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Sexualidad y Política en América Latina - Sexuality Policy Watch

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em posição de superioridade e na condição de “normal” e de “regra”, e descrev<strong>en</strong>do<br />

o Ori<strong>en</strong>te como o atrasado, quando muito o exótico, aquilo que foge a regra, e que<br />

devemos buscar trazer para a regra. Os atributos de emancipação, conhecim<strong>en</strong>to e<br />

esclarecim<strong>en</strong>to são articulados com o Ocid<strong>en</strong>te, e o Ori<strong>en</strong>te é sempre apres<strong>en</strong>tado<br />

em situação de déficit fr<strong>en</strong>te a estes indicadores. A apres<strong>en</strong>tação das religiões ori<strong>en</strong>tais<br />

oscila <strong>en</strong>tre os costumes exóticos e o atraso político da relação estado e religiões.<br />

O “predomínio da religião” nas sociedades ori<strong>en</strong>tais é imediatam<strong>en</strong>te associado à<br />

“precariedade ci<strong>en</strong>tífica” destas sociedades, esquec<strong>en</strong>do-se o grande des<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to<br />

filosófico e técnico destas regiões no passado. Em suma, para nós, ocid<strong>en</strong>tais, é muito<br />

difícil p<strong>en</strong>sar o Ori<strong>en</strong>te fora deste <strong>en</strong>quadram<strong>en</strong>to do “atraso” e do “exótico”, no qual<br />

a religião islâmica (e outras religiões ori<strong>en</strong>tais) ocupa forte pot<strong>en</strong>cial “explicativo”.<br />

Outro desdobram<strong>en</strong>to importante desta polaridade antagônica “modernidade<br />

versus religião” está em opor ciência a religião. A ciência seria a modernidade, a<br />

religião aparece como explicação de mundo necessariam<strong>en</strong>te carregada de valores<br />

morais. Daí concluir-se, de modo apressado, que o estado laico, republicano, com<br />

políticas públicas de saúde baseadas na ciência, não teria uma “moral” a propagar.<br />

Daí nasce também certa superioridade do p<strong>en</strong>sam<strong>en</strong>to ci<strong>en</strong>tífico, associado à<br />

razão, em oposição ao conteúdo moral das religiões e aos dogmas da fé. Os saberes<br />

ci<strong>en</strong>tíficos são esclarecidos e argum<strong>en</strong>tados, os saberes da religião não comportam<br />

argum<strong>en</strong>tação nem esclarecim<strong>en</strong>to racional, deve-se crer, e pronto. Ocorre que o<br />

estado laico tem uma moral, não ap<strong>en</strong>as as religiões. Tomemos como exemplo uma<br />

das campanhas de prev<strong>en</strong>ção à AIDS, realizada no carnaval de 2007, cujo mote era:<br />

“Beba com moderação, mas use camisinha à vontade”. Há um evid<strong>en</strong>te valor moral<br />

expresso nela, que convida ao sexo sem moderação, desde que protegido (isto sem<br />

falar em outra moralidade, aquela implicada com o consumo de bebida alcoólica).<br />

Ela se combina também com frases como “faça com quem quiser, na hora em<br />

que quiser, mas use camisinha”, pres<strong>en</strong>tes em outras campanhas. Nelas também há<br />

valores morais, que convidam a não ter preconceitos na relação sexual (faça com<br />

quem quiser, ou seja, pode ser <strong>en</strong>tre dois hom<strong>en</strong>s, <strong>en</strong>tre duas mulheres, um homem<br />

e uma mulher, ou até mesmo outras combinações) e faça na hora em que quiser (ou<br />

seja, não precisa ser no âmbito da relação conjugal necessariam<strong>en</strong>te).<br />

Em geral, estas campanhas são vistas como ligadas ao discurso da ciência, pela<br />

referência explícita que fazem ao uso do preservativo, meio comprovado de evitar<br />

a infecção pelo HIV. E parecem estar is<strong>en</strong>tas de conteúdos morais, pelo amparo<br />

dos dados ci<strong>en</strong>tíficos na área da prev<strong>en</strong>ção. Isso gera uma noção do discurso ci<strong>en</strong>tífico<br />

como “salvador”, “emancipador”. Na discussão de temas como o aborto, a homossexualidade,<br />

a eutanásia, o uso das células tronco embrionárias, por exemplo,<br />

acredito que não seja boa estratégia “demonizar” o discurso religioso, em nome de<br />

uma tarefa “salvadora” do discurso ci<strong>en</strong>tífico. Nem um nem outro discurso é portador<br />

de uma verdade salvadora do ser humano, e nem é disto que necessitamos,<br />

368 Sessão 4 – Religião e política sexual

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