Lygia da Fonseca Fernandes - Fundação Biblioteca Nacional
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complexo tipográfico, montado em Lisboa pelo sábio brasileiro, as técnicas de ilustração<br />
que complementariam as obras ali impressas. 5<br />
A importante editora, conheci<strong>da</strong> como Oficina do Arco do Cego, teve efêmera<br />
duração, de 1799 a 1801, e o padre Viegas de Menezes, voltando ao Brasil, instalou-se<br />
em Vila Rica, onde, nos momentos de lazer, aplicava suas habili<strong>da</strong>des artísticas. Pintou<br />
retratos como os dos bispos de Mariana: d. José <strong>da</strong> Santíssima Trin<strong>da</strong>de e d. Frei Cipriano;<br />
do bispo de São Paulo, d. Mateus; de frei José Mariano <strong>da</strong> Conceição Velloso;<br />
do governador, d. Manoel de Portugal e Castro, conde <strong>da</strong> Palma; do visconde de Caeté e<br />
do cirurgião-mor Antonio José Vieira de Carvalho, além de um panorama de Mariana.<br />
Interessou-se também pelas artes gráficas e mais tarde chegou a dirigir um jornal.<br />
4. Gravura: técnica e impressão<br />
Dedicou-se também à gravura em metal, abrindo em chapas de cobre santinhos<br />
e o famoso folheto. Embora as técnicas de impressão <strong>da</strong>s pranchas calcográficas exigissem<br />
maquinaria especial, impossível de se instalar em vista <strong>da</strong> severa vigilância real,<br />
existia em Vila Rica um aperfeiçoado aparelhamento servindo à Casa <strong>da</strong> Moe<strong>da</strong>, assunto<br />
já ventilado pelos historiadores. Embora aplicados com diferentes objetivos, esses princípios<br />
e materiais devem ter facilitado a impressão dos registos de santos e do opúsculo<br />
gravados pelo padre Viegas de Menezes.<br />
Consiste a técnica <strong>da</strong> gravura a buril em decalcar sobre a prancha de cobre um<br />
desenho e, sobre este, "abrir" um sulco com o auxílio de um instrumento, o buril, de<br />
ponta afia<strong>da</strong> e talhado em bisel que, acompanhando o traço ao penetrar na prancha<br />
calcográfica, deixa-a "aberta".<br />
A segun<strong>da</strong> etapa do burilista consiste em tintar a prancha, isto é, com o auxílio de<br />
uma esponja embebi<strong>da</strong> em tinta (a "boneca"), espalhar uniformemente o líquido: a tinta<br />
penetra nos sulcos, onde se deposita; em segui<strong>da</strong>, deve limpar a chapa com o auxílio de<br />
trapos, permanecendo a tinta apenas nos sulcos que correspondem ao desenho burilado.<br />
A terceira etapa do trabalho consiste na impressão sobre o papel: a prancha calcográfica,<br />
pressiona<strong>da</strong> fortemente numa prensa cilíndrica, vai transferindo a tinta para<br />
o papel, onde fica estampado o desenho, ressaltando o "testemunho", isto é, a marca <strong>da</strong><br />
impressão <strong>da</strong> prancha, deixando externamente margens que limitam o sulco.<br />
Essa técnica, algumas vezes centenária e ain<strong>da</strong> hoje aplica<strong>da</strong>, tem grande importância<br />
nas artes gráficas, e depende não apenas <strong>da</strong> criação artística, como também <strong>da</strong><br />
aplicação artesanal.<br />
Ca<strong>da</strong> folha de papel, a ser estampa<strong>da</strong>, dependerá <strong>da</strong> repetição <strong>da</strong>s duas últimas<br />
etapas do trabalho – a tintagem e a impressão <strong>da</strong> chapa, feitas tantas vezes quantos sejam<br />
os exemplares a se imprimir.<br />
Foi este o procedimento gráfico utilizado por Viegas de Menezes para imprimir o<br />
lau<strong>da</strong>tório canto em homenagem ao governador <strong>da</strong> Capitania de Minas Gerais.<br />
Tem-se conhecimento de que levou cerca de 90 dias para "abrir" as 15 chapas de<br />
cobre, matrizes do folheto. Sabendo-se que ca<strong>da</strong> folha impressa calcograficamente cor-<br />
5. A obra de Bosse possui 22 estampas grava<strong>da</strong>s a buril na Oficina do Arco do Cego; destas a Seção de Iconografia <strong>da</strong> <strong>Biblioteca</strong><br />
<strong>Nacional</strong> possui dez pranchas de cobre grava<strong>da</strong>s por O. P. Silva, Jorge e Quinto, que trabalhavam no setor calcográfico do<br />
complexo editorial português.<br />
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