xviii - Repositório Aberto da Universidade do Porto
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ELVIRA AZEVEDO MEA<br />
nível material quer de recursos humanos, levan<strong>do</strong>-a à desestabilização e tornan<strong>do</strong>-a ineficaz.<br />
A sequência destas visitas patenteia bem o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> havi<strong>do</strong> na cobertura de to<strong>do</strong> o<br />
distrito inquisitorial, com particular incidência nas zonas de maior densi<strong>da</strong>de demográfica de<br />
cristãos-novos, especialmente o litoral norte, já que, como se sabe, a repressão <strong>do</strong> ju<strong>da</strong>ísmo foi<br />
apedra de toque <strong>do</strong> Santo Ofício português. E talvez por isso e o eleva<strong>do</strong> número de jii<strong>da</strong>izantes<br />
que durante mais de <strong>do</strong>is séculos ocuparam o tribunal, alia<strong>da</strong>a umacarênciacrónica de recursos<br />
humanos e materiais, é que no que diz respeito à vigilância <strong>do</strong> litoral, <strong>do</strong>s portos, houve uma<br />
certa negligência durante o século XVI e parte <strong>do</strong> seguinte. Durante esse perío<strong>do</strong> a rede de<br />
familiares e comissários na Inquisição de Coimbra ain<strong>da</strong> não estava perfeitamente monta<strong>da</strong> e<br />
operacional, para além de que essas visitas aos navios foram na maioria <strong>da</strong>s vezes superficiais,<br />
até porque não só os visitantes estavam precavi<strong>do</strong>s como era sempre procurar agulha em<br />
palheiro.<br />
As visitas ao litoral norte apresentaram características próprias, conforme os locais e o<br />
tempo, determinan<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>s diversos de outras visitações inquisitoriais:<br />
Como para o bispa<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Porto</strong> não estão disponíveis as fontes relativas às visitas pastorais<br />
realiza<strong>da</strong>s para o perío<strong>do</strong> em causa, obviamente que não sabemos até que ponto elas<br />
condicionaram as perspectivas e resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s pelas visitas inquisitoriais.<br />
De qualquer mo<strong>do</strong> não deixa de ser sintomático que logo as primeiras visitas realiza<strong>da</strong>s<br />
a Braga e ao <strong>Porto</strong> entre 1564-1565 fossem direcciona<strong>da</strong>s para apurar e controlar a on<strong>da</strong> de<br />
contestação de altos membros <strong>do</strong> clero <strong>da</strong>s mitras bracarense e portucalense às conclusões de<br />
Trento, que os respectivos prela<strong>do</strong>s queriam concretizar nas ditas regiões eclesiásticas. E<br />
referimos este ponto, mesmo se concerna à maioria cristã-velha porque a contestação e uma<br />
certa distância relativamente a certas determinações <strong>da</strong> Igreja caracterizam dum mo<strong>do</strong> geral<br />
uma certa forma de estar <strong>da</strong> população litorânea, que não adere tanto aos propósitos inquisitoiiais<br />
como no interior. Para este facto certamente que contribuiu também a activi<strong>da</strong>de comercial<br />
crescente, pressupor contactos e relações de trabalho que exigiam ultrapassar pmri<strong>do</strong>s reli,' -1osos,<br />
até porque os "lobbies" que se iam organizan<strong>do</strong> a nível <strong>do</strong> comércio internacional e<br />
transcontinental incluíam frequentemente cristãos-novos e velhos.<br />
Aliás, quanto aos cristãos-novos portuenses, por exemplo, constatamos que a sua relação<br />
com a maioria não é substancialmente afecta<strong>da</strong> pela repressão inquisitorial, já que no <strong>Porto</strong> a<br />
adesão aos ditames <strong>da</strong> Igreja e <strong>do</strong> Santo Ofício se imbui dum certo senso impeditivo <strong>do</strong><br />
empenhamento laborioso na repressão inquisitorial, possível factor de risco para o progresso<br />
citadino.<br />
Esta situação explica já durante a primeira metade <strong>do</strong> século XVI to<strong>da</strong> a conjuntura<br />
específica <strong>do</strong> tribunal <strong>da</strong> Inquisição <strong>do</strong> <strong>Porto</strong> (1541-1544) comjurisdição no bispa<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Porto</strong><br />
e arcebispa<strong>do</strong> de Braga:<br />
Nos <strong>do</strong>is autos-de-fé realiza<strong>do</strong>s , apesar de 90% <strong>do</strong>s casos serem de ju<strong>da</strong>izantes, ain<strong>da</strong><br />
com uma vivência muito rica <strong>da</strong> religião mosaica, o que era natural nas primeiras gerações, o<br />
certo é que nem se verifica provocação, marginalização ou animosi<strong>da</strong>de manifesta por parte<br />
<strong>da</strong> maioria cristã nem a minoria chega a esta<strong>do</strong>s limite de desespero com exaltações ju<strong>da</strong>icas,<br />
ou entusiasmos messiânicos característicos desta época.<br />
Curiosamente nesta época os cristãos-novos portuenses habitavam de mo<strong>do</strong> disperso o