25.04.2013 Views

Sexualidad y Política en América Latina - Sexuality Policy Watch

Sexualidad y Política en América Latina - Sexuality Policy Watch

Sexualidad y Política en América Latina - Sexuality Policy Watch

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

financeiram<strong>en</strong>te reforçada pelos b<strong>en</strong>s conquistados durante sua carreira como trabalhadora<br />

sexual.<br />

Nem o casam<strong>en</strong>to, nem outros empregos, <strong>en</strong>tão, podem substituir, necessariam<strong>en</strong>te,<br />

a prostituição como meio de ganhar a vida. O caso de Vânia é um caso raro<br />

em que uma informante relatou ter deixado um emprego relativam<strong>en</strong>te bem pago<br />

para trabalhar no ramo do sexo comercializado. Todavia, é mister sali<strong>en</strong>tar, neste<br />

contexto, que todas as nossas informantes, sem exceção, deixaram outros empregos<br />

para a v<strong>en</strong>da dos serviços sexuais (ou, em alguns casos, combinam a prostituição<br />

com outras formas de trabalho). S<strong>en</strong>timo-nos, <strong>en</strong>tão, seguros em dizer que é raro<br />

alguém <strong>en</strong>trar no ramo porque não tem acesso a outras formas de trabalho.<br />

A moda rec<strong>en</strong>te, <strong>en</strong>tre certos pesquisadores da prostituição, tem sido d<strong>en</strong>unciar<br />

a noção de que a decisão de se prostituir poderia ser considerada como “livre”, dada<br />

as limitações estruturais impostas no trabalho feminino por um sistema socioeconômico<br />

patriarcal e capitalista. Julia O’Connell Davidson articula bem essa posição<br />

quando ela observa que é “a compulsão econômica que impulsiona [mulheres] para<br />

o trabalho sexual,” s<strong>en</strong>do que, mesmo nos Estados Unidos, país cujo PIB per capita<br />

é s<strong>en</strong>sivelm<strong>en</strong>te maior que o do Brasil, “muitas mulheres e m<strong>en</strong>inas ‘escolhem’<br />

se prostituir em vez de <strong>en</strong>trar nos 35% da população feminina, economicam<strong>en</strong>te<br />

ativa, que ganham um salário miserável”. De acordo com O’Connell Davidson,<br />

escolher <strong>en</strong>tre a v<strong>en</strong>da do sexo e o trabalho como empregada doméstica, ganhando<br />

um salário mínimo, não pode ser qualificado como uma escolha de verdade:<br />

Descrever tais indivíduos como exerc<strong>en</strong>do seus direitos de auto-soberania é tão<br />

ridículo quanto dizer que a prostituição repres<strong>en</strong>ta uma violação de sua dignidade.<br />

Não existe dignidade alguma na pobreza, que nega a verdadeira agência à<br />

pessoa (O’Connell-Davidson, 2002: 94) 20 .<br />

O’Connell Davidson pret<strong>en</strong>de criticar a posição hegemônica feminista norteamericana<br />

que, em suas palavras, “nega a possibilidade de apoiar os direitos daquelas<br />

pessoas que trabalham na prostituição, mas que ainda permanece crítica das<br />

desigualdades sociais e econômicas que subscrevem as relações de mercado em geral<br />

e a prostituição em partícula” (Ibid, 85). Todavia, tal posicionam<strong>en</strong>to implica duas<br />

grandes pressuposições morais e teóricas que dificultam o estudo sócio-ci<strong>en</strong>tífico da<br />

prostituição.<br />

20 “Though some of these wom<strong>en</strong> and childr<strong>en</strong> have be<strong>en</strong> forced into prostitution by a third party, it is dull<br />

economic compulsion that drives many of them into sex work, just as in America (a country with a per capita<br />

GDP of U.S.$21,558), many wom<strong>en</strong> and girls “elect” to prostitute themselves rather than join the 35 perc<strong>en</strong>t of<br />

the female workforce earning poverty-level wages (Castells 1998). To describe such individuals as exercising rights<br />

of self-sovereignty seems as spurious as stating that their prostitution repres<strong>en</strong>ts a violation of their right to dignity.<br />

There is no dignity in poverty, which d<strong>en</strong>ies the person full powers of ag<strong>en</strong>cy. Yet the right to sell one’s labor (sexual<br />

or otherwise) does not guarantee the restitution of dignity or moral ag<strong>en</strong>cy.”<br />

Amor um real por minuto – Ana Paula da Silva e Thaddeus Gregory Blanchette<br />

207

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!