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QUARTO DOMINGO APÓS PENTECOSTES<br />
o filho mais velho e não com o mais moço? Por que o pai se humilha<br />
em suas ações?<br />
Os personagens da parábola são “nucleares”. Não se pode apenas<br />
dizer que um representa os gentios e o outro, os fariseus. Eles<br />
representam, antes, os arrependidos e os não-arrependidos. Os seguintes<br />
trechos caracterizam o filho mais moço: ajuntou o que era<br />
seu, partiu para uma terra distante, dissipou seus bens, passou necessidade,<br />
agregou-se a um gentio, cuidou de porcos, queria comer a<br />
comida dos porcos, caiu em si, voltou para seu pai, e, ao pedir perdão,<br />
disse: “Pai, pequei contra o céu e diante de ti, já não sou digno de<br />
ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores”. Do<br />
filho mais velho, no entanto, tem-se o seguinte: estivera no campo,<br />
chamou um servo para saber o que estava acontecendo, indignouse,<br />
não queria entrar, e, ao falar com seu pai, não o chama de pai.<br />
Além disso, disse: “esse teu filho”. Não trata como irmão o mais moço<br />
e nem seu pai como pai. O pai, ao contrário, responde-lhe dizendo<br />
que era preciso comemorar, porque “esse teu irmão” estava morto e<br />
reviveu, estava perdido e foi achado. O que significa para um judeuisraelita<br />
se agregar a um gentio? O que significa também cuidar de<br />
porcos? Existem diferenças entre a situação do filho mais moço e do<br />
mais velho? Quais são e o que elas significam quanto ao relacionamento<br />
com o pai? Por que o filho mais velho não trata seu irmão como<br />
irmão? Por que o pai os trata como irmãos?<br />
Penso que o mais importante nesta parábola sejam as ações do<br />
pai. O pai vê ao longe o filho miserável vindo, corre até ele, abraça-o<br />
na miséria e o beija na miséria. Da miséria para uma festa. As ações<br />
do pai são significativas e precisam ser exploradas. Segundo R. H.<br />
Gundry (1996), o correr era uma maneira incomum e sem dignidade<br />
de se locomover, ainda mais para um idoso, mas o amor e a alegria do<br />
pai ultrapassaram todo o senso de decoro, e o pai corre também para<br />
proteger seu filho; o beijo do pai simboliza o perdão; o vestir do melhor<br />
traje era um sinal de honra (um pequeno detalhe: a melhor roupa<br />
sempre era do senhor da família ou do grupo de famílias, isto é, era o<br />
traje do próprio pai); o anel restaurou a autoridade filial; e as sandálias<br />
expressaram que ele não deveria ser tratado como um servo.<br />
Além disso, um verbo merece destaque – “splanchnizomai”. Verbo<br />
que tem as seguintes acepções: “ter dó”, “ter misericórdia”, “ter simpatia”.<br />
Essas acepções, indubitavelmente, estão ligadas a sentimentos<br />
profundos, que brotam das entranhas, como uma contração<br />
convulsiva. Esse verbo figura em contextos bem específicos (Mt 9.36,<br />
14.14, 15.32, 18.27, 20.34; Mc 1.41, 6.34, 8.2, 9.22; Lc 7.13, 10.33,<br />
15.20), ligando-se a Jesus e a ações de três personagens principais<br />
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