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Lygia da Fonseca Fernandes - Fundação Biblioteca Nacional

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Bastaria, entretanto, o testemunho do oficial português Carlos Julião, que esteve no<br />

Rio por volta do último quartel do século XVIII, para nos rendermos à constatação mais<br />

evidente de que realmente existia uma preocupação de elegância e um excesso de luxo<br />

em to<strong>da</strong>s as escalas sociais. No seu precioso álbum, cujos originais pertencem à Seção de<br />

Iconografia <strong>da</strong> <strong>Biblioteca</strong> <strong>Nacional</strong>, pode-se admirar, a par <strong>da</strong>s figuras de mulheres brancas,<br />

homens embuçados em grandes capotes, oficiais <strong>da</strong>s diversas armas, as escravas e<br />

mulatas livres a se exibir em requintes de graça e distinção – saias colori<strong>da</strong>s e estampa<strong>da</strong>s,<br />

blusas decotadíssimas, mantilhas e chapéus, turbantes, sapatos e chinelos de salto alto<br />

com bor<strong>da</strong>dos a ouro e inúmeras joias: colares, braceletes, brincos, fetiches e amuletos.<br />

Causam surpresa os desfiles de grupos nas festas religiosas, quando, em plena<br />

expansão de sua alegria ruidosa, os monarcas e súditos negros <strong>da</strong>s festas de Reis ou as<br />

irmãs <strong>da</strong> confraria de Nossa Senhora do Rosário aparecem no álbum desfilando nos<br />

adros <strong>da</strong>s igrejas ou nas ruas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, com suas mais belas e ricas vestimentas.<br />

Tudo documentou Carlos Julião, com uma precisão de detalhes e minúcia do desenho,<br />

para nosso encantamento, no seu valioso e raríssimo conjunto Riscos illuminados<br />

de figurinhos de brancos e negros dos uzos do Rio de Janeiro e Serro do Frio,<br />

recentemente editado em edição fac-similar pela <strong>Biblioteca</strong> <strong>Nacional</strong>.<br />

Chega<strong>da</strong> a família real, novas influências vem sofrer a mo<strong>da</strong> na ci<strong>da</strong>de colonial,<br />

então eleva<strong>da</strong> à sede do governo português.<br />

A mo<strong>da</strong> Império então dominava a Europa – os vestidos <strong>da</strong>s mulheres se transformam:<br />

cintura alta prendendo o busto logo abaixo do colo, saias caindo retas em franzidos<br />

soltos, sem ro<strong>da</strong>, cau<strong>da</strong>; sapatos sem salto, chapéu pequeno amarrado sob o queixo<br />

com enfeites de plumas e complementos: luvas e bolsa de longas alças.<br />

Debret, o famoso desenhista dos períodos real e imperial, descreve e desenha<br />

os vestuários <strong>da</strong>s <strong>da</strong>mas <strong>da</strong> corte, onde, depois <strong>da</strong> Independência, imperavam as cores<br />

verde e amarela nos trajes solenes <strong>da</strong> imperatriz d. Leopoldina e <strong>da</strong>s <strong>da</strong>mas que compunham<br />

seu séquito.<br />

Os homens de categoria, em grande parte, exerciam funções públicas. Portadores<br />

de títulos dignitários se esmeravam em far<strong>da</strong>mentos vistosos ou uniformes de funções<br />

oficiais do serviço público, <strong>da</strong>vam à ci<strong>da</strong>de um aspecto alegre e multicor, tão bem fixado<br />

pelos documentaristas do século XIX. O burguês, fazendeiro ou comerciante, trajava<br />

casaca aberta em abas nas costas, calções curtos e meias até o joelho; sapatos de entra<strong>da</strong><br />

baixa com fivelas e chapéu tricorne. Imprescindível na indumentária masculina era o<br />

guar<strong>da</strong>-sol, sempre carregado pelo escravo.<br />

Era, entretanto, no bizarro vestuário do povo, de grande predileção pelas cores<br />

vistosas combina<strong>da</strong>s de maneira agradável, que se debruçavam os artistas e documentaristas<br />

do século XIX, de passagem pelo Rio. São inúmeros os desenhos, aquarelas e<br />

estampas, conhecidos, onde a varie<strong>da</strong>de dos trajes, a começar pelas saias ro<strong>da</strong><strong>da</strong>s, blusas<br />

soltas, turbantes ou enormes chapéus de palha, enfeites de ouro ou mesmo conchas,<br />

demonstravam a continui<strong>da</strong>de do gosto e <strong>da</strong> influência dos africanos que constituíam<br />

a maioria <strong>da</strong> população local. Devemos frisar que, a partir dos meados do século XIX,<br />

começam a desaparecer os vestuários característicos dos escravos. Não mais são encontra<strong>da</strong>s<br />

nas estampas dos viajantes as colori<strong>da</strong>s saias e panos <strong>da</strong> costa, os turbantes e<br />

berloques de ouro e tantos outros detalhes fixados pelos viajantes de épocas anteriores.

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