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Sexualidad y Política en América Latina - Sexuality Policy Watch

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de turista, com a int<strong>en</strong>ção de não retornar à Espanha. Mas, a comparação <strong>en</strong>tre a<br />

dinâmica do mercado do sexo e os ingressos dele derivados em sua cidade natal, no<br />

Nordeste do Brasil, e em Bilbao, onde tinha oferecido serviços sexuais, a fez decidir<br />

retornar à Espanha:<br />

Comecei a olhar... o que você ganhava aqui e lá, e eu disse, não vale a p<strong>en</strong>a<br />

[ficar no Brasil]... Um programa com um gringo você cobrava R$ 100 [US$<br />

50], com brasileiro de R$ 30 a 40... E no Brasil você está toda a noite com um<br />

homem e aqui é 20 minutos... Se você está com uma pessoa que você não gosta,<br />

um velho barrigudo, passar a noite com esse homem vai ser um terror... E com<br />

vários hom<strong>en</strong>s não, você vê um mais bonito, um mais simpático, um mais bruto,<br />

vai mudando... O que cansa é saber que você vai ter que passar uma noite com<br />

um homem por R$ 100, que é o máximo, sab<strong>en</strong>do que aqui numa noite você<br />

pode ganhar R$ 3 mil, quase R$ 4 mil, se você botar na cabeça, estou aqui para<br />

trabalhar e pronto 10 .<br />

Indep<strong>en</strong>d<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te da idade, da situação econômica da qual partiram e do<br />

nível de escolaridade atingido, elas decidiram migrar para trabalhar na indústria<br />

do sexo com uma forte percepção das reduzidas expectativas de melhorar de vida<br />

no Brasil. Nesse s<strong>en</strong>tido, a consciência de sua “vulnerabilidade” social no país operou<br />

como motor para traçar projetos migratórios na procura de melhores oportunidades.<br />

Certam<strong>en</strong>te, os aspectos econômicos foram determinantes na elaboração<br />

desses projetos, mas isso não significa aludir a uma situação miserável no Brasil.<br />

Como no caso de outros migrantes brasileiros, se trata, sobretudo, da falta de possibilidade<br />

que elas s<strong>en</strong>tem em termos de traçar um futuro. De acordo com uma<br />

<strong>en</strong>trevistada:<br />

Para mim sair do meu país, para trabalhar para comer? Para comer eu t<strong>en</strong>ho no<br />

meu país. Não precisa. Não precisa estar longe da minha família para comer. Aí<br />

no Brasil se você planta uma mandioca, se você cria uma galinha, você come. Não<br />

é fome. É você t<strong>en</strong>tar fazer algo... Eu sempre me preocupei muito com o amanhã.<br />

Quando eu estiver com 60 anos 11 .<br />

Como no caso de outros migrantes que viajam para países do Norte, porém, as<br />

motivações econômicas são c<strong>en</strong>trais, mas não são fatores exclusivos. A glamorização<br />

da Europa, a ilusão de viajar e conhecer outros lugares também faz parte das narrativas<br />

da várias <strong>en</strong>trevistadas.<br />

10 Entrevista realizada em Bilbao, dezembro de 2004.<br />

11 Entrevista realizada em Barcelona, dezembro de 2004.<br />

Migração e sexualidade: do Brasil à Europa – Adriana Piscitelli<br />

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