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Lygia da Fonseca Fernandes - Fundação Biblioteca Nacional

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A colonização europeia seguia devagar pelo receio de não obter certas regalias para<br />

os que não tivessem a religião católica. "To<strong>da</strong>s as desvantagens, entretanto vão pouco a<br />

pouco diminuindo e, para o Brasil, pode-se profetizar um sólido futuro, isto se as suas<br />

leis ficarem em igual<strong>da</strong>de à sua medi<strong>da</strong> política de suspender o tráfico negreiro".<br />

A situação dos escravos é lamentável – proprie<strong>da</strong>de de seus senhores, que lhes<br />

aplicam penas de açoites; enfiam-lhes máscaras de folhas de flandres; empregam-se<br />

troncos, grilhões, coleiras de ferro. Entretanto as leis haviam se modificado, podendo<br />

qualquer escravo recorrer ao tribunal ou depositar determina<strong>da</strong> quantia para sua libertação,<br />

e até mesmo galgar melhor situação social.<br />

Nosso autor registra que muitas pessoas cultas, com educação recebi<strong>da</strong> em Coimbra<br />

ou Paris, eram de origem africana e descendiam de escravos. A maior tipografia do<br />

Rio de Janeiro pertence a um mulato. Nos colégios médico, jurídico e teológico não há<br />

distinção de cor, embora não se possa negar certo preconceito. A socie<strong>da</strong>de brasileira,<br />

segundo ele, não eliminava de seu círculo mulatos e negros, embora não fosse na<strong>da</strong><br />

invejável a posição de pessoas bem educa<strong>da</strong>s de origem africana – levará tempo para<br />

desaparecerem os preconceitos sociais, considerando que não é fácil para essas pessoas<br />

verem seus irmãos na escravidão com coleiras, máscaras no rosto, acorrentados.<br />

Os criados domésticos vestem-se decentemente, mas estão sempre descalços. Há<br />

diferentes preços nas tabernas e tribunais para a gente de "sapatos rotos", os coitados,<br />

e "para os sem sapatos", os descalços. A geração masculina de negros vive na ci<strong>da</strong>de<br />

ao ar livre, constantemente a perambular com cestos à cabeça, prontos para carregar<br />

qualquer fardo – são man<strong>da</strong>dos à rua pelos seus donos para ganharem dinheiro, parte<br />

do qual é posta de lado para seu sustento. Dormem sobre esteiras nos vãos e dispensas;<br />

passam mal de saúde, sendo comuns os casos de elefantíase e outras doenças.<br />

Originários de várias tribos <strong>da</strong> África, prossegue Vyseslavcov, aqui conservam<br />

suas tradições e costumes, embora muitos aceitem o catolicismo; os minas permaneçam<br />

muçulmanos e também há os idólatras. Ritos de funerais são comuns e todos trazem<br />

amuletos contra mau olhado. Em geral os carregadores de café são <strong>da</strong> tribo mina, de<br />

compleição atlética e mais inteligentes que os demais. Trabalham seminus, evidenciando-se<br />

as formas nervosas e musculosas, caminham a trote ligeiro e são muito bem pagos.<br />

Regra geral, observa o autor, os negros têm o hábito de resgatar seus coirmãos. E<br />

também era comum estrangeiros – alemães, franceses, ingleses – terem escravos, não<br />

obstante isso fosse proibido pela legislação de seus países.<br />

O maior pesadelo e preocupação dos viajantes é com a febre amarela. Nosso cronista<br />

ouve as mais contraditórias informações – muitos não querem admitir o caráter<br />

epidêmico, e o próprio governo, em suas declarações oficiais, diminui a gravi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

situação. Durante a esta<strong>da</strong> do vapor russo persistia um surto. Os mais bem-sucedidos<br />

financeiramente partem para Petrópolis.<br />

Segundo as informações colhi<strong>da</strong>s por Vyseslavcov, a febre amarela ocorre pela<br />

primeira vez em 1849 nas províncias marítimas, sendo que a de 1850 no Rio de Janeiro<br />

foi particularmente mais intensa, a julgar pelas estatísticas. No Rio, de 300 mil<br />

habitantes, morreram 4 mil, só que não foram computados os escravos e brasileiros,<br />

referindo-se as notícias apenas aos estrangeiros, sobretudo aos embarcadiços, que eram<br />

internados no Hospital Marítimo de Jurujuba, em Niterói. Aos poucos, o surto epidê-

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