Lygia da Fonseca Fernandes - Fundação Biblioteca Nacional
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reflexão criativa, as ilustrações feitas in loco revelam a exaltação, as dúvi<strong>da</strong>s, a premonição<br />
do homem à procura de mundos desconhecidos. É por isso que as ilustrações têm uma<br />
atuali<strong>da</strong>de e um poder de comunicação que permanecem na posteri<strong>da</strong>de. Muitos desses<br />
ilustradores estiveram nos locais, outros, nunca participaram de expedição: faziam,<br />
a partir de sua própria imaginação, uma interpretação sem grande fideli<strong>da</strong>de. Outros<br />
ain<strong>da</strong>, embora não acompanhando os viajantes, desenhavam esboços sob sua supervisão<br />
e com a aju<strong>da</strong> de espécimes, tais como animais empalhados, plantas prensa<strong>da</strong>s e secas<br />
que com frequência se assemelham aos originais, ou reproduziam as paisagens obti<strong>da</strong>s<br />
através <strong>da</strong> "câmara lúci<strong>da</strong>". Em relação à "Viagem filosófica", sabemos que dois foram<br />
os riscadores que acompanharam a expedição; a eles se deve a documentação hoje<br />
esparsa e que registra e complementa os muitos escritos do filosófo-cientista Alexandre<br />
Rodrigues Ferreira, cuja bagagem literária, científica, sociológica, botânica e etnográfica<br />
se completa com o registro visual de suas observações através <strong>da</strong>s reproduções que aqui<br />
serão mostra<strong>da</strong>s.<br />
Das informações já coligi<strong>da</strong>s sobre os ilustradores <strong>da</strong> viagem e os desenhistas<br />
que completaram os trabalhos em Portugal, poucas são as pesquisas realiza<strong>da</strong>s. Quase<br />
ficam no olvido os nomes dos que registraram nas imagens todo o trabalho de nove anos<br />
de buscas, coletas, observações, feitas na Amazônia brasileira: José Joaquim Freire e<br />
Joaquim Codina.<br />
As referências mais completas encontramos em Cyrilo Volkmar Machado, em Coleções<br />
de memórias relativas à vi<strong>da</strong> de pintores, escultores, arquitetos e gravadores<br />
portugueses (Lisboa, 1823). Essas mesmas informações ocorrem em trabalho mais recente,<br />
como o realizado por Ernesto Soares.<br />
Deste último extraímos as notas que passaremos a ler e que esclarecem a posição<br />
adquiri<strong>da</strong> pelos referidos artistas, no quadro de funcionários do Museu <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>.<br />
José Joaquim Freire e Joaquim Codina pertenciam ao quadro de riscadores (desenhistas)<br />
do Real Gabinete de História Natural do Museu <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> de Lisboa. Trabalharam<br />
nas últimas déca<strong>da</strong>s do século XVIII e as primeiras do século XIX e acompanharam<br />
Alexandre Rodrigues Ferreira na sua romaria pela região amazônica.<br />
Freire, antigo discípulo do grande mestre João de Figueiredo, era segundo tenente<br />
<strong>da</strong> Arma<strong>da</strong> Real Portuguesa. Especializou-se em cartas geográficas cujos originais se<br />
encontram em Portugal e no Brasil. Entrou para a Casa do Desenho, do Real Jardim<br />
Botânico de Nossa Senhora <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>.<br />
Além deles, também trabalharam em Portugal, no Museu <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, os seguintes<br />
riscadores: Antônio José dos Santos, Manoel Tavares, Vicente Jorge, discípulo de<br />
João de Figueiredo, dos quais se encontram assinaturas nos vários documentos iconográficos<br />
compulsados. Em notícias posteriores divulga<strong>da</strong>s na comunicação à Academia<br />
de Ciências de Lisboa, ao falar sobre divulgação desse conjunto iconográfico,<br />
diz M. J. <strong>da</strong> Costa e Sá:<br />
Um gravador, vários desenhistas com discípulos se tem mantido por<br />
espaço de 50 anos com destino aos trabalhos desta viagem, e que<br />
teriam adiantado ou concluído as gravuras que lhe pertenciam, se<br />
não fossem as interrupções que por vezes tiveram do principal fim<br />
de sua incumbência. Assim mesmo muitas chapas já se acham aber-