25.04.2013 Views

Sexualidad y Política en América Latina - Sexuality Policy Watch

Sexualidad y Política en América Latina - Sexuality Policy Watch

Sexualidad y Política en América Latina - Sexuality Policy Watch

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

em nome de Deus. Já foi dito que as religiões, todas elas, sem exceção, nunca<br />

serviram para aproximar e congraçar os hom<strong>en</strong>s, que, pelo contrário, foram e continuam<br />

a ser causa de sofrim<strong>en</strong>tos in<strong>en</strong>arráveis, de morticínios, de monstruosas<br />

violências físicas e espirituais que constituem um dos mais t<strong>en</strong>ebrosos capítulos da<br />

miserável história humana 18 .<br />

No texto, Deus se salva, mas cond<strong>en</strong>am-se as atitudes dos hom<strong>en</strong>s tomadas<br />

em seu nome. Este conjunto de barbáries cometidas, que facilm<strong>en</strong>te podemos associar<br />

ao atraso, antítese da modernidade, configura o que Saramago chama de<br />

“o fator Deus” 19 . Apesar da beleza das palavras e dos argum<strong>en</strong>tos, reconheço que<br />

atribuir à religião todos os males e atrasos do mundo, e pret<strong>en</strong>der um mundo onde<br />

a religião seja banida ou fique restrita ao foro íntimo (evitando a criação do “fator<br />

Deus”), não é mais a minha posição, nem teórica e nem militante. Enfim, eu p<strong>en</strong>so<br />

que houve um mom<strong>en</strong>to em que foi necessário dizer que o religioso estava fora do<br />

político, ele produziu bons efeitos, todos os países da <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> passaram por<br />

isso, mas esta não é mais a estratégia requerida pela atual conjuntura. Como houve<br />

também um mom<strong>en</strong>to em que opor religião à modernidade foi estratégia necessária<br />

para fazer avançar certa proposta de modernidade, que implicou valorizar os valores<br />

ocid<strong>en</strong>tais. Mas isto deve ser rep<strong>en</strong>sado.<br />

Desdobram<strong>en</strong>tos importantes desse modo de ver as coisas, ainda pres<strong>en</strong>te <strong>en</strong>tre<br />

nós, são percebidos na relação que temos com os países do “Islã”, sempre tomados<br />

como exemplo dos atrasos de toda ordem (atraso moral, atraso econômico, atraso nas<br />

estruturas políticas, sem falar nos óbvios “atrasos” em matéria de sexualidade, etc.).<br />

Para melhor compre<strong>en</strong>são do nosso olhar em relação ao “mundo árabe” e seus costumes<br />

de direitos sexuais e reprodutivos, vale a indicação de leitura da obra de Edward<br />

Said, intitulada Ori<strong>en</strong>talismo 20 . Entre muitas abordag<strong>en</strong>s, o autor discute as políticas<br />

de conhecim<strong>en</strong>to, ou, em outras palavras, a afirmação de que o conhecim<strong>en</strong>to é sempre<br />

politicam<strong>en</strong>te informado. Desta forma, a “produção de conhecim<strong>en</strong>tos” sobre o<br />

Ori<strong>en</strong>te revela-se um modo articulado de hegemonia cultural, situando o Ocid<strong>en</strong>te<br />

18 http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u29519.shtml (último acesso em 4 de setembro de 2009)<br />

19 “Os deuses, acho eu, só existem no cérebro humano, prosperam ou definham d<strong>en</strong>tro do mesmo universo que os<br />

inv<strong>en</strong>tou, mas o “fator Deus”, esse, está pres<strong>en</strong>te na vida como se efetivam<strong>en</strong>te fosse o dono e o s<strong>en</strong>hor dela. Não é<br />

um deus, mas o “fator Deus” o que se exibe nas notas de dólar e se mostra nos cartazes que pedem para a <strong>América</strong><br />

(a dos Estados Unidos, não a outra...) a bênção divina. E foi o “fator Deus” em que o deus islâmico se transformou,<br />

que atirou contra as torres do World Trade C<strong>en</strong>ter os aviões da revolta contra os desprezos e da vingança contra as<br />

humilhações. Dir-se-á que um deus andou a semear v<strong>en</strong>tos e que outro deus responde agora com tempestades. É possível,<br />

é mesmo certo. Mas não foram eles, pobres deuses sem culpa, foi o “fator Deus”, esse que é terrivelm<strong>en</strong>te igual<br />

em todos os seres humanos onde quer que estejam e seja qual for a religião que professem, esse que tem intoxicado o<br />

p<strong>en</strong>sam<strong>en</strong>to e aberto as portas às intolerâncias mais sórdidas, esse que não respeita s<strong>en</strong>ão aquilo em que manda crer,<br />

esse que depois de presumir ter feito da besta um homem acabou por fazer do homem uma besta.” http://www1.folha.<br />

uol.com.br/folha/mundo/ult94u29519.shtml (último acesso em 4 de setembro de 2009).<br />

20 SAID, Edward W. Ori<strong>en</strong>talismo: o Ori<strong>en</strong>te como inv<strong>en</strong>ção do Ocid<strong>en</strong>te. São Paulo, Companhia das Letras, 2007<br />

Para p<strong>en</strong>sar as relações <strong>en</strong>tre religiões, sexualidade e políticas públicas – Fernando Seffner<br />

367

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!