25.04.2013 Views

Sexualidad y Política en América Latina - Sexuality Policy Watch

Sexualidad y Política en América Latina - Sexuality Policy Watch

Sexualidad y Política en América Latina - Sexuality Policy Watch

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

os pert<strong>en</strong>cim<strong>en</strong>tos religiosos dos indivíduos são questões da esfera pública, e não<br />

do domínio privado simplesm<strong>en</strong>te. Em outras palavras, retiramos o tema religião<br />

do local onde o ditado popular sempre lhe coloca: “religião não se discute, é uma<br />

escolha pessoal”. Religião se discute sim, por ser um pert<strong>en</strong>cim<strong>en</strong>to político, com<br />

consequências políticas na vida em sociedade. O pert<strong>en</strong>cim<strong>en</strong>to religioso (a adesão<br />

a certo conjunto de ori<strong>en</strong>tações de uma religião, ou a construção individual de um<br />

conjunto de cr<strong>en</strong>ças de natureza religiosa) produz efeitos na vida em sociedade,<br />

como qualquer outro pert<strong>en</strong>cim<strong>en</strong>to de natureza social, a saber: pert<strong>en</strong>cer a uma<br />

determinada classe social; ser integrante de determinado grupo de raça e etnia; ser<br />

integrante de uma determinada faixa geracional; ser habitante de um determinado<br />

país; ser de um gênero ou de outro; ter esta ou aquela preferência sexual; ser torcedor<br />

de determinado time de futebol; ser membro de algum partido político, etc.<br />

Um indivíduo é posicionado socialm<strong>en</strong>te t<strong>en</strong>do em vista grande número de<br />

atributos, e a religião é um deles, pod<strong>en</strong>do ter um peso maior ou m<strong>en</strong>or, dep<strong>en</strong>d<strong>en</strong>do<br />

da sociedade, do período histórico, e da combinação com outros fatores.<br />

Ou seja, n<strong>en</strong>hum de nós atua em sociedade simplesm<strong>en</strong>te a partir de ser um “indivíduo”.<br />

Existem <strong>en</strong>ormes difer<strong>en</strong>ças para a vida em sociedade, e difer<strong>en</strong>tes consequências<br />

políticas, se estivermos falando de um indivíduo homem, branco, na<br />

faixa dos 40 anos, de classe econômica abastada, casado, heterossexual, católico;<br />

ou se estivermos falando de um indivíduo mulher, negra, na faixa dos 60 anos, de<br />

classe econômica pobre, viúva, heterossexual, de religião de matriz africana. Muitas<br />

outras combinações são possíveis, e o pert<strong>en</strong>cim<strong>en</strong>to religioso t<strong>en</strong>siona de modos<br />

diversos em especial marcadores como gênero, ori<strong>en</strong>tação sexual, geração, cor da<br />

pele, só para citar alguns. Há uma “inevitabilidade” da religião como política, que<br />

se dá pelo fato de que muitas pessoas vão <strong>en</strong>trar na ar<strong>en</strong>a política, ingressar no<br />

espaço público, com sua id<strong>en</strong>tidade religiosa como elem<strong>en</strong>to importante. T<strong>en</strong>tar<br />

barrar isto, alegando que religião é algo do âmbito doméstico, não produz resultados<br />

adequados nem contribui para o alargam<strong>en</strong>to do campo democrático.<br />

Acerca dessa “t<strong>en</strong>tação” de posicionar a religião como algo ess<strong>en</strong>cialm<strong>en</strong>te da<br />

esfera privada, como um assunto que o indivíduo não deveria discutir com outros,<br />

e nem deveria expressar publicam<strong>en</strong>te, “confesso” que eu mesmo já estive como def<strong>en</strong>sor<br />

dessa posição. Por muitos anos, def<strong>en</strong>di que a religião estava no domínio do<br />

privado, quase como uma questão de natureza inteiram<strong>en</strong>te “psíquica”, algo do tipo<br />

“a necessidade que temos de um deus é um problema de cada um”. Não p<strong>en</strong>so mais<br />

assim, mas também não acho que o fato de ter p<strong>en</strong>sado assim antes estivesse “errado”<br />

ou t<strong>en</strong>ha sido um “equívoco”. Atravessamos um longo período histórico <strong>en</strong>tre<br />

meados do século XIX e meados do século XX na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> em que parte importante<br />

dos esforços no s<strong>en</strong>tido de construir espaços públicos democráticos e inclusivos<br />

praticam<strong>en</strong>te exigiu a estratégia de colocar a religião no âmbito do privado.<br />

Com isso, buscou-se a legitimidade política dos governantes na população, pela via<br />

362 Sessão 4 – Religião e política sexual

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!