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Sexualidad y Política en América Latina - Sexuality Policy Watch

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t<strong>en</strong>do em conta inclusive o caráter sempre conting<strong>en</strong>te e transitório das verdades,<br />

quando não francam<strong>en</strong>te interessado. A estratégia mais apropriada é ponderar <strong>en</strong>tre<br />

os dois pontos de vista, que são válidos, e tem poder de repres<strong>en</strong>tação, auxiliando<br />

os indivíduos na compre<strong>en</strong>são das lógicas que regem os sistemas de p<strong>en</strong>sam<strong>en</strong>to, e<br />

contribuindo para politizar estas formas de conhecim<strong>en</strong>to, pois não há produção de<br />

saber desvinculado de estratégias de poder e regulação. Vale lembrar que numerosos<br />

grupos religiosos passaram a usar cada vez mais o discurso ci<strong>en</strong>tífico para embasar<br />

seus pontos de vista, e que a história da ciência registra muitos casos em que os<br />

conhecim<strong>en</strong>tos ci<strong>en</strong>tíficos foram apres<strong>en</strong>tados como dogmas, implicando a submissão<br />

da população às suas prescrições. As sociedades ocid<strong>en</strong>tais atuais notadam<strong>en</strong>te<br />

apres<strong>en</strong>tam um pluralismo moral, e o impasse que se coloca em muitos temas está<br />

relacionado ao campo dos direitos humanos, atravessado por argum<strong>en</strong>tos de várias<br />

ord<strong>en</strong>s, onde religioso e ci<strong>en</strong>tífico se misturam.<br />

Finalizamos este tópico <strong>en</strong>fatizando a proposição inicial: necessitamos desconstruir<br />

a ideia sedim<strong>en</strong>tada que coloca o pert<strong>en</strong>cim<strong>en</strong>to religioso como o outro da<br />

modernidade, na pauta do atraso. Se as confissões religiosas carregam valores morais,<br />

as práticas ci<strong>en</strong>tíficas também o fazem. Se as religiões “oprimem”, “governam”,<br />

“mandam”, também as práticas ci<strong>en</strong>tíficas podem ter estes conteúdos. O debate <strong>en</strong>tre<br />

religião e valores da modernidade tem que ser feito caso a caso, contexto a contexto,<br />

sempre de olho nos valores democráticos e nas possibilidades de ampliação do espaço<br />

público, na ótica da inclusão. Lembramos as ideias de Abelardo 21 , que “provou que<br />

compre<strong>en</strong>der e crer não eram duas atitudes difer<strong>en</strong>tes, e sim complem<strong>en</strong>tares” 22 .<br />

No âmbito das lutas políticas, para certo conjunto de ativistas de esquerda, as<br />

religiões são sempre de direita. No campo da sexualidade, as igrejas repres<strong>en</strong>tam o<br />

pólo dito conservador. Mas estas mesmas igrejas podem atuar numa direção progressista,<br />

e basta olhar no Brasil suas manifestações contra a p<strong>en</strong>a de morte, seu<br />

apoio decidido ao MST (Movim<strong>en</strong>to dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e às<br />

lutas pela posse urbana. Igrejas evangélicas brasileiras já distribuíram preservativos<br />

na África. Em várias fr<strong>en</strong>tes de luta dos direitos humanos, as igrejas estão solidárias<br />

com as forças progressistas e de esquerda, ou já estiveram em outros tempos. Com<br />

isso, verificamos que são complexas as relações <strong>en</strong>tre discursos da modernidade e<br />

religiões. As religiões não são um pedaço do passado no meio da modernidade, elas<br />

são também hoje em dia “modernas”. Em conexão com a primeira proposição, o<br />

pert<strong>en</strong>cim<strong>en</strong>to religioso produz id<strong>en</strong>tidades fortes, pot<strong>en</strong>tes, com dim<strong>en</strong>são política,<br />

<strong>en</strong>volvida em muitos temas e lutas contemporâneas, que precisam ser discutidas<br />

no s<strong>en</strong>tido de ampliação do espaço público.<br />

21 Pedro Abelardo (1079 a 1142), filósofo nascido na França na Baixa Idade Média.<br />

22 GAUVARD, Claude. Surge o S<strong>en</strong>hor dos Tributos. In.: Arquivos História Viva 3, Os melhores textos sobre a Idade<br />

Média, São Paulo, Duetto Editorial, 2008 p. 31.<br />

Para p<strong>en</strong>sar as relações <strong>en</strong>tre religiões, sexualidade e políticas públicas – Fernando Seffner<br />

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