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Lygia da Fonseca Fernandes - Fundação Biblioteca Nacional

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"Comissão encarrega<strong>da</strong> <strong>da</strong> reconstrução <strong>da</strong> Praça do Comércio" (origem <strong>da</strong> Associação<br />

Comercial, atual Câmara de Comércio Brasileira), e efetua uma viagem à colônia suíça<br />

de Morro Queimado (atual Nova Friburgo), de onde volta com alentado relatório sobre<br />

as difíceis condições de sobrevivência dos colonos. Os jornais <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de frequentemente<br />

anunciavam a chega<strong>da</strong> de mercadorias em consignação à sua idônea e florescente firma.<br />

Das janelas de sua residência particular, na Rua <strong>da</strong> Glória, avistava belíssimo<br />

panorama, que abrangia a igreja <strong>da</strong> Glória, Passeio Público até a ponta do Calabouço,<br />

<strong>da</strong>ndo para a baía de Guanabara. Local preferido pelos estrangeiros, a Glória era<br />

também ponto obrigatório de passagem para os que se dirigiam à zona sul <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.<br />

Visitantes descrevem a casa de três janelas góticas de frente, com entra<strong>da</strong> lateral e um<br />

bem-cui<strong>da</strong>do jardim, com bastantes detalhes na descrição, como Ernst Ebel, que ali<br />

esteve em 1824. Théremin se deslumbra com o que vê: povo e paisagens.<br />

População estrangeira varia<strong>da</strong>: comerciantes, cientistas, artistas, religiosos, o Rio<br />

de Janeiro para os que aqui aportavam, era palco <strong>da</strong>s mais inusita<strong>da</strong>s manifestações sociais.<br />

A população local, na sua maioria escravos, era a que normalmente se movimentava<br />

nas ruas, servindo em todos os tipos de ativi<strong>da</strong>des, enquanto os homens brancos<br />

ocupavam postos de relevância no comércio e governo. As mulheres eram vistas apenas<br />

nas igrejas e festas religiosas, às vezes nas saca<strong>da</strong>s, enfeita<strong>da</strong>s para as soleni<strong>da</strong>des; os<br />

religiosos de várias ordens católicas predominavam e recebiam a todo o momento provas<br />

de respeito do povo.<br />

Herdeiro <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des artísticas paternas, pois desenha admiravelmente, Théremin<br />

enche cadernos e folhas soltas de esboços, aquarelas, e registra e multiplica os<br />

mais inusitados aspectos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> pública e paisagens locais.<br />

Conforme explica Georges Duplain, em seu exaustivo estudo, desde a juventude<br />

iniciara Théremin o hábito de fixar as paisagens <strong>da</strong> Suíça, França e Alemanha, e, no<br />

Brasil, continua sua infatigável atuação de artista amador, reunindo enorme série de<br />

documentos iconográficos – quase que completamente desconheci<strong>da</strong> dos estudiosos,<br />

até a <strong>da</strong>ta presente.<br />

De Carl Wilhelm Théremin eram conheci<strong>da</strong>s apenas as seis litografias edita<strong>da</strong>s<br />

em Berlim, no álbum preparado às suas expensas, numa tiragem de apenas duzentos<br />

exemplares, com o título Sau<strong>da</strong>des do Rio de Janeiro. Representam as seis pranchas locais<br />

bastante conhecidos, cuja perfeita elaboração é enriqueci<strong>da</strong> pela aquarela com que<br />

foram coloridos: Passeio Público, Igreja <strong>da</strong> Glória, Aqueduto de Santa Teresa, Chafariz<br />

do Campo de Santana, Largo do Paço e Teatro São Pedro de Alcântara. Deste<br />

raríssimo e precioso conjunto foram feitas, já no século XX, duas edições fac-similares<br />

– a <strong>da</strong> <strong>Biblioteca</strong> <strong>Nacional</strong>, em 1949, com prefácio de Josué Montello, e a <strong>da</strong> Companhia<br />

Editora <strong>Nacional</strong>, em 1954, com prefácio de Gilberto Ferrez. Ambas esclarecem a ativi<strong>da</strong>de<br />

do artista e a sua atuação no Rio de Janeiro, embora muitas interrogações permaneçam.<br />

Haveria Théremin desenhado apenas os seis magistrais desenhos que deram<br />

origem às litografias assina<strong>da</strong>s por Loeillot e impressas em Berlim? Como esclarecer<br />

<strong>da</strong>dos biográficos anteriores e posteriores à sua vin<strong>da</strong> ao Brasil? Como e onde buscar<br />

mais elementos que eluci<strong>da</strong>ssem sua vi<strong>da</strong> e atuação amadorística de desenhista?<br />

Coube a Georges Duplain, através de anos de pesquisa, retraçar essa história e<br />

reproduzir desenhos inéditos no álbum Les dessins de la Providence.<br />

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