Lygia da Fonseca Fernandes - Fundação Biblioteca Nacional
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Viajando do Havre no brigue Béranger, chega, depois de 54 dias a bordo, em companhia<br />
de outros compatriotas, no dia 18 de janeiro de 1841. Suas declarações na polícia<br />
registram que tinha a i<strong>da</strong>de de 20 anos, estatura ordinária, cor clara, olhos pardos, nariz<br />
e boca regulares, pouca barba e rosto comprido. Dá como endereço de moradia Rua <strong>da</strong><br />
Aju<strong>da</strong>, número 6 e como profissão, pintor.<br />
Embora não citado por dicionários europeus, Joseph Alfred Martinet se revela<br />
no Brasil um litógrafo de alto padrão, conseguindo nos seus trabalhos uma perfeição<br />
técnica invulgar, pelo que se infere já haver chegado ao Rio de Janeiro com o aprendizado<br />
técnico terminado. Cronologicamente sua chega<strong>da</strong> é fixa<strong>da</strong> em 1841. A partir dessa<br />
<strong>da</strong>ta, começam a ser impressos vários de seus trabalhos e é registra<strong>da</strong> sua ativi<strong>da</strong>de<br />
artística nos almanaques comerciais <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Exímio desenhista, trabalhando na pedra<br />
porosa com perfeição e habili<strong>da</strong>de, é herdeiro <strong>da</strong>s aptidões de seus antecessores no<br />
mesmo ofício. Inspira-se em paisagens, em cenas de costumes e consegue obter nas suas<br />
litografias um perfeito entrosamento <strong>da</strong> técnica e assunto dentro do espírito romântico<br />
então predominante.<br />
Ligado à firma impressora de litografias Heaton e Rensburg, estabeleci<strong>da</strong> à Rua<br />
<strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, 68, e aos editores Eduardo e Henrique Laemmert, proprietários <strong>da</strong> Tipografia<br />
Universal, a produção litográfica de Joseph Alfred Martinet se prolonga até 1872. Além<br />
dos trabalhos de cunho comercial, se anuncia como professor de desenho, pintura e paisagem<br />
e também como retratista; todos os anúncios constam do Almanaque Laemmert<br />
na rubrica Artes e Ofícios. Através desta publicação anual, pode-se acompanhar suas<br />
ativi<strong>da</strong>des didáticas e comerciais, graças aos registros de endereços ali indicados.<br />
Em 1847 habita à Rua do Lavradio, 23, trocando de residência em 1851 para a<br />
casa de número 20, à mesma rua. Aquela publicação o assinala como "desenhista para<br />
todos os generos e paisagens" e nova residência na Rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, 113; em 1855, por um<br />
ano apenas, está associado a Paulo Robin na oficina de litografia. Por duas vezes troca<br />
de endereço, voltando sempre à Rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, 113, onde mantém oficina de impressão<br />
sobre a pedra porosa; em 1864 vamos encontrá-lo residindo à Rua <strong>da</strong> Pedreira <strong>da</strong> Glória,<br />
62, local certamente muito distante <strong>da</strong>s suas ativi<strong>da</strong>des, e anunciando uma nova<br />
especiali<strong>da</strong>de: "registos de santos", i.e., imagens religiosas de grande procura e divulgação,<br />
distribuí<strong>da</strong>s pelas igrejas e irman<strong>da</strong>des que as encomen<strong>da</strong>vam aos artistas. Desse<br />
ano em diante habita a Rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, 108, onde leciona desenho e pintura. O registro de<br />
seu nome permanece no Almanaque Laemmert até o ano de 1872 e já no ano seguinte<br />
não mais figura Joseph Alfred Martinet entre os professores de desenho e pintura, como<br />
também desaparece o registro de sua oficina litográfica. Durante 31 anos de ativi<strong>da</strong>des<br />
no Rio de Janeiro, o litógrafo francês, participante dos acontecimentos locais, demonstrou<br />
de começo interesse em se estabelecer na ci<strong>da</strong>de. As recentes pesquisas do professor<br />
Alfredo Galvão, realiza<strong>da</strong>s nos arquivos <strong>da</strong> Escola <strong>Nacional</strong> de Belas-Artes, indicam<br />
que, no ano de 1847, Joseph Alfred Martinet se inscrevera como aluno livre na classe de<br />
Pintura de Paisagem. Seria este o primeiro passo no sentido de mais tarde concorrer ao<br />
professorado na academia oficial, entretanto, na<strong>da</strong> indica sua permanência como aluno<br />
na Imperial Academia de Belas-Artes.<br />
Sua vasta produção litográfica se ressente ain<strong>da</strong> de um completo levantamento,<br />
embora grande número de suas estampas tenha sido depositado na <strong>Biblioteca</strong> <strong>Nacional</strong>,<br />
entregues pelos editores e pelo próprio artista, conforme se infere <strong>da</strong>s anotações e ca-<br />
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