong>da</strong>s marés, <strong>do</strong>s ventos e <strong>do</strong>s anos, é retoma<strong>da</strong> pelo pároco de Mole<strong>do</strong>, que<br />

descreve a parte serrana <strong>da</strong> sua freguesia como "aspera e inculta por estar fronteira ao mar<br />

oceano e tambein pela sua altura exposta aos ventos Nortes" ( Busquets, 1944, p. 135). Aparte<br />

cultivável <strong>da</strong> freguesia só o é por saber muito antigo que levou à defesa intransigente de "<br />

huma notavel mata, ou arvore<strong>do</strong> que cliamam o Cainari<strong>do</strong>", e que serve "de defender <strong>da</strong>s areas<br />

<strong>da</strong> praia as terras desta freguesia, <strong>da</strong> de Cristello e de outras que estam com ella defendi<strong>da</strong>s,<br />

que a nam se conservar este arvore<strong>do</strong> já nam teriam estas freguesias tenas em que grangeassem<br />

o seu sustento" (Busquets, 1944, p. 135).<br />

Os autores interpretam as reali<strong>da</strong>des que observam ou que outros observaram e lhes<br />

coiitarain segun<strong>do</strong> certo tipo de preocupações, que de forma alguma traduzem mais <strong>do</strong> que<br />

isso mesmo: as suas sensibili<strong>da</strong>des e preocupações. O einpirismo detecta<strong>do</strong> nestes processos<br />

serve-se por vezes de factos Iiistóricos para se sustentar: as pessoas inais velhas que são<br />

chama<strong>da</strong>s a <strong>da</strong>r opinião e que são cita<strong>da</strong>s ou até mesmo em alguns casos, como por exemplo,<br />

em Mira, a citação ou transcrição de <strong>do</strong>cumentos de outras épocas, que são introduzi<strong>do</strong>s no<br />

texto para basear a argunientação.<br />

As Menlórins reflectem inu<strong>da</strong>nças, transformações no equilíbrio ambienta1 <strong>da</strong>s zonas<br />

costeiras. Os párocos têiii consciência que a autoria dessas transformações se divide por factores<br />

naturais e liumanos. Estes surgem invariavelmente conecta<strong>do</strong>s com uina acção positiva, com<br />

uma vitória sobre a natureza. Num discurso que privilegia a tradição, a autori<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s autores<br />

consagra<strong>do</strong>s (tanto escritos como orais), mas que cede lugar observação própria, empírica,<br />

raras vezes nortea<strong>da</strong> por princípios objectivamente científicos, há lugar para a comparação<br />

entre reali<strong>da</strong>des. Este acto descritivo e a comparação entre o antes e o vivi<strong>do</strong>, que não se<br />

inscrevem necessariamente numa linha evolutiva de progresso - perduram as noções <strong>da</strong>s i<strong>da</strong>des<br />

de ouro passa<strong>da</strong>s -permitem a reconstituição de aspectos <strong>da</strong> rnoifologia <strong>da</strong>s zonas costeiras. A<br />

sua interpretação em conjugação coin outras áreas <strong>do</strong> saber e coin <strong>da</strong><strong>do</strong>s retira<strong>do</strong>s de outras<br />

fontes revelará certamente elementos determinantes <strong>da</strong>s variações <strong>do</strong> nível <strong>do</strong> mar e <strong>do</strong> clima,

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