Lygia da Fonseca Fernandes - Fundação Biblioteca Nacional
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neiro, e aqui se instala o conde <strong>da</strong> Cunha, vice-rei. Consequentemente, a par <strong>da</strong> renovação<br />
<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e aumento <strong>da</strong> população, já por volta de 45 mil habitantes, há um grande<br />
incremento de riquezas e capitais, ostentando seus moradores um luxo sem igual. São<br />
mesmo necessárias medi<strong>da</strong>s drásticas e expedições de alvarás regulamentando a produção<br />
e uso de tecidos, joias e pedras preciosas.<br />
No fim desse século, o Rio de Janeiro é um centro de grande movimento comercial<br />
e, pelas indicações constantes do Almanaque <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de, organizado por Fabregas-<br />
Surigué, cujos originais se acham guar<strong>da</strong>dos na <strong>Biblioteca</strong> <strong>Nacional</strong> e que foram publicados<br />
nos Anais com eruditos comentários pelo seu ilustre diretor, dr. Rodolfo Garcia,<br />
ficamos ao corrente <strong>da</strong> enorme quanti<strong>da</strong>de de ofícios e lojas de varejo de 1794 e 1796:<br />
lojas de alfaiate: 90; lojas de sapateiros: 111; lojas de cabeleireiros: 27; fabricantes de<br />
perucas e penteeiros: 4.<br />
As pessoas de destaque, a começar pelo vice-rei, primavam pelo rigor e elegância<br />
<strong>da</strong>s vestes: de cores vistosas, geralmente vermelhas agaloa<strong>da</strong>s de dourado com<br />
botões de metal rebrilhando na casaca e calções justos; camisas com punhos e bofes<br />
de ren<strong>da</strong>, cabeleira postiça, sapatos finos de entra<strong>da</strong> baixa com fivelas de ouro ou prata,<br />
meias até o joelho. Como complementos, usavam ain<strong>da</strong> bengala de castão de ouro<br />
cinzelado ou com pedras preciosas incrusta<strong>da</strong>s, chapéu tricorne também agaloado,<br />
joias e comen<strong>da</strong>s.<br />
Os oficiais <strong>da</strong>s diversas corporações, divididos segundo as paróquias <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de,<br />
ostentavam far<strong>da</strong>s cujas cores combina<strong>da</strong>s diferentemente os identificavam ao passar:<br />
os do Terço de São José: azul-marinho e azul-claro; o ordenança: azul e amarelo; os<br />
do Terço dos Pardos: azul-claro e amarelo; os do Terço dos Pretos Forros: verde e vermelho.<br />
A luzi<strong>da</strong> guar<strong>da</strong> do vice-rei ostentava azulão e amarelo nas far<strong>da</strong>s cujas casacas<br />
debrua<strong>da</strong>s de filetes dourados e botões semelhantes, camisa de bretanha finíssima com<br />
punhos e colarinhos de ren<strong>da</strong>, coletes com franja nas casas, chapéu tricorne (em regra<br />
geral preto debruado de dourado com tope de cores diversas), espa<strong>da</strong>s, botas de meio<br />
cano ou sapatos de entra<strong>da</strong> baixa com fivelas de prata e meias cobrindo a perna até<br />
o joelho, completavam os vistosos far<strong>da</strong>mentos militares que imperaram no Rio até a<br />
chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> família real.<br />
As mulheres de então trajavam-se conforme a categoria social. As <strong>da</strong> alta nobreza<br />
seguiam a mo<strong>da</strong> do reino: cabeleiras postiças, corpete ajustado com decote amplo, saia<br />
ro<strong>da</strong><strong>da</strong> balão cobrindo os pés, raramente deixando entrever a ponta do sapato, mangas<br />
curtas bufantes e joias em profusão – brincos, colares, pulseiras, anéis. Estas <strong>da</strong>mas só<br />
saíam à rua de cadeirinha e acompanha<strong>da</strong>s de suas escravas. Em casa usavam um traje<br />
bem simples, uma espécie de roupão chamado lava-peixe ou enormes camisolas ou<br />
saias e blusas folga<strong>da</strong>s que <strong>da</strong>vam liber<strong>da</strong>de de movimentos.<br />
A mulher burguesa, obriga<strong>da</strong> a an<strong>da</strong>r a pé, seguia a mo<strong>da</strong> de Lisboa e conservava<br />
o hábito de cobrir a cabeça e o corpo com vasta mantilha ou capote.<br />
Passa pelo Rio, em 1792, sir George Stauton, secretário do embaixador inglês na<br />
China, e que nos informa: "os homens do povo vestem-se com um poncho ou manto. A<br />
gente <strong>da</strong> classe média ou de alta posição nunca sai sem a espa<strong>da</strong> à ilharga. As senhoras,<br />
sempre sem chapéu, mostram longas tranças orna<strong>da</strong>s de fitas e flores. Os olhos ternos<br />
têm-nos negros e vivos e a fisionomia sumamente expressiva...".<br />
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