25.04.2013 Views

Sexualidad y Política en América Latina - Sexuality Policy Watch

Sexualidad y Política en América Latina - Sexuality Policy Watch

Sexualidad y Política en América Latina - Sexuality Policy Watch

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Nesse mom<strong>en</strong>to, a produção de uma ciência da sexualidade tinha como objetivo<br />

descriminalizar o comportam<strong>en</strong>to perverso, transformando-o em questão<br />

médica – lembro que os primeiros sexólogos eram médicos. Ocorria, portanto,<br />

uma disputa <strong>en</strong>tre a medicina e o direito, em que a primeira acabou levando<br />

vantagem.<br />

Um dos marcos dessa nova ciência é o livro de Richard von Krafft Ebing Psychopathia<br />

Sexualis (com uma referência especial ao s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>to sexual contrário).<br />

Nessa espécie de manual da psicopatologia sexual, Krafft Ebing, emin<strong>en</strong>te psiquiatra<br />

de língua alemã, listou todos os comportam<strong>en</strong>tos que desafiavam a norma<br />

reprodutiva heterossexual, fixando o conjunto heterogêneo de variedades “bizarras”<br />

do comportam<strong>en</strong>to sexual praticam<strong>en</strong>te até os nossos dias [sadismo, masoquismo,<br />

fetichismo, exibicionismo, sexualidade antipática (s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>to sexual contrário),<br />

pedofilia, gerontofilia, zoofilia].<br />

Segundo Luiz Fernando Duarte, o texto de Krafft Ebing caminha do mais<br />

orgânico ou neurológico ao mais funcional ou psicológico. A “sexualidade antipática”<br />

(ou “s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>to sexual contrário”) coroa o projeto da obra e a própria série das<br />

perversões, s<strong>en</strong>do a que mais se distancia da determinação orgânica, por se colocar<br />

mais próxima das funções superiores da “consciência” e da “moralidade” (Duarte,<br />

1989: 122). “Nem monstros, nem tarados, nem medíocres, os homossexuais são<br />

descritos, antes, como delicados, dignos de estima, morais e, vez por outra, trágicos<br />

(...)” (Lantéri-Laura, 1994:43).<br />

Escrito para juristas e médicos visando o julgam<strong>en</strong>to de crimes sexuais, o livro de<br />

Krafft Ebing conhece um <strong>en</strong>orme sucesso <strong>en</strong>tre o público leigo, com dezessete edições<br />

publicadas na Alemanha, <strong>en</strong>tre 1886 (ano de sua primeira edição), até 1924, além<br />

de inúmeras traduções. No prefácio da 12ª edição o autor escreve “O seu sucesso<br />

comercial é a melhor prova de que um grande número de pessoas infelizes <strong>en</strong>contra<br />

em suas páginas instrução e alívio nas manifestações frequ<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te tão <strong>en</strong>igmáticas<br />

de sua vida sexual” (Duarte, 1989:84). De fato, Krafft Ebing recebia um grande<br />

número de cartas de pessoas que se id<strong>en</strong>tificavam com os diagnósticos listados em<br />

seu manual. As cartas expressavam a felicidade e o alívio dos que se reconheciam nas<br />

categorias <strong>en</strong>tão descritas, e ofereciam ao psiquiatra-autor histórias de vida a serem<br />

acresc<strong>en</strong>tadas a novas versões do livro (Oosterhuis, 1997). Assim é que uma grande<br />

quantidade de auto-biografias e histórias de caso vão s<strong>en</strong>do paulatinam<strong>en</strong>te incorporadas<br />

ao manual que, em sua primeira edição, tem 110 páginas, cont<strong>en</strong>do 45<br />

histórias de caso. Em 1903, sua 12ª edição conta com 437 páginas e 238 histórias<br />

de caso (Weeks, 1996:67). As cartas recebidas, <strong>en</strong>tretanto, nem sempre expressavam<br />

concordância com os pontos de vista do autor, em especial com sua visão<br />

psicopatológica, s<strong>en</strong>do possível <strong>en</strong>contrar, no livro, relatos de pessoas que afirmavam<br />

serem perfeitam<strong>en</strong>te felizes com sua condição, não se considerando do<strong>en</strong>tes,<br />

muito m<strong>en</strong>os criminosos.<br />

O campo da sexologia e seus efeitos sobre a política sexual – Jane Russo<br />

175

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!