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Sexualidad y Política en América Latina - Sexuality Policy Watch

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a prostituição s<strong>en</strong>do descrita como uma atividade bem mais lucrativa e até m<strong>en</strong>os<br />

desagradável. É bastante comum ouvir ag<strong>en</strong>tes políticos <strong>en</strong>gajados na luta contra<br />

a prostituição opinar que “a educação e a profissionalização das m<strong>en</strong>inas são a<br />

solução”. Todavia, é mister notar que a tão almejada “profissionalização” teria que<br />

criar uma verdadeira mudança de status socioeconômica: o que a maioria de nossas<br />

informantes lista como condições para largar a profissão é um salário equival<strong>en</strong>te<br />

àquele que ganha na v<strong>en</strong>da dos serviços sexuais. Isto é dificilm<strong>en</strong>te <strong>en</strong>contrado<br />

no mundo dos empregos tradicionalm<strong>en</strong>te femininos. Como várias mulheres nos<br />

informaram: “Não deixo de ser puta para ser caixista de supermercado. Imagina<br />

trabalhar por 50 horas por semana e ganhar um salário mínimo!”.<br />

Na prática, a grande maioria das prostitutas não parece viver muito melhor que<br />

as desprezadas donas de casa e caixistas de supermercado e, de fato, o casam<strong>en</strong>to é<br />

uma das principais saídas da prostituição, de acordo com nossas informantes. Todavia,<br />

muitas mulheres sali<strong>en</strong>tam que as grandes vantag<strong>en</strong>s da prostituição são sua flexibilidade<br />

em termos de jornada de trabalho e (<strong>en</strong>tre as mais jov<strong>en</strong>s) a possibilidade<br />

– remota, mas sempre pres<strong>en</strong>te – de ganhar muito dinheiro com cli<strong>en</strong>tes estáveis e/<br />

ou ricos. É a nossa hipótese, <strong>en</strong>tão, que uma das motivações principais atrás da prostituição<br />

é a ambição e não a estrita necessidade. Entre todos os ofícios tipicam<strong>en</strong>te<br />

femininos no mercado de trabalho da cidade, som<strong>en</strong>te a prostituição e o casam<strong>en</strong>to<br />

oferecem uma chance para alcançar a asc<strong>en</strong>são social e, neste s<strong>en</strong>tido, a prostituição<br />

tem distinta vantagem: não atrela o futuro da mulher a um indivíduo qualquer.<br />

De fato, embora muitas prostitutas já t<strong>en</strong>ham sido casadas ou procurassem se<br />

casar, o casam<strong>en</strong>to em si é quase nunca <strong>en</strong>t<strong>en</strong>dido <strong>en</strong>tre nossas informantes como,<br />

necessariam<strong>en</strong>te, uma saída da prostituição. Em geral, existe uma grande desconfiança<br />

da capacidade do homem sust<strong>en</strong>tar uma mulher. Nas palavras de Wilma 18 , mulher<br />

de 35 anos de idade que trabalha numa boate em Copacabana: “Homem promete<br />

muita coisa, mas geralm<strong>en</strong>te não consegue cumprir suas promessas”.<br />

Pior: quando você casa com um homem, aí sim ele se acha seu dono. O que eu<br />

faço aqui na rua não é nadinha difer<strong>en</strong>te daquilo que fazia em casa, quando era<br />

casada. Ou você acha que trepava com meu marido todos os dias porque morria<br />

de tesão e amores por ele? Não s<strong>en</strong>hor! Era um trabalho, igual a esse aqui. Minto:<br />

era um dever. E você não ganha nada por um dever. Aqui sou paga por aquilo<br />

que faço, pelo m<strong>en</strong>os. Meu marido nunca me pagou. Aliás, era eu que vivia dando<br />

dinheiro para ele.<br />

Mesmo nos casos onde o relacionam<strong>en</strong>to com o marido é mais harmonioso,<br />

porém, existe um reconhecim<strong>en</strong>to do fato de que, no atual mercado de trabalho,<br />

um salário dificilm<strong>en</strong>te sust<strong>en</strong>ta uma família inteira. Como dizia Dara, prostituta<br />

18 Todos os nomes das nossas informantes foram mudados para proteger seu anônimo.<br />

204 Sessão 3 – <strong>Sexualidad</strong>e e economia: visibilidades e vícios

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