25.04.2013 Views

Sexualidad y Política en América Latina - Sexuality Policy Watch

Sexualidad y Política en América Latina - Sexuality Policy Watch

Sexualidad y Política en América Latina - Sexuality Policy Watch

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

tidos como “externos” à ciência poderiam se traduzir na produção do seu próprio<br />

conteúdo. Na trilha aberta por Kuhn, surge, na década de 1970, do último século,<br />

em Edinburgh, um programa de investigação sobre a ciência que se autod<strong>en</strong>ominou<br />

“Programa Forte” da sociologia das ciências, em contraposição ao que chamavam<br />

de “programa fraco”, repres<strong>en</strong>tado, por exemplo, pela sociologia externalista<br />

de Robert K. Merton (1910-2003). Os propon<strong>en</strong>tes deste programa des<strong>en</strong>haram<br />

um conjunto de regras epistemológico-metodológicas, <strong>en</strong>tre as quais destacam-se o<br />

chamado princípio de simetria (a descrição histórica de teorias ci<strong>en</strong>tíficas concorr<strong>en</strong>tes<br />

deveria ser feita nos mesmos termos para as duas, e não partindo do princípio<br />

que uma teria triunfado por ser “correta”, e a outra “errada”) e o de causalidade social<br />

– a causa última do conhecim<strong>en</strong>to seria a Sociedade (Latour & Callon, 1991).<br />

Apesar de ter iniciado sua produção na área com um estudo classicam<strong>en</strong>te associado<br />

ao Programa Forte, t<strong>en</strong>do inclusive sido publicado em co-autoria com um<br />

dos seus principais p<strong>en</strong>sadores (Latour & Woolgar, 1979), Bruno Latour (1947) vai<br />

progressivam<strong>en</strong>te se afastar deste marco e criticar seus pressupostos, em particular<br />

o princípio de simetria que, segundo ele, deveria ser ampliado de forma a incluir o<br />

que chama de atores não-humanos (Latour, 1994).<br />

É por estas portas abertas que vão se des<strong>en</strong>volver os sci<strong>en</strong>ce studies, definidos<br />

de forma particularm<strong>en</strong>te adequada pelo próprio Latour: “Há cerca de vinte anos,<br />

eu e meus amigos estudamos estas situações estranhas que a cultura em que vivemos<br />

não sabe como classificar. Por falta de opções, nos d<strong>en</strong>ominamos sociólogos,<br />

historiadores, economistas, ci<strong>en</strong>tistas políticos, filósofos, antropólogos. Mas, a estas<br />

disciplinas v<strong>en</strong>eráveis, acresc<strong>en</strong>tamos sempre o g<strong>en</strong>itivo: das ciências e das técnicas.<br />

Sci<strong>en</strong>ce studies é a palavra inglesa; ou ainda este vocábulo por demasiado pesado:<br />

‘Ciências, técnicas, sociedades’. Qualquer que seja a etiqueta, a questão é sempre<br />

de reatar o nó górdio atravessando, tantas vezes quanto forem necessárias, o corte<br />

que separa os conhecim<strong>en</strong>tos exatos e o exercício do poder, digamos a natureza e a<br />

cultura.” (Latour, 1994:8-9)<br />

Sob o rótulo dos sci<strong>en</strong>ce studies (ou sci<strong>en</strong>ce and technology studies) albergam-se<br />

no pres<strong>en</strong>te uma pletora de autores e abordag<strong>en</strong>s, não necessariam<strong>en</strong>te coer<strong>en</strong>tes ou<br />

mesmo converg<strong>en</strong>tes, mas que teriam em comum os traços apontados por Latour.<br />

Num pólo, conc<strong>en</strong>tram-se autores que, a partir da leitura proposta pelo des<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to<br />

histórico delineado acima, rejeitam qualquer especificidade epistemológica<br />

da ciência, vista ap<strong>en</strong>as como um discurso ideológico de exercício de<br />

poder e controle. O próprio Latour adverte, num texto de 2005, sobre os riscos da<br />

apropriação conservadora da abordagem construcionista da ciência: p<strong>en</strong>sada originalm<strong>en</strong>te<br />

como uma estratégia contra a apres<strong>en</strong>tação de fatos ci<strong>en</strong>tíficos duvidosos<br />

como estáveis, como forma de defesa da sociedade contra o abuso ideológico da<br />

ciência, estas ferram<strong>en</strong>tas estariam s<strong>en</strong>do utilizadas contra fatos bem estabelecidos,<br />

no s<strong>en</strong>tido de desestabilizá-los na ar<strong>en</strong>a pública como estratégia de avanço de uma<br />

132 Sessão 2 – Ciência e política sexual

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!