Lygia da Fonseca Fernandes - Fundação Biblioteca Nacional
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(se a pessoa tiver recursos para tal) dependuram-se no quarto tapeçarias ou ricas<br />
cortinas e um altar é preparado com to<strong>da</strong>s as ornamentações necessárias. Quando<br />
este fica pronto, reúnem-se os parentes e o padre vem em procissão numerosa, sob<br />
um magnífico pálio, em vestes canônicas, que nesta oportuni<strong>da</strong>de são brancas com<br />
ricos bor<strong>da</strong>dos em ouro, carrega na mão um grande incensório de prata e seus<br />
acólitos a hóstia etc.; homens e meninos compõem a procissão, portam velas de<br />
cera e entoam cânticos até chegar à casa do doente. Quando o padre e o sacristão<br />
que acompanham a procissão entram em casa, os demais esperam fora até que a<br />
cerimônia termine. 18<br />
Quando morre um homem casado, todos os seus familiares de ambos os sexos e<br />
a maioria <strong>da</strong>s amigas <strong>da</strong> viúva vão apresentar-lhe condolências e se ocupam em lavar<br />
e vestir o corpo do defunto. Se em vi<strong>da</strong> ele pertencia ao exército, o corpo é vestido com<br />
os uniformes de gala de seu regimento, com espa<strong>da</strong> e capacete, e bem assim botas e<br />
esporas; porém, se não pertencia ao exército, o corpo é vestido com hábito de frade.<br />
Logo que o corpo fica preparado, o padre com numerosa comitiva vai à casa, quando<br />
então o corpo é colocado num ataúde aberto, repousando em uma essa coberta com<br />
veludo negro agaloado em ouro; é carregado por quatro homens seguindo o padre,<br />
para a igreja onde fica exposto durante duas horas sendo então enterrado no chão <strong>da</strong><br />
nave ou em alguma catacumba particular; se for enterrado no chão, as pessoas que<br />
assistem ao funeral jogam um pouco de vinagre e cal sobre o corpo antes que a cobertura<br />
do ataúde seja coloca<strong>da</strong>, depois do que joga-se terra sobre ele, e o povo se retira<br />
sem maiores cerimônias. 19<br />
Uma semana após o funeral, a família vai a alguma capela particular quando<br />
então com grande soleni<strong>da</strong>de enterram (um crânio) e outros ossos e rezam pela alma<br />
do parente que faleceu.<br />
Quando morre uma criança, ela é vesti<strong>da</strong> de maneira luxuosa ou com hábito de<br />
freira, seu rosto é pintado e ela é coloca<strong>da</strong> sobre uma almofa<strong>da</strong> enfeita<strong>da</strong> de flores e<br />
geralmente tem um livro com o Padre Nosso e a Ave Maria etc. numa <strong>da</strong>s mãos, e na<br />
outra uma guirlan<strong>da</strong> de flores, e desta maneira ela é enterra<strong>da</strong>. 20<br />
Quanto a seus casamentos, somente possuem uma breve cerimônia, que é geralmente<br />
realiza<strong>da</strong> na residência do noivo, após a qual recebem hóspedes por alguns dias. 21<br />
As provisões neste lugar são na maior parte muito boas e em grande quanti<strong>da</strong>de.<br />
Há, em abundância, excelentes bois, carneiros, porcos, cabras etc., a carne de vaca<br />
é magra, mas de bom pala<strong>da</strong>r e pode-se comprá-la ao preço de 2 1/4 <strong>da</strong> libra. A carne de<br />
carneiro é muito ruim, não obstante, quando os cordeiros são novos e bem tratados,<br />
com abun<strong>da</strong>nte alimentação, são tão bons para comer quanto aos <strong>da</strong> Inglaterra; não<br />
18. O atendimento aos moribundos, feito com muita soleni<strong>da</strong>de e unção, movimentava a população <strong>da</strong>s paróquias, conforme<br />
descreve Forbes. Ain<strong>da</strong> em Debret, op. cit., vol. III, pr. 12 <strong>da</strong> Viagem pitoresca, encontra-se a iconografia do ritual católico.<br />
19. As cerimônias de sepultamento e enterro variavam de acordo com o sexo e i<strong>da</strong>de dos defuntos, também muito influindo a<br />
posição social. Debret, op. cit., descreve os vestuários, os esquifes e as cerimônias de transporte dos corpos até as igrejas <strong>da</strong>s<br />
confrarias, não só de brancos como também dos escravos: vol. III, pr. 14, 16, 26, 28, 30.<br />
20. As crianças (com menos de oito anos), chama<strong>da</strong>s ao morrer de "anjinhos", eram leva<strong>da</strong>s em caixões abertos, arrumados<br />
com luxo, agaloados de prata e forrados de rosa ou azul-celeste. Veja-se Debret, op. cit., vol. III, pr. 15, 26 e as descrições<br />
correspondentes.<br />
21. As cerimônias de casamento religioso, acompanha<strong>da</strong>s de festas nas casas de fazen<strong>da</strong>, são também registra<strong>da</strong>s por Debret,<br />
op. cit. vol. II, pr. 10, onde se leem com detalhes os diversos passatempos que enchiam os dias dos visitantes.