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Sexualidad y Política en América Latina - Sexuality Policy Watch

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Já na linha daquelas/es que problematizam a constituição da ciência <strong>en</strong>quanto<br />

projeto mais amplo, o foco c<strong>en</strong>tral é a afirmação de que a ciência que é feita até hoje<br />

é baseada em pressupostos androcêntricos. A separação instituinte <strong>en</strong>tre fato e valor,<br />

que caracterizaria a ciência moderna, estaria associada a uma série de outras como<br />

cultura/natureza, sujeito/objeto, m<strong>en</strong>te/corpo, razão/emoção e masculino/feminino.<br />

Ou seja, <strong>en</strong>quanto há uma ideia comum de que a ciência é objetiva e neutra, o exame<br />

das categorias que estruturam a sua própria constituição evid<strong>en</strong>cia uma forte marcação<br />

de gênero. Se o feminino – e sua concretização nas mulheres (mas não exclusivam<strong>en</strong>te<br />

nelas, se considerarmos, por exemplo, as classificações atribuídas a hom<strong>en</strong>s<br />

homossexuais) – está associado à natureza, objeto, corpo, emoção e valor, só poderia<br />

estar alijado da produção ci<strong>en</strong>tífica, tal como é concebida tradicionalm<strong>en</strong>te. Sob o<br />

primado da ciência objetiva e neutra, livre de valores, não haveria lugar para os sujeitos<br />

mulheres e para as qualidades associadas ao feminino.<br />

Embora as críticas apontadas por esta perspectiva possam ser muito pertin<strong>en</strong>tes,<br />

o que cabe questionar é se, de fato, podemos falar de um não comprometim<strong>en</strong>to,<br />

por parte das mulheres, com relação à ciência feita até hoje. Para conceber que não<br />

estariam em nada <strong>en</strong>volvidas nesse projeto teórico e político, teríamos que acreditar<br />

cegam<strong>en</strong>te ou ing<strong>en</strong>uam<strong>en</strong>te em uma separação de domínios. Mas, admitindo a complexidade<br />

das interações sociais em múltiplos domínios e o próprio caráter relacional da<br />

constituição do gênero, somos obrigados a p<strong>en</strong>sar que o projeto de conhecim<strong>en</strong>to que<br />

des<strong>en</strong>volvemos em nossa sociedade é também tributário da participação das mulheres.<br />

É claro que se trata de uma participação difer<strong>en</strong>ciada em relação aos hom<strong>en</strong>s que,<br />

de maneira predominante, estiveram à fr<strong>en</strong>te do grande empre<strong>en</strong>dim<strong>en</strong>to ci<strong>en</strong>tífico.<br />

Mas, afinal, este empre<strong>en</strong>dim<strong>en</strong>to, contextual e localizado, é resultado da sociedade<br />

em que se insere, inclusive no que diz respeito a marcadores tradicionais de difer<strong>en</strong>ça<br />

como classe, raça/etnia e gênero.<br />

Além de imaginar que as mulheres teriam estado de alguma forma alijadas<br />

do mundo que produziu essa ciência, poderíamos sugerir que seria problemático<br />

considerar que teriam uma experiência distinta e única a servir de base para uma<br />

nova forma de produzir conhecim<strong>en</strong>to. A discussão gira em torno da possibilidade<br />

de imaginar experiências, valores, essências que fugiriam às tradicionais oposições<br />

que têm servido para organizar nossa forma de p<strong>en</strong>sam<strong>en</strong>to.<br />

Embora muito já t<strong>en</strong>ha sido escrito na linha de mapear a produção em torno<br />

de gênero e ciência 6 , o trabalho da filósofa Sandra Harding (1986; 1993) continua<br />

s<strong>en</strong>do uma das referências mais importantes. A autora é especialm<strong>en</strong>te lúcida ao<br />

distinguir três posicionam<strong>en</strong>tos feministas: a) feminismo empirista, que concorda<br />

com o projeto da ciência, mas d<strong>en</strong>uncia o androc<strong>en</strong>trismo da má ciência; b) feminismo<br />

perspectivista, que def<strong>en</strong>de um saber fundam<strong>en</strong>tado no ponto de vista das<br />

6 Ver, por exemplo, o trabalho de C. Sard<strong>en</strong>berg (2002).<br />

Ciência, gênero e sexualidade – K<strong>en</strong>neth Camargo, Fabíola Rohd<strong>en</strong> e Carlos F. Cáceres<br />

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