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Sexualidad y Política en América Latina - Sexuality Policy Watch

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no aeroporto, umas poucas <strong>en</strong>trevistadas, mulheres e travestis afirmaram nunca<br />

ter trabalhado na prostituição no Brasil, mas viajaram à Europa com o objetivo de<br />

fazê-lo (Secretaria Nacional de Justiça, 2006). Entretanto, o conjunto do material<br />

conduz a problematizar a ideia de que as brasileiras que oferecem serviços sexuais<br />

na Europa não trabalhavam nesse setor de atividade no Brasil.<br />

Nas trajetórias das minhas <strong>en</strong>trevistadas, a prostituição foi a alternativa mais r<strong>en</strong>tável<br />

no leque de opções de trabalho disponíveis para elas no Brasil. Elas iniciaram suas<br />

carreiras laborais em difer<strong>en</strong>tes setores de atividade, no mercado formal ou informal.<br />

Foram babás, operárias, arrumadeiras de hotel, garçonetes, professoras, v<strong>en</strong>dedoras,<br />

secretárias, até micro-empresárias. Elas consideravam não ganhar dinheiro sufici<strong>en</strong>te<br />

e comp<strong>en</strong>sador, em termos dos esforços realizados, motivo pelo qual ingressaram na<br />

indústria do sexo. Algumas trabalharam na prostituição de maneira intermit<strong>en</strong>te. Em<br />

alguns casos, fizeram programas 7 durante breves períodos, com brasileiros e estrangeiros,<br />

no Rio de Janeiro, e no universo frouxam<strong>en</strong>te organizado do turismo sexual<br />

no Nordeste do Brasil. Outras, “profissionais”, sobreviveram exclusivam<strong>en</strong>te da realização<br />

de programas por um período de vários anos, antes de migrarem para Europa.<br />

A maior parte das <strong>en</strong>trevistadas migrou com o objetivo de oferecer serviços<br />

sexuais. Ap<strong>en</strong>as uma delas saiu para trabalhar no serviço doméstico e optou por<br />

mudar o tipo de trabalho, avaliando que obteria r<strong>en</strong>dim<strong>en</strong>tos superiores na indústria<br />

do sexo. Nos relatos, a prostituição aparece como a melhor possibilidade<br />

no exterior, uma vez que pode r<strong>en</strong>der quatro ou cinco vezes mais que os empregos<br />

abertos aos migrantes, sujeitos a graus extremos de exploração 8 . Nesse c<strong>en</strong>ário, as<br />

<strong>en</strong>trevistadas sublinham as vantag<strong>en</strong>s oferecidas pela prostituição, em termos de<br />

r<strong>en</strong>dim<strong>en</strong>tos e de liberdade de decidir sobre o tempo investido no trabalho:<br />

Se eu for trabalhar aqui em outra coisa... Vai sobrar o que para mim? Limpar<br />

chão... Eu nunca fiz isso na minha vida, <strong>en</strong>tão não <strong>en</strong>tra na minha cabeça eu<br />

trabalhar de faxineira aqui... Ganha muito pouco. O problema é esse. Se ganhasse<br />

bem eu até varria a rua... mas trabalhar e ganhar 800, 900 euros? Não. Eu gosto<br />

de trabalhar na prostituição. Há pessoas que dizem que é um dinheiro fácil. Não<br />

é que é um dinheiro fácil. Mas, você tem mais oportunidade de conseguir mais<br />

dinheiro. Se você quer mais dinheiro, você trabalha mais horas. Nossa vantagem<br />

é que você é livre. Você faz o que você quer 9 !<br />

Ap<strong>en</strong>as uma das <strong>en</strong>trevistadas retornou ao Brasil quando expirou seu visto<br />

7 Termo êmico que alude à prostituição.<br />

8 Em 2004, um espanhol com baixo nível de escolaridade ou um migrante legal no setor de serviços, em Barcelona,<br />

recebia <strong>en</strong>tre 6 e 8 euros por hora, <strong>en</strong>quanto um migrante irregular (indep<strong>en</strong>d<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te de seu grau de escolaridade)<br />

recebia aproximadam<strong>en</strong>te a metade (Juncks, 2004).<br />

9 Entrevista realizada em Barcelona, dezembro de 2004.<br />

250 Sessão 3 – <strong>Sexualidad</strong>e e economia: visibilidades e vícios

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