Lygia da Fonseca Fernandes - Fundação Biblioteca Nacional
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de material necessário aos trabalhos de acondicionamento e montagem dos espécimes<br />
coletados, para obtenção de víveres e a atualização dos honorários de seus membros, já<br />
em atraso de três anos.<br />
Portanto, até julho de 1788, permaneceu a expedição filosófica na região do rio<br />
Negro, para somente continuar viagem em agosto de 1788.<br />
Desde o início <strong>da</strong> viagem até a terceira etapa, foram decorridos quatro anos e<br />
dez meses.<br />
3º Capítulo<br />
Inicia Alexandre Rodrigues Ferreira a parte mais difícil, mais penosa e mais sofri<strong>da</strong><br />
de sua viagem, no dizer de seu biógrafo, Virgílio Corrêa Filho.<br />
Deixa Barcelos rumo ao rio Madeira, que penetra no dia 6 de setembro de 1788. Em<br />
segui<strong>da</strong> sobe o rio encontrando a povoação ribeirinha de Borba. As doenças, as constantes<br />
ameaças dos índios Mundurucús e Muras, que atacavam no rio as expedições que se destinavam<br />
ao Mato Grosso e os que se aventuravam a penetrar em seus territórios, provocavam<br />
deserções dos índios canoeiros, trazendo aos expedicionários grandes percalços, a<br />
ponto de ter o chefe <strong>da</strong> expedição que recorrer ao governador <strong>da</strong> Capitania do Rio Negro,<br />
para que providenciasse novos contingentes de remadores. Chegando os trinta remeiros,<br />
continuam a subi<strong>da</strong> do rio Madeira até encontrar a cachoeira de Santo Antônio, em janeiro<br />
de 1789. Ali, acampados cerca de vinte dias, preparam coleta, composta de 52 volumes e 63<br />
riscos que foram remetidos a Portugal, via Belém. Neste local, cachoeira de Santo Antônio,<br />
recebe Alexandre Rodrigues Ferreira as primeiras notícias alvissareiras: o capitão general<br />
<strong>da</strong> Capitania do Mato Grosso, d. Luiz de Albuquerque, o aguar<strong>da</strong>va em Vila Bela. Entretanto,<br />
muito a percorrer teriam ain<strong>da</strong>, ultrapassando cerca de dez trechos encachoeirados<br />
e atacados por sezões que puseram o chefe em repouso forçado quase um mês.<br />
Continuando viagem rio acima, encontra a confluência do rio Beni, nome <strong>da</strong>do<br />
pelos espanhóis ao rio Madeira; num trecho acima, <strong>da</strong> décima-segun<strong>da</strong> cachoeira, encontra,<br />
a confluência com o rio Mamoré e penetra pelo afluente deste último, o Guaporé.<br />
À margem oriental do Guaporé, instalava-se, como ponto defensivo <strong>da</strong>s possessões portuguesas,<br />
a fortaleza do Príncipe <strong>da</strong> Beira, situa<strong>da</strong> nas proximi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> antiga fortaleza<br />
de N. S. <strong>da</strong> Conceição, reduto que foi durante um século alvo de disputa entre tropas<br />
portuguesas e espanholas, trocando por vezes de possuidor.<br />
Entram, afinal, em Vila Bela <strong>da</strong> Santíssima Trin<strong>da</strong>de a 3 de outubro de 1789. Recebido<br />
com a maior consideração e alegria pelo governador, que o admirava sobremodo,<br />
o cientista deixa uma descrição fiel <strong>da</strong> capital e que reflete o contraste com as vivências<br />
europeias dos transplantados para longínquos rincões <strong>da</strong> Amazônia portuguesa em<br />
obediência às determinações régias, às quais não podiam fugir.<br />
Vila irregular, ruas direitas, porém pouco largas e por calçar, donde<br />
vem que com as inverna<strong>da</strong>s se encharcam e a todo tempo as escavam<br />
os porcos que vagam por ela, fossando para se deitarem. As casas<br />
são alinha<strong>da</strong>s, porém to<strong>da</strong>s térreas, cobertas de telha vã e to<strong>da</strong>s elas<br />
aterra<strong>da</strong>s ou ladrilha<strong>da</strong>s de tijolos. As janelas pouco rasga<strong>da</strong>s e comumente<br />
defendi<strong>da</strong>s por gelosias ou empalha<strong>da</strong>s, esses tecidos com